Miriam Esperidião de Araujo

Resumo: A regulamentação da presença do psicólogo na equipe mínima dos Centros de Referência de Assistência Social – CRAS, efetivada em 2005, ampliou o campo de trabalho dessa categoria profissional e suscitou uma série de questões sobre o seu fazer relacionadas: ao lugar a ser ocupado pelo psicólogo nesta política, aos desafios que se apresentaram diante da conexão com outros campos de saber e aos entraves frente ao trabalho com a população, conforme apontado em pesquisas sobre o tema. Considerando o caráter relativamente novo dessa inserção, os debates e pesquisas em torno do tema são essenciais para a facilitação desse processo. Desse modo, a partir dos pressupostos teórico-metodológicos da Psicologia Social Crítica, o presente estudo propõe-se a analisar a atuação de seis psicólogos que compõem as equipes dos CRAS de um município da Grande São Paulo, para discutir a possibilidade de esses profissionais empreenderem uma práxis efetiva nesse contexto. A abordagem adotada para a pesquisa foi a qualitativa, realizada por meio da observação participante e de conversas orientadas por um roteiro semiestruturado. Foi possível compreender que a estrutura de trabalho, na qual os profissionais estão inseridos, constitui-se na precarização dos recursos, na objetificação das relações, no caráter contraditório e inconsistente dos métodos instituídos como meios para atingir os objetivos dessa política, bem como, na preeminência do assistencialismo, da tutela e da responsabilização das pessoas por sua marginalização. Aspectos que, historicamente, marcaram o campo da assistência social. Essas situações geraram sofrimento para os profissionais, diante da descontinuidade do trabalho com as pessoas atendidas e a dúvida sobre a significância do seu trabalho. Este estudo também mostrou que a prática da Psicologia no CRAS volta-se mais para o trabalho com as individualidades do que com as coletividades. Situação atribuída tanto a uma formação profissional que prioriza o ensino da Psicologia clínica tradicional, cuja concepção de homem está desvinculada de seu contexto social, quanto à matricialidade familiar focalizada pela atual política de assistência social. No sentido oposto, foi possível perceber a existência de alguns espaços conquistados como formas de resistência a esse desfuncionamento, como a criação de métodos alternativos e coletivos para o acompanhamento das famílias e de outros que se voltam para a humanização do trabalho, ao lutar por espaços de trocas, horizontalidades, diálogos, e respeito ético e político aos sujeitos. Esses resultados podem contribuir com a reflexão sobre as possibilidades de atuação do psicólogo em um horizonte emancipatório,

Palavras-chave:  Assistência Social; Políticas Públicas; Psicologia Social; Subjetividade; Vulnerabilidade Social

Referência: Araujo, Miriam Esperidião de. (2014). A atuação do psicólogo no CRAS e o enfrentamento da situação de vulnerabilidade social. Dissertação de mestrado, Mestrado em Psicologia Social, Universidade De São Paulo.

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