“Amour” é uma genuína história de amor

O filme austríaco Amour, de Michael  Haneke, destacou-se  internacionalmente por sua sensibilidade e intensidade ao tratar de um tema bastante delicado: lidar com uma doença degenarativa na família. A obra, que conta a história de Georges e Anne, um casal idoso de ex-professores de música que enfrenta a lenta deterioração física e mental da mulher, rendeu à produção a Palma de Ouro em 2012 e o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013.

O trágico desfecho em que Georges, após muito tempo vendo sua mulher definhar e dar indícios de que já não queria viver daquela maneira, a mata com um travesseiro inesperada e violentamente, levantou a questão de em que medida o filme é realmente sobre amor e, além disso, que amor é este.

Para a a psicóloga e Profa. Dra. do IPUSP, Maria Júlia Kovács, que coordena o Laboratório de Estudos sobre a Morte,  Amour fala de um amor legítimo. “É um amor construído sobre uma história de muitos anos de relacionamento, de muita proximidade entre eles”, diz Kovács.

Ela defende que Georges amava muito Anne, mas se colocou em uma situação muito difícil ao escolher tomar conta dela sozinho, sem auxílio profissional e afastando até a filha do casal dos cuidados e decisões. “Ele tem um modo de cuidar masculino, afirma a professora, que continua: “Mas ele cuida, na hora que ele vai dar comida na boca, na hora do banho”. A pressão e o desgaste ao tratar de sua parceira levaram Georges, segundo Kovács, a um colapso emocional: “É muito difícil ver uma pessoa próxima ir se deteriorando…  Ela ficou completamente dependente, então era muito difícil para ela e para ele”.

Ainda de acordo com Maria Júlia, somam-se a isso os indícios os quais Anne dá, ao longo do filme, de que quer pôr fim à sua vida, e o ato final de Georges toma forma de solidariedade e bondade, implicando um imenso sacrifício pessoal. O que não significa necessariamente que foi algo planejado. A grande questão do filme, segundo ela, foi o modo como Georges “libertou” a esposa de seu sofrimento. “Eu achei a forma muito brutal”, considera a professora, finalizando: “Não o fato de ele ajudá-la a morrer, mas a forma como ele escolheu – foi muito violenta”.

Por Fernando Magarian
Edição e revisão por Islaine Maciel e Maria Isabel da Silva Leme

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Alfabetização – 2015, n. 1

É hora de falar sobre Gênero – 2016, n.2/3

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