Rilma Bento

Resumo: Esta tese discute a medida de acolhimento e desacolhimento institucionais e tem como objetivo analisar o que aconteceu na vida de um jovem após dez anos de saída da instituição de acolhimento por maioridade. O sujeito da pesquisa esteve em acolhimento institucional e foi atendido pela pesquisadora no programa de “Recolocação Familiar” nos anos de 2006 e 2007, em um município da região do ABCD paulista. Procurou-se identificar como o jovem se reorganizou uma década após a saída da instituição de acolhimento, mediante decisão judicial, até o momento, analisando a qualidade dos vínculos na sua processualidade, que ele foi construindo com as pessoas no contexto familiar e institucional, nesse período. A coleta de dados foi realizada de forma qualitativa, de tipo longitudinal, por meio do método retrospectivo, que utiliza as narrativas de vida ou entrevista biográfica para reconstruir sequências de acontecimentos na vida dos indivíduos. Foram utilizados os seguintes procedimentos: pesquisa bibliográfica e documental, incluindo leis, portarias, pesquisas e documentos oficiais do poder judiciário, análise do prontuário do sujeito, e entrevistas semiestruturadas, com o sujeito e com pessoas de sua família, na tentativa de englobar a totalidade de sua vida. O estudo é orientado pela teoria da psicologia sócio-histórica, cujo principal teórico é Vigotski e, no Brasil, Lane, tal como são apropriados pelo NEXIN e sua coordenadora, Sawaia. Também compõem o referencial teórico, respeitadas as diferenças epistemológicas, conceitos de Winnicott, que abordam a relação entre o desenvolvimento emocional e o ambiente. A partir do método de investigação proposto por Vigotski, buscou-se unidades de sentido, comuns e individuais. Os resultados obtidos indicam que o tipo de acompanhamento recebido pelo sujeito e sua família, antes, durante e após a saída da instituição de acolhimento, pelo judiciário e pelos equipamentos públicos, foram insuficientes para garantir os princípios do direito à convivência familiar e comunitária, de forma satisfatória. Faltou preparo para a vida pós-saída da instituição, e ao adolescente coube lidar com o desacolhimento e a desproteção. Não houve preparo profissional. Evidencia-se que a trajetória profissional foi favorecida pelo acaso, assim como dificuldade de o sujeito estabelecer vínculos, pois as relações são facilmente desfeitas e não se sustentam por muito tempo, sendo prevalente a sensação de que as pessoas desistem dele. Procura manter a ligação com o espaço territorial ao qual já se sentiu pertencente, orientando-se pela busca de criar, reviver vínculos afetivos, familiares e institucionais. Identificou-se que nem sempre a família é o lugar de trocas afetivas produtoras de potência, de proteção e acolhida de seus membros. Assim, questiona-se a intervenção e pressão do Estado em priorizar a convivência com os membros da família, mesmo quando a mesma não demonstra disponibilidade para tal feito. Esse estudo incita à necessidade de se desvendar artimanhas que possam instituir impedimentos para novas práticas psicossociais voltadas a crianças e adolescentes durante e após o acolhimento institucional

Palavras-Chave: Psicologia Social; Acolhimento e desacolhimento institucional; História de vida; Adolescentes – Assistência em instituições – Brasil; Assistencia social – Politica governamental – Brasil; Afeto (Psicologia)

Referência: Bento, Rilma. (2019). A vida após dez anos do acolhimento institucional: a processualidade dos afetos e vínculos. Tese de doutorado, Doutorado em Psicologia (Psicologia Social), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.

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