Eurípedes Costa do Nascimento
Resumo: A errância no contemporâneo se configura como um fenômeno complexo e multifacetado na qual os andarilhos de estrada podem ser tomados como um de seus exemplos mais radicais. Trata-se de indivíduos que percorrem longas distâncias a pé pelas rodovias do país com um saco às costas onde carregam todos os seus pertences, sem destino certo e praticamente esquecidos pelas instituições públicas e filantrópicas de assistência. Essa pesquisa teve como objetivo principal, verificar como que os dirigentes e profissionais dessas instituições assistenciais compreendem a errância dos andarilhos pelas rodovias do país. A pesquisa foi realizada em quatro instituições assistenciais no Estado de São Paulo, sendo duas públicas e duas filantrópicas. Os dados foram coletados através de um roteiro de entrevista semi-estruturado e sistematizados, posteriormente, pela técnica de análise de conteúdo. Os resultados indicaram que a percepção dos dirigentes e profissionais dessas instituições assistenciais em relação aos andarilhos de estrada se estrutura a partir de certos conceitos comuns enraizados no imaginário social da cultura brasileira, tais como: a vagabundagem, a doença mental, a desestrutura familiar e opção de vida. A doença mental aparece enfatizada nos relatos pelo fato de os andarilhos conversarem sozinhos ou por usarem álcool e drogas no cotidiano das estradas enquanto que a vagabundagem está associada a conceitos referentes à marginalidade, criminalidade e passagens pela polícia. No caso da desvinculação familiar, os relatos indicaram que as pressões sócio-econômicas seriam um dos elementos constitutivos para os andarilhos abandonarem a vida sedentária e partirem para errância nas rodovias. Quanto à opção de vida, ela estaria relacionada, segundo alguns dirigentes e profissionais, a uma escolha pessoal dos andarilhos em relação à ordem social estabelecida. Esses dados nos permitem concluir que os dirigentes e profissionais dessas instituições pesquisadas mantêm uma postura de conformidade aos interesses políticos do Estado e uma prática assistencial homogeneizadora em relação aos andarilhos de estrada e demais usuários desses serviços. Tais constatações exigem, além de uma ampliação do debate em torno das políticas públicas de assistência que prioriza apenas as famílias em situação de risco e vulnerabilidade, um posicionamento ético, crítico e reflexivo dos assistentes sociais para que seja possível transformar essas práticas, submissas ao poder do Estado, numa ferramenta capaz de potencializar o novo e o inédito no sentido de favorecer a reinvenção do social com outros significados para a subjetividade e a própria condição humana.
Palavras-chave: Nômades; Políticas públicas; Assistência social; Psicologia social.
Referência: Nascimento, Eurípedes Costa do (2012). Errância no contemporâneo: um estudo sobre a percepção de dirigentes e profissionais de instituições assistenciais em relação a andarilhos de estrada. Tese de doutorado, Doutorado em Psicologia e Sociedade, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Assis.
Disponível aqui