Estudo de transtornos psiquiátricos é facilitado com seleção de filmes

Por Giovana Christ, Agência USP de Notícias, 14/5/2018

Montagem com personagens de alguns filmes que foram analisados. Imagem: Giovana Christ

Um banco de dados está sendo estruturado com a finalidade de auxiliar os estudantes da área de saúde a identificarem transtornos de personalidade e poderem lidar melhor com os pacientes em suas futuras profissões. Usando como material filmes brasileiros e estrangeiros, os estudantes poderão aprender de uma forma mais dinâmica e visual sobre casos que encontrarão na clínica.

A ideia surgiu da pesquisadora Tabata Galindo Honorato juntamente com o seu orientador, o professor Francisco Lotufo Neto. A pesquisa realizada no Instituto de Psicologia (IP) da USP vai analisar, até sua conclusão, 133 filmes ganhadores do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e do Oscar de 2001 a 2015, identificando se neles existem personagens com transtorno de personalidade.

O mais surpreendente dos resultados que estão sendo adquiridos é que mesmo quando os roteiristas não baseiam as características dos seus personagens — o que se configura um obstáculo para a pesquisa — pensando no transtorno de personalidade, eles apresentam inúmeros identificadores que podem fechar um diagnóstico. “Daí a dificuldade do projeto, porque nós tentamos buscar cenas que façam sentido dentro de um transtorno, mas o filme é voltado para o lazer, e não para isso”, disse Honorato.

O transtorno de personalidade é classificado em três grandes grupos de pacientes. O grupo A, engloba os que têm comportamentos bizarros: como isolamento severo, falta de laços pessoais, crença extrema em ocultismo e religiões ou intensa desconfiança das pessoas. O grupo B, compreende os pacientes com comportamento antissocial, histriônico — definido por Honorato como um comportamento sedutor, dramático, pessoas com expressão emocional exagerada, que consideram as relações pessoais mais íntimas do que na realidade são — narcisista ou borderline — transtorno caracterizado por comportamentos instáveis. Por fim, o grupo C inclui pessoas extremamente dependentes de outras, esquivas ou com personalidade obsessiva-compulsiva.

Como muitos transtornos são classificados pelos manuais diagnósticos mais importantes sobre saúde mental — o de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10) e o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM 5) — é difícil para os estudantes da área da saúde compreenderem e memorizarem todos com facilidade. Os filmes podem auxiliar nesse processo por criarem uma imagem mental e ligada com personagens dos sintomas desses distúrbios. “A ideia, no fim, é mantermos somente as cenas com maior pontuação, porque tem que ser realista, parecido com o que temos na clínica, mas também tem que ter potencial para o ensino”, disse Honorato.

Durante as investigações, pode-se perceber um predomínio das representações dos sintomas de pacientes do grupo B. “Uma maioria gritante dos pacientes com transtorno de personalidade antissocial são conhecidos no senso comum como psicopatas”. Porém, o termo psicopata é utilizado apenas na psiquiatria forense e no meio judiciário. A hipótese para a maior abordagem dessa classificação de transtorno de personalidade é o fascínio da indústria do cinema pelos psicopatas. “Existe uma valorização de atitudes ilegais no cinema como um todo”, segundo Honorato.

Nesse gráfico, são mostrados os critérios encontrados nos personagens, mesmo sem diagnóstico fechado. No eixo X estão os critérios diagnósticos, de acordo com cada transtorno e no eixo Y a porcentagem de personagens. Fonte: Tabata Galindo Honorato

O projeto deve continuar com a aplicação desse banco de dados nas salas de aula da graduação e pós-graduação para mais resultados serem examinados e comprovados.

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