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Índice de Massa Corporal como principal fator de risco para Linfedema grave relacionado ao câncer de mama

       O linfedema nos braços foi relatado como um resultado tardio relacionado ao câncer de mama e é a complicação mais frequente que influencia diretamente na qualidade de vida das pacientes.

      Atualmente o tratamento padrão tem sido aquele nomeado de “terapia descongestiva complexa”, apoiado pela Sociedade Internacional de Linfologia, e que envolve um programa de tratamento de duas fases: tratamento intensivo e de manutenção. O tratamento intensivo permite redução do volume do linfedema e inclui quatro componentes: drenagem linfática manual, cuidados com a pele e unhas, bandagem de compressão (“enfaixamento”) e exercícios terapêuticos.

       Alguns estudos analisaram a incidência do linfedema após o câncer de mama. Foram identificados fatores relacionados ao início do linfedema: fatores cirúrgicos, como dissecção de linfonodos axilares e a mastectomia. Além disso, a radioterapia também se apresenta como um fator de risco para o linfedema. Já a reconstrução mamária imediata, por implante, foi identificada com potencial para reduzir o risco do linfedema.

  Pensando nos tratamentos sistêmicos, pacientes que receberam quimioterapia à base de taxano, após o procedimento cirúrgico, apresentam cerca de três vezes mais chances de desenvolverem o linfedema em comparação às que não receberam quimioterapia.

       Há também um estudo recente que aponta o uso da terapia hormonal com evidências para a incidência do linfedema.

      Independente dos tratamentos relacionados ao câncer de mama, a infecção cutânea e a infecção ou inflamação do braço foram também fatores potenciais para o linfedema. Pacientes obesos também apresentam risco quando comparados a pacientes não obesos. Alterações significativas tanto para o ganho quanto para a perda de peso no pós-operatório também foram associadas a um risco de linfedema em casos de mulheres com câncer de mama.

       Esses dados mostram que os tratamentos relacionados ao câncer de mama e a obesidade são fatores de risco para o linfedema, porém não analisam a gravidade dessa complicação.

    Neste estudo que trazemos, o foco principal foi analisar os fatores que levaram ao linfedema grave em pessoas com câncer de mama.

Mas afinal, o que é linfedema?

      Segundo a Sociedade Internacional de Linfologia – ISL, linfedema se trata de uma diferença de mais de 2cm na circunferência entre o membro afetado e o não afetado.

    Os dados clínicos coletados foram: idade, peso, altura, índice de massa corporal (IMC) (kg / m2), mudanças constante no peso e atraso entre a cirurgia e o início do linfedema, doença cardiovascular, doença oclusiva da artéria, trombose venosa profunda, erisipela e distúrbios osteoarticulares do membro superior. Além disso, levou em consideração os tratamentos sistêmicos realizados, medicamentos administrados e radioterapia.

       O linfedema foi considerado grave na maioria dos casos. Os lugares mais frequentes foram antebraço, braço, mão e dedos. Os pacientes apresentavam síndrome da rede axilar (os chamados “cordões fibrosos”) e relataram sensação de peso, dor e dificuldade nos movimentos dos membros afetados.

     Os pacientes que apresentavam linfedema foram tratados com terapia descongestiva completa e autocuidado. Na fase de manutenção todos usaram a compressão do membro através de enfaixamento e também praticaram atividade física no tratamento para o linfedema.

      Os resultados destacam que nem as características do tumor e nem os tratamentos relacionados ao câncer estão associados à gravidade do linfedema relacionado ao câncer de mama. Apenas o IMC aparece relacionado ao linfedema grave. De acordo com as diretrizes da American Cancer Society, manter o peso normal através de um estilo de vida ativo e saudável faz parte do tratamento do linfedema grave relacionado ao câncer de mama. Os resultados do estudo mostram a importância da atenção à educação promovendo um estilo de vida saudável, com alimentação balanceada e atividade física.

      O ganho de peso após a cirurgia foi o fator mais importante para o desenvolvimento do linfedema grave em pacientes obesos, em comparação com pacientes com peso normal e excesso de peso.

          As mudanças de peso no pós-operatório  também resultaram em um risco maior de linfedema. Entretanto, o ganho de peso não foi significativamente associado à gravidade do linfedema, nessa população estudada.

       O linfedema é uma complicação crônica que afeta negativamente a imagem corporal e a qualidade de vida dos pacientes após o câncer de mama. Sintomas como peso e complicações como limitações na movimentação, foram encontrados em alguns pacientes. Apenas 11,8% deles apresentaram erisipela (infecção na pele causada por uma bactéria) e 16,4% apresentaram dor, o que pode indicar a morbidade do linfedema. Em outros estudos, sintomas como lesões nos ossos e articulações, ou complicações infecciosas foram mais frequentes, em torno de 30% e 40%.

            Logo, é importante uma unidade de educação  para ajudar a diminuição dessas complicações, promovendo orientações para evitar inflamação ou infecção na pele, recomendações nutricionais, atividade física e terapia de compressão, permitindo melhor controle linfático.

      Por fim, concluímos que o excesso de peso pode ter relação com a gravidade do linfedema de braço associado ao câncer de mama, sem pensar nas influências do tipo de tumor ou tratamentos realizados. Sendo assim, o controle de peso e a prática de atividade física podem impedir a ocorrência de linfedema grave. Desse modo, a manutenção do peso para pacientes com sobrepeso ou obesidade é recomendado pela American Cancer Society a fim de prevenir o linfedema nos braços.

Referência:
Leray H. et al. Body Mass Index as a Major Risk Factor for Severe Breast Cancer-Related Lymphedema Publicado online em 13 de Abril de 2020. Lymphat Res Biol. 2020; doi:10.1089/lrb.2019.0009


Trabalho relizado pelas alunas: Letícia Martins Gaspar, Sophia Formaggio Sanchez e Nathalia Luiza Matias Leite.

Colaboradoras: Emily Mills, Bárbara Motta P. Valente, Patricia Mikawa, Pamela Roder, Mayumi Leticia Hojo e Karina Sumi Fujito.

 

Orientadoras:

Enfermeira Maria Antonieta Spinoso Prado

Profa. Dra. Marislei Sanches Panobianco

Profa. Dra. Thais de Oliveira Gozzo

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