Luane Neves Santos
Resumo: Este trabalho teve por objetivo analisar como a desigualdade social, materializada no contato com populações pobres e vulneráveis socialmente, repercute na profissional psicóloga e em sua atuação no CRAS/SUAS. Utilizou-se como aporte teórico a teoria da subjetividade proposta por González Rey e produções brasileiras sobre a desigualdade social, com ênfase na teoria de Jessé Souza. Optou-se pela metodologia qualitativa para estudo da subjetividade, a partir da perspectiva sócio histórica, uma vez que esta incorpora a dialética entre objetividade e subjetividade, no esforço para articular o sujeito ao seu processo social e histórico. Considerando o envolvimento da pesquisadora com o tema, recorreu-se a análise da implicação enquanto recurso metodológico e mecanismo ético-político para interlocução com a pesquisa. A definição do instrumento seguiu a lógica da dinâmica conversacional, almejando transformar a pesquisa em um espaço de construção de sentido. A coleta de dados ocorreu no ambiente laboral das seis psicólogas participantes, requerendo entre dois e três encontros individuais. As conversas foram estimuladas através de comentários e inserção de temas e reflexões, de modo aberto, ainda que contemplassem quatro eixos norteados: 1) trajetória pessoal e familiar; 2) trajetória profissional; 3) o trabalho na assistência social básica; 4) hipóteses explicativas da desigualdade social. A análise dos dados desenvolveu-se como um processo construtivo-interpretativo, no qual após transcrição das conversações, foram conduzidas várias leituras do material coletado, visando seleção de indicadores, destacados pelo aspecto emocional e simbólico que revelavam. Foram então construídos os núcleos de sentido das configurações subjetivas de cada participante, para posteriormente elaborar as zonas de sentido, articulando elementos das subjetividades individuais e social. As sínteses das vivências singulares foram agrupadas em seis zonas de sentidos: 1) hipóteses explicativas sobre a desigualdade social; 2) enfrentamentos da desigualdade social; 3) a dicotomia social X psicológico; 4) a atuação no CRAS frente à concretude da desigualdade social; 5) o (des)preparo das psicólogas para atuar na assistência social básica; 6) a má fé institucional na assistência social básica. A análise destes dados permitiu perceber que o trabalho na assistência social insere as psicólogas em dinâmicas laborais, nas quais vivenciam posições subjetivas referentes à condição de oprimidas e opressoras, construindo práticas 10 atravessadas por sentidos subjetivos que culpabilizam os usuários por sua condição social e naturalizam o fenômeno da desigualdade social. As participantes apresentaram sentimentos de frustração, impotência, angústia e sofrimento, numa dinâmica que alia compaixão e conformação frente às hipóteses explicativas de uma realidade social com forte estratificação. A visão dicotômica, em que demandas sociais não são vistas em relação com as demandas psicológicas, leva a uma atuação fragmentada, influenciada pelos modos de enfrentamento da desigualdade social. Os resultados indicam a necessidade de reposicionar as práticas para atuar na dimensão subjetiva dos problemas sociais, produzindo novas tecnologias e reflexões sobre o lugar social das técnicas, aliado a um trabalho que oportunize espaços de expressão para os usuários, visualizando potências sem perder de vista os limites impostos pelos determinantes sociais e compreendendo a transformação da realidade social como responsabilidade coletiva e cotidiana.
Palavras-chave: desigualdade social; subjetividade; psicologia social.
Referência: Santos, Luane Neves (2013). O encontro das psicólogas com o “social” no CRAS/SUAS: entre o suposto da igualdade e a concretude da desigualdade. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal da Bahia, Salvador.
Disponível aqui