O lado desconhecido do bairro da liberdade

No imaginário do paulistano comum, o bairro permanece sendo uma marca da imigração japonesa no Brasil

Quem passeia pelo bairro da Liberdade, em São Paulo, muitas vezes não imagina as transformações pelas quais ele já passou e continua passando. No imaginário do paulistano comum, o bairro permanece sendo uma marca da imigração japonesa no Brasil. No entanto, Danilo Ide, pesquisador do IPUSP, mostra em seudoutorado que, para seus moradores, o bairro não é apenas isso.

Ide explica que a decoração oriental da Liberdade que se conhece hoje foi inaugurada em 1974 como parte de um projeto de revitalização do bairro. Mesmo com a chegada de taiwaneses e coreanos a partir de 1960, a identidade visual da Liberdade sempre se manteve predominantemente japonesa. Ide observa,  ainda, que para se tomar as medidas que alteraram a configuração do bairro, este nunca foi considerado como lugar de morada, mas sim de comércio ou de passagem. Por isso, ele optou por colocar os moradores no centro de sua pesquisa, buscando assim encontrar uma outra compreensão.

O pesquisador reuniu sete moradores voluntários (uma brasileira, três japoneses e três chineses). A filmagem foi escolhida por ser uma boa maneira de representar o foco visual que a pesquisa buscava. Analisando os vídeos, Ide constata algumas semelhanças entre eles, como o teor das conversas. Falava-se dos estabelecimentos do bairro, e o que se comentava deles era apenas se eram baratos ou caros.

Ide também percebeu que os participantes davam muito mais importância ao sabor dos alimentos encontrados nos restaurantes do que ao apelo visual do bairro. Ele aponta essa diferença entre o turista e o morador do local: enquanto o primeiro trata o bairro com a distância da visão, o segundo o aprecia com a intimidade do paladar. Por fim, Ide conclui que da mesma maneira que a imigração japonesa modificou a Liberdade, que antes abrigava italianos, o fluxo boliviano atual no bairro possivelmente chegue a alterá-lo no futuro. Portanto, é necessário compreender a paisagem ainda em processo de formação, ou seja: é preciso considerá-la viva.–

Pesquisa de Danilo Ide – clique aqui.

Por Ana Carla Bermúdez
Edição e revisão por Islaine Maciel e Maria Isabel da Silva Leme

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Alfabetização – 2015, n. 1

É hora de falar sobre Gênero – 2016, n.2/3

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