Valéria dos Santos Fernandes
Resumo: O Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) tem como objetivo a oferta do Serviço de Atendimento Integral a Família (PAIF), que visa a inserção dos usuários e famílias que estão em situação de vulnerabilidade no serviço de Acompanhamento Familiar. Este último consiste em um planejamento de intervenções que permite que a família reflita sobre sua realidade, construa novos projetos de vida e modifique suas relações intra e/ou extrafamiliares. Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS), uma das condições para que as famílias possam ser inseridas neste serviço é que um dos membros possua algum impedimento mental que dificulte sua inserção na sociedade e receba o Benefício de Prestação Continuada (BPC). O MDS também determina que o PAIF não tenha caráter psicoterapêutico. Nesse sentido, a literatura destaca que há um descompasso entre o que é exigido do trabalho do psicólogo pelo MDS e a formação em Psicologia, que prepara os alunos para trabalhos predominantemente clínicos. Esse descompasso dificulta a compreensão do lugar do psicólogo diante da Assistência Social, indicando a necessidade de estudos que possibilitem reflexões acerca do exercício da Psicologia nesse contexto. Sendo assim, o estudo 1 teve como objetivo analisar as percepções de familiares de membros usuários do BPC acerca do Acompanhamento Familiar realizado pelos psicólogos da equipe do PAIF. Já o estudo 2 teve como objetivo investigar a percepção dos psicólogos dos CRAS, que compõem a equipe do PAIF, a respeito do seu trabalho no Acompanhamento Familiar para famílias usuárias do BPC. Trata-se da reunião de dois estudos empíricos, exploratórios e descritivos, com enfoque qualitativo de pesquisa. Em ambos o instrumento utilizado para coleta de dados foi o roteiro de entrevista semiestruturada. Os dados foram organizados em categorias temáticas a partir do método de Análise de Conteúdo, e analisados a partir da literatura específica da área. O estudo 1 contou com a participação de oito familiares de pessoas que recebiam o BPC. Identificou-se, de maneira geral, que os familiares não tinham conhecimento de estarem inseridos no serviço de Acompanhamento Familiar e não tinham ciência do que se tratava esse serviço. Além disso, não desenvolviam a Autonomia e os Projetos de Vida, pois tinham desconhecimento dos seus Direitos Sociais. O desconhecimento acerca desses direitos parece comprometer a qualidade de vida desses familiares, pois dificultava a mudança da situação de vulnerabilidade social. Além disso, foi evidenciada a necessidade de atuação do psicólogo em contextos terapêuticos, para atender as necessidades emocionais dos familiares e o fortalecimento de sua subjetividade. Já a amostra do estudo 2 foi composta por oito psicólogos que atuavam no CRAS há pelo menos um ano. De maneira geral, constatou-se que, ao ingressar no CRAS, os psicólogos sentiam-se despreparados para iniciar seu trabalho, e que aprenderam a trabalhar com a sua própria prática, sem capacitações formais. Os dados evidenciam a necessidade da inclusão, na formação em Psicologia, de disciplinas que visem contribuir para atuação do psicólogo na área de Assistência Social, além da realização de capacitações dos setores responsáveis, a fim de aprimoraram o atendimento oferecido à população.
Palavras-chave: psicologia; acompanhamento familiar; benefício de prestação continuada; famílias.
Referência: Fernandes, Valéria dos Santos (2020). Perspectivas acerca do trabalho psicológico realizado com famílias de membros com transtorno mental no Centro de Referência de Assistência Social. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba.
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