Amanda Carollo Ramos da Silva
Resumo: A presente pesquisa teve como objetivo investigar as imagens de si e da prática profissional configuradas no discurso de psicólogos atuantes em Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). O método eleito para a realização do estudo foi a Análise Institucional do Discurso (AID) e os materiais analisados foram produzidos através de um grupo de reflexão, realizado em cinco encontros, com psicólogas e assistentes sociais atuantes em CRAS. A Fundação de Ação Social, gestora da Política de Assistência Social do município de Curitiba/PR, foi coparticipante da pesquisa. Apesar de o foco estar relacionado ao profissional da Psicologia, foram convidadas assistentes sociais para participar do estudo, pois ambas as categorias profissionais têm atuado nas mesmas equipes e espaços. Considerando-se os pressupostos da AID, imaginou-se que o encontro discursivo entre representantes de duas profissões distintas poderia ser uma produtiva oportunidade para se investigar o objetivo proposto, na medida em que o discurso do psicólogo também se afirma enquanto tal em relação ao discurso de outros profissionais. Nos discursos analisados, evidenciou-se que as psicólogas legitimam a subjetividade como objeto da Psicologia, porém, não se sentem autorizadas a trabalhá-la no contexto da Assistência Social, uma vez que a relacionam à prática da psicoterapia e este tipo de atendimento não é previsto no Sistema Único de Assistência Social (SUAS). A imagem que configuram de si é de um técnico da área social, que tenta manter suas supostas especificidades (decorrentes da formação acadêmica), mas que não consegue sustentá-las no processo de atuação. Assim, a prática das participantes, no discurso, se constroe frágil e mal delimitada, sinalizando um conflito entre legitimar e desnaturalizar o fazer e o saber da Psicologia. Chegou-se a essa análise a partir dos movimentos discursivos produzidos entre psicólogas e assistentes sociais, cabendo destacar que eram também objetivos desta pesquisa delinear as imagens produzidas no discurso das assistentes sociais sobre a atuação dos psicólogos e evidenciar as interfaces entre as duas categorias profissionais. Verificou-se, então, que as assistentes sociais corroboram o discurso das psicólogas, identificando como atribuição destas últimas o trabalho com a subjetividade. Entretanto, embora até certo momento tanto as psicólogas, como as assistentes sociais, tenham buscado demarcar as especificidades de sua categoria profissional, o que se evidenciou no decorrer das discussões foi uma aproximação das posições assumidas, a qual se dá numa tensão: ora se veem enquanto profissionais da sua área de formação, ora se veem enquanto agentes da Política. Deste modo, devido às demandas, ambas as categorias profissionais revestem-se de uma identidade de “técnico”, assujeitando-se, assim, à Política – fazem o que tem que ser feito, indo além (ou aquém) daquilo que supõem ser suas formações. As participantes diferenciam a politicagem da Política, esforçam-se para seguir as normativas do SUAS e realizam o trabalho pensando na superação de vulnerabilidades e no empoderamento dos usuários. Consideram, todavia, que fazem mais assistencialismo do que Assistência Social de fato. Algo que chama a atenção reside, pois, no fato de as participantes se colocarem como desempoderadas, vulneráveis e sem autonomia na atuação. Tais características são pertinentes aos usuários da Assistência Social: pessoas que estão em situação de vulnerabilidade e risco. Há, portanto, uma identificação entre profissionais e clientela. Diante dos resultados delineados, torna-se, pois, importante redimensionar o conceito de subjetividade, ampliar a discussão sobre a atuação interdisciplinar e proceder revisões curriculares nos cursos de formação, com vistas a aprofundar o debate sobre as possibilidades do trabalho do psicólogo na Assistência Social.
Palavras-chave: Psicologia social; CRAS; Subjetividade; Empoderamento; Vulnerabilidade social.
Referência: Silva, Amanda Carollo Ramos da (2015). Empoderamentos e vulnerabilidades : uma análise do discurso de psicólogos que atuam em Centros de Referência de Assistência Social. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
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