Novo artigo: Ferenczi’s variations on the death drive

Gostaríamos de compartilhar a publicação no American Journal of Psychoanalysis do artigo “Ferenczi’s variations on the death drive”, de Eugênio dal Molin, Nelson Coelho Junior e Renata Cromberg.

O termo “variações” é extraído pelos autores do campo musical, onde uma variação é uma apresentação de um mesmo tema (seção da melodia) com uma mudança estrutural que o faz parecer novo. Ou seja, o artigo se propõe a identificar três formas diferentes de como o conceito de pulsão de morte aparece na obra de Ferenczi, com “diferentes níveis de complexidade e conectando, com maior ou menor sucesso, as ideias que orbitam a noção de pulsão de morte” (p. 2, tradução nossa). Essa forma de análise permite a consideração comparativa de diferentes arranjos, pensando simultaneamente aproximações e diferenças entre abordagens de um um mesmo problema teórico ou clínico, enriquecendo a análise histórica do conceito.

Através da identificação de três variações, os autores destacam um percurso que parte da pulsão de morte ligada a ideias de quietude sem desejo, regressão e onipotência para uma conceituação mais ligada ao traumático, a um reconhecimento do desprazer imposto pelo mundo externo, fora de controle do indivíduo, e uma auto-destruição do Eu de função adaptativa, conciliadora com esse meio. Na variação final, Ferenczi oscila entre uma nova nomeação para o dualismo pulsional (pulsões de auto-afirmação e pulsões de conciliação) ou uma rejeição da categoria de pulsão de morte.

Essa dimensão adaptativa remete a conceitualização da matriz ferencziana de adoecimento psíquico proposta por Figueiredo e Coelho Junior (2018), como uma defesa paradoxal, por passivação.

A progressão das variações de Ferenczi na direção de uma valorização do papel do ambiente aponta para uma dinâmica que não poderia ser reduzida a tensões intrapsíquicas, mas que coloca o conflito primário entre um psiquismo ainda pouco constituído e “tudo que não está em completo acordo com ele ou que não serve como escudo protetor contra estímulo” (p. 15, tradução nossa). O papel do outro, como protetor ou perturbador, ganha saliência.

Os autores concluem com uma apreciação do percurso conceitual de Ferenczi, que não cessa de retomar e reelaborar o tema, apontando com suas variações o interesse que essa questão suscita no pensador.

A primeira variação que discutimos nesse texto foi desenvolvida em separado e publicada em português em 2019, mas o artigo completo, com as três variações, só foi publicado agora. Segue o link: https://doi.org/10.1057/s11231-023-09407-9.

 

Por: Amanda Watson Martins, para PPGPSE, 31/05/2023