Professora Thaís Brianezi, professora do Departamento de Comunicação e Artes da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (CCA/ECA/USP), conversa com a BALBÚRDIA sobre seu trabalho com a educomunicação.
Professora Thaís Brianezi possui graduação em Jornalismo pela Universidade de São Paulo (2001), mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas - Ufam (2007) e doutorado em Ciência Ambiental também pela USP (2013). É professora do Departamento de Comunicação e Artes da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (CCA/ECA/USP), atuando na graduação (principalmente, mas não só, na Licenciatura em Educomunicação) e na pós-graduação (credenciada no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação - PPGCOM/ECA/USP). É pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) e do Laboratório de Inovação, Desenvolvimento e Pesquisa em Educomunicação (Labidecom). Entre outras atividades, atualmente coordena, ao lado do professor Ismar Soares de Oliveira, o projeto Fapesp "Como a educomunicação pode ampliar e qualificar as práticas de educação climática na educação básica no Brasil?".
Bate-bola da BALBÚRDIA
Um livro:
Banzeiro ÒKÒTÓ: Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo, é da Eliane Brum.
Um educador ambiental:
bell hooks.
Uma inspiração:
Paulo Freire.
Uma memória como educadora:
Fazer um jogo que se chama Mural do Clima com moradores de rua na prefeitura de São Paulo.
Maior conquista?
Continuar acreditando no fazer coletivo.
Um sonho?
Ver o Rio Tietê limpo e poder nadar nele.
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Por Daiane M. de Barros, Lívia Dantas, Rodrigo Mota, Rodrigo C. Freitas e Sofia V. S. Ratz.
BALBÚRDIA: A gente queria agradecer imensamente por você ceder esse tempo para nós e conceder esse momento.
Thaís Brianezi: Parabéns pela revista. Prazer conversar com vocês. É uma alegria ter sido convidada para participar por meio da entrevista nesta oitava edição, que bacana que o tema é Educação Ambiental.
BALBÚRDIA: A gente gostaria que você compartilhasse sobre suas inquietações e motivações que lhe instigaram e instigam a se envolver com as questões ambientais.
Thaís Brianezi: Eu nasci em Mato Grosso do Sul - Dourados, porque minha mãe, desde antes de eu nascer, trabalha com o movimento indígena, em especial com professores e professoras indígenas e o povo Guarani. E fui criada no Amazonas, pela minha vivência, o socioambiental, nunca se separaram, né? Território, natureza e pessoas. Pela minha vivência, sempre percebi que a exploração das pessoas está ligada àquilo que a gente chama de natureza; a exploração da natureza. E que, por outro lado, se a exploração é conjunta, a luta tem que ser conjunta. A gente não garante direitos humanos se não garantir que hoje a gente chama de direitos da natureza. Assim, em termos de inquietações e mobilizações é possível perceber que a causa do problema é integrada. O que eu estou chamando de problema? Desigualdade social, pobreza, mas também, emergência climática, perda de biodiversidade, desertificação, a causa é ligada, mas o lado bom é que a luta é ligada também. Então, quando eu estou trabalhando para melhorar e reduzir desigualdades, isso tem um impacto na conservação da biodiversidade. Quando eu conservo biodiversidade, eu também estou garantindo o território para povos e comunidades tradicionais. Tem um impacto na defesa de direitos humanos.
Acho que é essa a minha inquietação, que torna complexo, mas que torna instigante é que não dá para separar a social de ambiental. E povos e comunidades tradicionais não diferenciam, o que é natureza, do que é sociedade, do que é os direitos humanos e os direitos da natureza. Então, nesta vivência que vem a minha inquietação, mas também a minha motivação de trabalhar com educação ambiental. É que, na verdade, levei bastante tempo… só no doutorado que passei a chamar também de educação ambiental, porque para mim, qual que é a educação que não é ambiental, se ela é verdadeiramente educação, não é? Mas eu passei a chamar de educação ambiental porque fui orientada pelo professor Marcos Sorrentino, que é inclusive o atual coordenador do departamento de educação ambiental do Ministério do Meio Ambiente. Lá participei ativamente de várias ações e projetos da OCA - Laboratório de Educação e Política Ambiental lá da Esalq/USP. Então, me entendi também como parte da Educação Ambiental. Mas a grande motivação de estar nesta área e contribuir, é perceber que as causas das múltiplas crises que a gente vive são conectadas, então se isso é tão grande, tão enorme, tão complexo, as soluções e as lutas precisam também ser integradas. Então quando eu estou mirando para defender a biodiversidade ou reduzir a desigualdade social, os benefícios que essa luta tem vão também para as demais causas. Então, acho que essa impossibilidade de trabalhar só o social separado ou só o ambiental, é ao mesmo tempo, uma inquietação, mas a minha motivação.
