Marilia Meneghetti Bruhn

Resumo: Os encontros com os jovens do Trabalho Educativo (TEd), desde 2015, me afetam pelas diversidades de experiências e de modos de existir das juventudes. O TEd é uma modalidade do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) destinada a jovens de 14 a 18 anos incompletos em situação de vulnerabilidade social. O Trabalho Educativo é um serviço que visa garantir a Proteção Social Básica no Sistema Único de Assistência Social (SUAS), tendo como foco a prevenção de situações de risco social em que há violação de direitos. No TEd são ofertadas atividades em grupo no contraturno da escola que buscam fortalecer a convivência social, a participação cidadã e a formação para o mundo do trabalho. Em encontros com os jovens do Trabalho Educativo, destacaram-se as narrativas que escapavam das prescrições e formatações do Trabalho Educativo. Os relatos dos jovens manifestavam intensidades e modos de experimentar o TEd que fugiam dos discursos homogeneizantes de adolescência. A partir desses encontros, as seguintes indagações emergiram: como pesquisar junto com as jovens do Trabalho Educativo? Como valorizar a produção de conhecimentos de sujeitas subalternizadas nas pesquisas acadêmicas? Como expressar as intensidades e modos de experimentar as juventudes no Trabalho Educativo através de narrativas? Assim, esta dissertação tem como objetivo apostar no PesquisaCOM os jovens – ao invés de SOBRE os jovens – valorizando as narrativas de experiências e saberes de juventudes subalternizadas. Chimamanda Adichie, Chinua Achebe e Maria Paula Menezes alertam para o perigo de uma única história destruir modos de existência, não permitindo que outras vozes sejam ouvidas e reforçando estereótipos de inferioridades. Já a obra de Michel Foucault fundamenta a discussão sobre como os discursos adultocêntricos e Norte-cêntricos sobre adolescência e juventude – presentes no Estatuto da Criança e do Adolescente e no Estatuto da Juventude – naturalizam e universalizam a experiência de ser jovem, contribuindo para estratégias de governamento dessas populações. O conceito de epistemicídio de Sueli Carneiro contribui para a discussão sobre relações raciais que perpassam os encontros com as juventudes do TEd no território da Vila Santa Anita. O percurso metodológico foi alicerçado no PesquisarCOM, proposto por Marcia Moraes, como um processo em que convidamos os jovens a construir as interrogações e as narrativas que compõem essa pesquisa. O PesquisarCOM é construído nos encontros entre saberes não-hierarquizados dos jovens e da pesquisadora. A partir de sugestões das jovens, foram confeccionados cadernos nos quais são narrados com ilustrações e textos as experiências coletivas e singulares das juventudes do TEd. Cada jovem recebeu um caderno no qual podiam escrever, colar ou desenhar o que desejassem sobre a experiência de ser jovem e sobre o Trabalho Educativo. Além dos cadernos particulares, foram criadas narrativas coletivas e algumas narrativas orais foram transcritas para texto. Após a produção dos cadernos e das narrativas, notou-se a importância de escutar e valorizar as experiências e os saberes dos jovens na construção das oficinas do TEd, principalmente o módulo de cidadania, para que o serviço não reproduza lógicas colonizadoras, racistas e epistemicidas.

Palavras-Chave: Juventudes; PesquisarCOM; Trabalho Educativo; SUAS; Perspectiva decolonial

Referência: Bruhn, Marilia Meneghetti. (2019). PesquisarCOM jovens: intensidades e modos de experimentar as juventudes no Trabalho Educativo. Dissertação de mestrado, Mestrado em Psicologia Social e Institucional, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

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