Internet pode estreitar relação entre avós e netos

Testes mostraram que os hábitos da família determinam influência da tecnologia

Por Pietra Carvalho – Agência Universitária de Notícias

Os avós mantém seu papel de “mentores” diante dos netos, segundo conclusões do Instituto de Psicologia (Reprodução/Exame)

O avanço da tecnologia é por vezes colocado como um fator de distanciamento entre gerações. A pesquisadora Beatriz Rall Daró, do Instituto de Psicologia, em sua dissertação de mestrado A influência da tecnologia da informação e da comunicação sobre o vínculo avós e netos, na contemporaneidade: uma contribuição da psicanálise vincular, explora o possível choque entre familiares com o intermédio de aparelhos como o celular.

Iniciando o estudo inclinada a encontrar certo resultado, Beatriz diz ter quebrado preconceitos enquanto avançava. Seu método foi qualitativo. Em entrevistas parcialmente dirigidas, quatro duplas de avós e netos adolescentes foram postos em teste. Dos participantes era exigido algum contato mútuo através das redes sociais.

Cada dupla fazia um uso particular da tecnologia, com alguns fatores em comum: os idosos nutriam certa desconfiança em relação a comunicação online, o que gerava a chamada “inversão geracional”, em que os mais jovens transmitem conhecimento para os mais velhos.

Essa aproximação de costumes se manifesta de maneira diferente quando o assunto é a vida real. No que Beatriz chama de “efeito paradoxal”, mesmo que representem uma aproximação diante da distância física, as ferramentas tecnológicas são via de afastamento pessoalmente, principalmente para os netos, mais centrados em seu mundo virtual.

Mas isso não quer dizer que eles ignorem a importância de seus avós. Se por vezes a internet é colocada como centro de saber, o estudo mostra que os mais jovens continuam a encarar seus avós como fontes de conhecimento. Ou seja, a presença da tecnologia não compromete o lugar tradicional de uma geração na vida da outra.

A temática abordada faz parte dos interesses pessoais de Daró. No fim de sua graduação em psicologia na Universidade Estadual de Londrina (UEL), a mestre teve contato com a vertente da psicanálise vincular, que aborda as relações humanas.

Foi então que ela decidiu estudar o que, para ela, abriria um abismo em uma relação outrora tão próxima, se surpreendendo ao descobrir que a tecnologia também pode servir de auxílio.

Apesar dos padrões e das quebras de expectativa, a pesquisadora também concluiu que a relação das duplas com o uso da internet, e sua forma de expressão através dela, são apenas o reflexo do comportamento familiar e de sua estruturação, e não o contrário.

Núcleos menores tinham uma relação mais desconfiada, entre si e com o entendimento dos benefícios da tecnologia, por se mostrarem mais fechadas.

Daró considera que sua pesquisa abriu mais possibilidades do que levou a fechamentos. Tentando enumerar suas lições, ela menciona o fato de que a tecnologia não se impunha no formato das relações e o fato de que tanto o narcisismo característico dessa nova era, quanto as relações hierarquizadas tradicionais, tem seu lado obscuro. E que a junção das duas facetas pode ajudar a anular esses problemas ligados a poder e percepção pessoal.

Publicado originalmente em: Agência Universitária de Notícias

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