BALBÚRDIA: Talvez foram todas essas vivências que te motivaram a fazer mestrado na UFAM, voltada para a sua área, sobre questões ambientais? Todo esse contexto está ligado às suas motivações? Ao seu desenvolvimento de carreira?
Thaís Brianezi: Está sim. A minha graduação eu faço aqui na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, ECA-USP, em jornalismo. Desde muito nova eu gosto muito de escrever, sempre gostei de ler, então eu já pensava “que faculdade eu vou fazer?”. Eu sou mãe hoje, tenho duas filhas de 11 e 7 anos e eu vejo elas “ai, eu quero isso, eu quero aquilo… Eu quero ser cantora, mas eu também quero ser professora, mas eu também quero ser cientista” e querendo tudo e que bom, eu digo “maravilhoso”, (elas perguntam) “tem que escolher um só, mãe?”, (e eu respondo) “não, não precisa”. Mas é uma loucura, pois eu me lembro de sete, oito, nove anos, pensar também com a preocupação de empregabilidade. Eu nasci em 1980, essa época era 1987/1988/1989 e eu falava “que faculdade eu vou fazer?”, “eu tenho que ter emprego”, porque eu via notícias do pessoal desempregado e as pessoas morando na rua e pensava “se eu chegar nessa situação… do jeito que é desigual essa sociedade, eu vou ficar lá”. Não é só pagar as contas e comprar, era um medo de não ter, da vida, do desemprego. Eu venho de uma família simples, mas que felizmente nunca faltou alimentação, mas era de perceber… da ansiedade de ver o contexto. Então como eu gostava muito de ler e escrever, eu pensava que eu poderia ser escritora, mas eu comecei a olhar e pensar “escritora… talvez eu não tenha emprego. Será que vão querer comprar meus livros?”. Aí eu fui pesquisando e falei “então eu vou fazer jornalismo”, porque daí você escreve também, você aprende um pouco de tudo… Quando eu falei “vou fazer jornalismo”, eu estava com doze/treze anos e eu queria fazer em um lugar respeitado. Manaus tem a zona franca e tem muitos profissionais que vêm do sul e do sudeste para trabalhar lá porque tem as indústrias.
É uma cidade que, em termos de PIB, até pouco tempo era o quarto PIB entre capitais. Não sei se esse número continua válido, mas ela tem um Produto Interno Bruto alto devido à zona franca e vinha muita gente de fora e tinha aquela coisa de que o que chega do sudeste é melhor, é desenvolvido… Isso tem muito a ver com o socioambiental, com o que se valoriza ou desvaloriza… Mas eu só percebia (e pensava) “eu não quero que ninguém seja meu chefe aqui só porque veio do Rio ou de São Paulo, então vou eu para lá estudar”. Eu assisti ao programa que passava na TV Cultura e se chamava “Vestibulando” e era basicamente aulas na TV aberta para o vestibular que passava depois do almoço, muito voltado para os vestibulares do sudeste, como FUVEST. Quando eu fiz o vestibular, em 1997, ainda não tinha o ENEM e os ingressos unificados nas universidades públicas, então eu chegava em casa, gravava na fita cassete, assistia e re-assistia ao “Vestibulando”. Foi assim que estudei para vir fazer jornalismo aqui na ECA-USP. Eu morei os quatro anos no CRUSP, no alojamento estudantil. Na época, jornalismo era um curso muito concorrido, porque era obrigatório ter diploma de jornalista para ser jornalista. Quando deixou de ser obrigatório, a concorrência reduziu bastante. Aí vim, fiquei aqui, me formei, quis sair de São Paulo porque meu desejo era ter me formado aqui, mas não fazer raízes aqui. Agora aqui estou eu com raízes. Mas eu voltei (para Manaus) e fui trabalhar como correspondente/jornalista no Amazonas e sabe quando dá aquela vontade de voltar a estudar? Só que eu não queria estudar comunicação, porque não fazia muito tempo que eu tinha me formado. Quando eu entrei no mestrado, em 2005, eu tinha me formado em 2001. Fazia quatro anos e eu estava trabalhando muito como repórter. Eu queria estudar algo que me dissesse um pouquinho daquelas temáticas que eu como repórter cobria.
