Rede “Não Cala” organiza evento de apoio à reabertura da Creche Oeste que contou com a participação de professoras do IPUSP

Em apoio à manutenção da Creche Oeste na USP, a Rede “Não Cala” promoveu, no dia 18 de maio de 2017, o primeiro seminário “Creche Oeste a Educação Infantil”. Os temas procuraram explorar a relevância da educação infantil e a memória da Creche Oeste.

Além dos debates, a programação do evento contou com um almoço de confraternização, a comemoração de aniversário da “Rede não Cala”, e uma pizzada musical no final. O intuito da organização era de que o clima das atividades fosse de festividade e união.

Comemoração de aniversário da Rede não cala. (Foto: Organizadores do evento)

Desde 2015, há um embate entre a reitoria e os professores e pais para que haja a abertura de novas vagas para as creches, e, após uma votação do orçamento no conselho universitário de novembro do ano passado, uma emenda foi aprovada para que as vagas ociosas das creches fossem ocupadas. Porém, em janeiro deste ano, foi divulgada a notícia de que as crianças e funcionários da creche oeste seriam transferidas para a creche central e que o prédio seria desmontado. Em uma rápida articulação, os pais e funcionários se organizaram ocupando o prédio para que o desmonte fosse impedido, e a situação permanece a mesma até este mês.

Assim, o evento buscou discutir a situação atual da creche oeste, a importância da educação infantil na USP e no Brasil, além de atrair apoiadores para a ocupação e achar novas formas de se manter.

No seminário, a primeira mesa, “Dimensões da Educação Infantil: desenvolvimento, direitos e políticas”, contou com a participação da professora Fraulein Vidigal de Paula, do IPUSP, e as docentes Lisete Arelaro e Maria Letícia Barros, ambas da Faculdade de Educação (FE-USP).

De início, as representantes da “’Rede não cala” esclareceram o motivo do apoio à Ocupação da Creche Oeste e a elaboração dessas atividades. As professoras pontuaram que defender o direito de um estudo de qualidade para as crianças também faz parte do trabalho de defender o direito das mulheres, pois oferecer um lugar seguro aos seus filhos enquanto  suas mães estudam ou trabalham é uma das maneiras de combater a violência de gênero.

As professoras Lizete e Letícia esclareceram como a visão de que a criança é um ser “pensante” e que deve ser ouvida e levada em conta como um cidadão é uma descoberta nova. Ambas defendem que muitos dos trabalhos que levaram à evolução desse pensamento surgiram nas creches. Lizete conta que os municípios de Santos e Campinas seguiram o exemplo das creches da USP nos anos 90 para fundarem os seus próprios projetos nessa área, mostrando como a rede de creches uspiana sempre foi uma pioneira e um exemplo a ser seguido por diversas outras universidades.

“Para nós a ocupação é importante, no sentido de preservarmos esse espaço. E brigarmos pela reativação da Creche Oeste, porque ela faz muita falta. É uma perda para nós que trabalhamos com educação infantil. E não só para nós da faculdade de educação, mas para as pessoas que trabalham com educação infantil no Brasil inteiro”, disse Lizete.

Em relação ao local, Fraulein esclareceu como o espaço se torna um grande influenciador do desenvolvimento psicológico da criança. “Uma pessoa quando está se desenvolvendo o faz sobre diferentes aspectos. E especialmente nesse espaço temporal de 0 a 6 anos, marcos essenciais para sua constituição vão acontecer. E o espaço físico e relacional em que isso acontece faz toda a diferença”, disse a professora, defendendo a visão de que a creche deve ser mantida por ser um exemplo já comprovado de ambiente positivo às crianças. “Ela [a creche] é um modelo a ser observado e seguido (…) Em nada a Creche Oeste é estranha aos objetivos mais fundamentais desta universidade”

Segunda mesa de debate do dia (Fotos: Organizadores do evento)

Após o debate ser aberto entre os ouvintes e integrantes da mesa, ocorreu a comemoração do aniversário da “Rede não cala” juntamente com um café. Posteriormente se iniciou a segunda mesa do dia “Creche Oeste, Histórias e Memórias”. Essa atividade contou com um número grande de integrantes. Cada um procurou trazer memórias da história da creche, e o tom da conversa foi de muita alegria, emoção e saudade.

