Jusiene Denise Lauermann
Resumo: Na presente dissertação apresenta-se uma análise da visita domiciliária enquanto prática de atenção e intervenção realizada por políticas públicas como a saúde e a assistência social. Para tanto, elaboramos três textos. O primeiro visa descrever e analisar artigos científicos que apresentam pontos de vista das famílias usuárias de Unidades Básicas de Saúde (UBS) sobre a visita domiciliária. O segundo tem como objetivo principal apresentar uma reflexão crítica sobre os saberes e práticas acionados durante a realização dessa prática, tentando demonstrar qual a visão de mundo que a tem permeado, especialmente no campo da psicologia. O terceiro, por sua vez, tem por intuito analisar como os usuários de um Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) têm compreendido as visitas realizadas em suas casas pelos profissionais dessa unidade. Assim, visando atingir os objetivos estabelecidos, realizamos duas revisões integrativas buscando artigos científicos em bases de dados e uma pesquisa de campo que fez uso da roda de conversa e do diário de campo. Iniciamos, portanto, apresentando uma sistematização descritiva e uma análise qualitativa dos artigos encontrados em uma das revisões. Em seguida, buscamos, também através de uma análise qualitativa, observar a cosmovisão predominante na realização da visita domiciliária em artigos que abordam essa prática em interlocução com a psicologia. Nesse momento, tomamos a ética como eixo condutor para uma reflexão crítica. Por fim, apresentamos as informações coletadas durante a pesquisa de campo, demonstrando a compreensão dos usuários de um CRAS sobre a visita domiciliária. Através de uma roda de conversa e da utilização do diário de campo foi possível observar e analisar algumas das representações sociais a respeito dessa prática. A análise de todo o material, tanto das revisões quanto das informações coletadas no campo, foi feita a partir da Teoria das Representações Sociais (TRS) e partindo de uma perspectiva da Psicologia Social Crítica (PSC). Com a análise, compreendemos que as narrativas trazidas pelos artigos mostram que as famílias situam a visita domiciliária como uma atitude de bondade ou de obrigação dos profissionais, movimentando antinomias como bondade/maldade e bom/ruim. Demonstram também que há representações sobre as visitas ligadas à ideia de um encontro entre dois universos, o do senso comum e o da ciência, baseadas em algumas antinomias concebidas a partir de um paradigma positivista e de um modelo biomédico. Já com a análise dos dados do campo, concluímos que os profissionais, guiados por ideias de prevenção, promoção e proteção, podem estar reforçando violências institucionais mascaradas por uma concepção de cuidado. Trata-se da linha tênue que, diariamente, perpassa a prática nesse campo de atuação: a proximidade estreita entre cuidado e controle, autonomia e tutela, respeito à privacidade e uma postura permissiva. A atenção, reflexão e cuidado no campo da assistência social, em especial na prática da visita domiciliária, nem sempre estão presentes. Muitas vezes, há uma preocupação com a mudança ou abandono de algum comportamento que impede uma escuta atenta ou um reconhecimento do Outro.
Palavras-chave: psicologia social crítica; psicologia social da saúde; teoria das representações sociais; ética; política da assistência social; CRAS; visita domiciliária.
Referência: Lauermann, Jusiene Denise (2015). Sentidos e significados atribuídos às visitas domiciliárias realizadas pelo CRAS. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.
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