Então busquei na Universidade Federal do Amazonas o programa que se chama “Sociedade e Cultura na Amazônia”, que era um programa interdisciplinar. Durante o mestrado eu pesquisei a política de reconhecimento das unidades de conservação, principalmente reservas extrativistas como os assentamentos de reforma agrária, mas também os conflitos entre a política agrária e a política ambiental. Ao mesmo tempo, nos dois anos de mestrado eu era repórter correspondente e viajava a região Norte inteira. O trabalho de campo do mestrado eu fiz nas férias, mas já estava picada pelo bichinho socioambiental. Nesse período eu era correspondente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), uma empresa pública, então, eu tinha uma liberdade grande de pauta e podia pautar temáticas que eu via nos debates no mestrado. Comecei a namorar o meu atual marido que, olha como a vida é irônica e cheia de contradições, tinha vindo de São Paulo para trabalhar em uma empresa na Zona Franca. Só que a sede da empresa é em São Paulo, então ele foi transferido de volta para cá e eu falei “tudo bem, vamos namorar à distância”, mas eu pensava “vamos terminar esse namoro. Não quero ir para São Paulo de jeito nenhum. Não quero prendê-lo aqui, pois eu sei que ele quer ir, para a carreira dele é melhor e a família dele está lá”, mas o namoro não terminou e quando eu terminei o mestrado, fui trabalhar em uma mobilização comunitária do canal futura que se liga a toda uma parte de educomunicação e comecei a dar aula à noite em uma universidade particular. Eu gostei muito de dar aula também e pensei: “acho que faz sentido eu fazer um doutorado”.
Os doutorados na Universidade Federal do Amazonas existiam, mas eram poucos e ainda estavam com nota baixa na CAPES, então eu falei: “achei um motivo para ir morar com meu atual marido, mas vai ser combinado: eu vou ficar durante quatro anos e quando terminar os quatro anos a gente se muda e eu jamais vou ter filhos em São Paulo”, mas como eu contei para vocês, eu tenho duas (filhas) e eu sou concursada em São Paulo, então não digam “nunca” jamais. Mas eu queria estudar o doutorado e, como correspondente de temáticas socioambientais ali na região Norte como um todo (eu estava sediada em Manaus, mas eu viajava pela Amazônia legal inteira), eu percebia a temática da mudança climática sendo mobilizada por vários grupos a partir de perspectivas diferentes. Eu percebi pelo menos três grandes grupos que a partir do amazonas estavam disputando quais eram as soluções mais efetivas para enfrentar a mudança climática, sendo um deles a aliança dos povos da floresta, que é um grupo que nasce da aliança entre povos indígenas e o movimento dos seringueiros, com o Chico Mendes, o Ailton Krenak e que inclusive fiz parte… mas que a gente já está falando de 2008/2009, quando começo a pensar no projeto de doutorado, eram organizações da sociedade civil, seiscentas organizações da região Norte que compunham essa aliança e dizendo “olha, para enfrentar mudanças climáticas é a partir dos povos da floresta, tem que ter pagamentos por serviços ambientais”. É toda uma demanda por políticas públicas.
Tinham as empresas da Zona Franca de Manaus dizendo “olha, nós empresas da Zona Franca, é graças a nós que o Amazonas é o estado menos desmatado do Brasil e é o que mais tem área de floresta amazônica e é porque a gente tem aqui este outro modelo de geração de emprego e renda que não depende da floresta”, estava para acabar o incentivo fiscal da Zona Franca, então dizendo “tem que renovar”, e a renovação é prevista na Constituição de 1988, esse incentivo fiscal. Então, a renovação teria que ser uma proposta de emenda constitucional que em termos normativos para passar no Congresso, são dois terços da votação na Câmara, no Senado, em dois turnos, exige um consenso maior, exige uma legitimação maior. E elas estavam construindo essa narrativa, as empresas e a Zona Franca na totalidade, dentro de nós protegermos a floresta. E, por outro lado, o Governo Estadual, o secretário de Meio Ambiente, a época, ficou por muitos anos, era o Virgílio Viana, que foi professor também da ESALQ, da USP, da Engenharia Florestal e que dizia “olha, o que protege a floresta é a criação de unidades de conservação, estamos criando tantos hectares de unidades de conservação, conseguindo verba com fundos internacionais para ter projetos para aquelas unidades”. Então, pelo menos três grandes agentes, o movimento social, governo e empresas dizendo “sim, estamos em mudanças climáticas e é a partir daqui que a gente vai enfrentar”. E aí eu criei um projeto para olhar para essas narrativas e a ideia era também vir para São Paulo, apresentei no Procam (Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental), ligado ao IEE, Instituto de Energia e Ambiente. Tem esse nome, porque antes não era o “ambiente”, aí mudou o nome, antes era o Instituto de Engenharia Elétrica, eu acho, tem que pesquisar, mas era IEE, porque eram duas palavras com e, já faz um tempinho que é IEA, muito por conta de ter sediado o Procam. Mas a sigla continua IEE.