Um dos membros da banca, o professor da ECA Edmir Perrotti lembrou os projetos que realizou em conjunto com a Creche Oeste. A pedido da UFMG, o docente foi encarregado de criar a cartilha Literatura na Educação Infantil, voltada aos educadores de educação infantil, para que o MEC fizesse uma distribuição nacional: “a base de todo o material foi tirada das experiências vividas nas creches da USP”, relata.

“Portanto o trabalho feito [na Creche Oeste] não ficou apenas aqui, coisa que já seria em si mesmo valiosíssima, mas a força do que aconteceu foi se expandindo para outros locais (…) Esse projeto permitiu a construção de um conhecimento sobre premissas que nos viabilizaram a sistematização de uma metodologia de trabalho, que rompia essa divisão entre ensino, pesquisa e extensão dentro da universidade. Ou seja, a ação que foi feita dentro da creche não era um serviço da reitoria simplesmente para um grupo determinado, mas na verdade era uma ação da universidade que quebrava esses departamentos (…), e que, ao quebrar essa fragmentação, foi capaz de oferecer alternativas para a educação de crianças de 0 a 6 anos nos país, tornando-a reconhecida como é hoje”, enfatizou Edmir.

A professora do Instituto de Psicologia Marie-Claire Sekkel, que foi diretora da creche entre os anos de 1992 – 2005, relembrou o projeto “Oficina de Informação: conhecimento e cultura na Educação”, realizado na Creche Oeste pelo prof. Perrotti. O objetivo do programa era de educar as crianças a lidar com os materiais e livros da creche através de atividades criativas, e também ensinar os funcionários a formar relações saudáveis e de confiança entre si e com as crianças.

O prof. Ramiro, outro participante da mesa, lembrou que os fundamentos aprendidos na “Oficina de Informação” hoje são parte da essência da Creche Oeste, espalhando-se para as outras creches da rede. “Eu tirei para mim uma regra importante de que confiança gera confiança (…) que é uma das coisas mais importantes que eu aprendi aqui e que transformou (…) as minhas relações, na gestão da creche e na confiança com todos os educadores. Isso fez toda a diferença em relação à qualidade do trabalho que desenvolvemos aqui”, afirma a profa. Marie-Claire.

Segunda mesa do evento (Fotos: Organizadores do Evento)

Emocionado, o professor Ramiro Malaquias apresentou fotos de novas atividades que vinha desenvolvendo na creche inspirado na “Oficina de Informação”. O docente iniciou um projeto de rodas de fogueiras e contações de histórias com as crianças da creche, em que elas se envolviam desde o processo inicial de montar a fogueira a ouvir as diversas histórias propostas.

Ficou claro que o objetivo de todos os professores e envolvidos ao organizar esse seminário era de enfatizar a importância da Creche Oeste tanto na parte social, como na parte de pesquisa. E que eles planejam ficar e lutar pelo que consideram essencial à educação infantil na universidade e no país.

Com a suspensão da reintegração de posse feita pela reitoria, um segundo processo em trânsito foi aberto pelos pais e professores contra a Universidade e a situação do prédio da Creche Oeste ainda é incerta. Porém, a ocupação já conta com quatro meses e não dá à comunidade sinais de que irá cessar “Estamos aqui desde então numa perspectiva de manter o prédio montado como uma creche. E pedir a volta da Creche Oeste”, disse Elizabete Franco, mediadora da primeira mesa. A ocupação espera atrair mais apoiadores com seminários desse tipo, tornando a permanência viável.

Por Mariana Navarro
Edição: Islaine Maciel

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