Letalidade da PM de São Paulo é analisada em pesquisa do Instituto de Psicologia

Na tese de doutorado O policial que mata: um estudo sobre a letalidade praticada por policiais militares do Estado de São Paulo, o pesquisador Adilson Paes de Souza teve como um dos principais objetivos refletir sobre as determinantes presentes no fenômeno da letalidade policial na Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP). Afinal, como ele pontuou, somente neste primeiro semestre de 2020, foram 498 pessoas mortas pela PM. “Veja que em 2018, durante todo aquele ano, o número de mortos chegou a 851 e, no ano passado, 845”, citou Paes de Souza na entrevista aos Novos Cientistas desta quinta-feira (8). “Vale lembrar que neste primeiro semestre de 2020 tivemos uma situação de pandemia”, analisou o pesquisador.

E dentre as possíveis causas que levam um policial militar a matar, Paes de Souza citou, por exemplo, o ápice da militarização da corporação, que aconteceu durante o período da ditadura militar. “Tivemos uma redemocratização no País e isso não foi desfeito”, relatou ele. Além disso, há também outros motivos, como os treinamentos dos jovens PMs que o pesquisador descreve como desumanos. “Há violências de ordem física e psicológica durante essa formação que treina o futuro soldado para ser um ‘guerreiro’. E todo guerreiro precisa de um inimigo”, disse Paes de Souza. Assim, como descreveu o pesquisador, as estatísticas mostram que os “inimigos” são os pretos, os pobres e os moradores das periferias.

O estudo de Paes de Souza aponta, entre outras sugestões, a desmilitarização da corporação e mudanças de mecanismos legais e no processo educacional. “Mas nada disso acontecerá se não houver transparência em todos os processos”, pontuou. Como fontes de pesquisa há duas entrevistas semiestruturadas realizadas com policiais militares da PMESP, nove relatos de policiais, publicados em outros trabalhos de pesquisa, além do relato autobiográfico do autor, enquanto oficial da PMESP.

 

Por Jornal da USP