Bem, enfim, aí fui para o Procam e fiz, durante os quatro anos, a minha pesquisa, aí aquela coisa que você começa querendo olhar um escopo bem amplo e depois você vê que tem muito, muito material e na hora de analisar, você vai ter que fazer o recorte. E aí eu fiz o recorte na Zona Franca porque eu achei que tinha pouca gente olhando e refletindo sobre essa prorrogação do incentivo. Era um lobby que estava crescendo muito, porque é muita grana, é muito interesse. E, ao mesmo tempo, tinha uma coisa ali sobre a própria área das narrativas ambientais, que eu achei, olhar para a Zona Franca podia desvelar um movimento das narrativas ambientais como um todo. Que era o quê? Uma política pública, a Zona Franca criada dentro daquele ideário na época da ditadura militar, cívico-militar aqui no Brasil. De que a gente tem que integrar para não entregar, que a Amazônia era um deserto ou um paraíso, depende se você colocasse o sinal para o positivo ou para o negativo, mas deserto. Ou era um inferno verde, ou um paraíso verde, não se via que havia populações ali na região. Esse grande deserto que a gente precisava ocupar para que o interesse internacional não ocupasse, esse imaginário da internacionalização da Amazônia. E o ocupar era desenvolver.
Então, integrar para não entregar, a Zona Franca vinha dentro do ideário do progresso. E aí, 50 anos depois, a prorrogação do incentivo, com uma chave totalmente diferente, dizendo “olha, a gente protege a floresta”. Agora, o artigo era a floresta. O que aconteceu, com as narrativas sobre desenvolvimento, mas também com a própria narrativa ambiental. Então eu foquei na Zona Franca e fui estudar os discursos que permearam a renovação do incentivo fiscal. Então, fiz observação direta de eventos corporativos, fiz análise documental dos jornais, peguei quatro anos de cobertura dos jornais do Amazonas, sobre Zona Franca. A economia lá é em torno da Zona Franca, então, basicamente todo dia tem jornal impresso, que eu trabalhei. A Revista Suframa, hoje, do próprio governo, e também com falas na tribuna de deputados e senadores do Amazonas. E aí foi essa a relação, isso que estudei na Zona Franca. E assim, para sintetizar, mostrando o quanto que esse esverdeamento do discurso sobre a Zona Franca dizia bastante sobre a tendência do próprio discurso hegemônico ambiental que estava um pouco, não que deixasse de existir, mas em termos de ter maior destaque, da hegemonia, do que está predominante, o discurso ambiental predominante, cada vez era um mais corporativo, então vinha junto dentro das próprias conferências internacionais de meio ambiente, essa aposta no que a gente chama de modernização ecológica, de construir a sustentabilidade por dentro do capitalismo mesmo, ter um protagonismo maior das empresas, falar de eficiência verde, uso de energia. E saiu um pouco da pauta os modelos de produção e consumo, “precisamos mesmo, construir a nossa geração de emprego e renda a partir do industrial apenas”, sabe? Aí fui também a partir dessa análise, enxergando temáticas que não apareciam e não aparecem ainda na Zona Franca e mesmo nessa renovação, que é “mas o que produzem essas indústrias?” basicamente eletroeletrônicos.
BALBÚRDIA: Verificamos que a professora trabalha com a educomunicação, poderia nos explicar o que é a educomunicação e qual sua relação com a Educação Ambiental?
Thaís Brianezi: Quando pedem para que eu explique em poucas palavras o que é educomunicação, eu digo que é o exercício do direito à comunicação. Então, como que eu traduzo isso? A comunicação foi reconhecida como direito humano desde 1970, tem um relatório que chama relatório MacBride, de 77 (1977), que é esse reconhecimento no âmbito da ONU na figura da agência UNESCO. E ao dizer que é um direito humano, ao reconhecer, isso significa que não pode ser tratada só como mercadoria, significa que tem que ter políticas públicas que a garantam, mas significa também que cada um e cada uma tem que ser visto não só como receptor de informação, mas como emissor. Então vem aí a necessidade de você ter educação midiática nas escolas, acesso aos meios de produção e de comunicação, acesso às possibilidades e tecnologias de circulação da sua produção, ter escuta nos processos participativos de política pública. Tudo isso está dentro desse grande campo da comunicação. Então, comunicação é um campo de práticas, mas também um campo de conhecimento.
A gente tem aqui na Escola de Comunicações e Artes desde 2011 a Licenciatura em educomunicação, a gente também tem o curso de graduação de Bacharelado na Federal de Campina Grande (UFCG), são os dois ao nível de graduação, mas ao nível de pós, a gente tem muitos programas e linhas de pesquisa nesse âmbito da educomunicação. Enquanto campo de conhecimento, ele bebe nas estratégias de “fazer com”, fazer com educação, fazer com comunicação, não por acaso tem como fundamentos Paulo Freire, aqui no Brasil, a pedagogia do Paulo Freire, tem um livro que chama “Extensão ou Comunicação?” que diz que a educação para ser verdadeiramente emancipatória, ela tem que ser uma comunicação, tem que ser baseada no diálogo, tem também o Jesús Martín-Barbero, que é um espanhol, mas que há muito tempo mora no México, como um dos fundamentos, tem um comunicador argentino chamado Mario Carlón…
Mas basicamente é um campo que bebe nas práticas de educação e comunicação popular da América Latina, desta mobilização das práticas dialógicas, conversadas, do fazer colaborativo de comunicação e educação e sempre com uma finalidade de emancipação, de transformação social. Então isto é o que é a educomunicação, enquanto área de práticas e estudos. E onde se encontra com a Educação Ambiental? No fato de que: quando eu digo que é exercício do direito à comunicação, que eu tenho que ver cada um e cada uma não só como receptor, mas também como emissor, eu percebo que eu não posso tratar aquela pessoa que seria meu público como um objeto, “público alvo”, “público que eu quero manipular”, nem bem-intencionado. “Eu vou explicar porque é que tem que jogar o lixo aqui, não ali” vou dizer, “abra a torneira, fecha a torneira”, vou sempre dar uma prescrição, mas eu não vou escutar a pessoa, eu não vou colocar uma pergunta para juntos construir uma resposta. E esta maneira de fazer comunicação prescritiva, da campanha, de só tratar as pessoas como peões, faz parte de um mover de uma estratégia que não pertence a elas.
Eu posso também fazer uma Educação Ambiental desse tipo, prescritiva, e só técnica; perceber que esta maneira, embora essa abordagem exista e haja práticas instrumentais, que a gente chama de perspectiva instrumental de comunicação, perspectiva instrumental de educação, que existe também na educação ambiental, esta maneira de enxergar as pessoas como instrumento, como recurso, recurso humano está ligada à maneira como a gente enxerga a natureza também como recurso; a água é sempre recurso hídrico; recurso natural é a madeira… é sempre recurso, é sempre um meio para outro fim. O fim é sempre atingir um objetivo de mais poder ou de mais acúmulo. Então, você vê como o instrumental da educação e da comunicação estão ligados. Era o que eu falava no começo, a causa ligada, a solução ligada. Por outro lado, virar essa chave, falar às pessoas com as quais eu quero trabalhar, vou dialogar com as pessoas, fazer juntos, fazer diagnósticos, encontrar soluções, é a maneira de não objetificar, de não instrumentalizar, que a gente tem que tratar também o que a gente chama de natureza; é reconhecer os seus fluxos, os seus tempos, o quanto que eu dependo dela também ou não. E aqui que é o encontro, é por isso que desde que a educomunicação, o termo, começa a ser usado e a ganhar as políticas públicas no final da década de 90 para início do século XXI, logo em 2006, já surge pelo Ministério do Meio Ambiente, um programa de educomunicação socioambiental porque se viu que esta maneira de se fazer “com”, de se fazer colaborativo estava super alinhada com a perspectiva da educação ambiental crítica. A perspectiva da educação ambiental que quer questionar mesmo as raízes dos nossos problemas socioambientais, os nossos modos de produção e consumo, de nos relacionarmos entre nós e com a natureza.
Então, a educomunicação se encontra muito com educação ambiental crítica, sendo a perspectiva que está vigente, no Brasil, desde a nossa Política Nacional de Educação Ambiental de 1999 (PNEA). Em 2006, já surge o programa de educomunicação socioambiental e em 2011, surge a estratégia nacional de comunicação e educação ambiental, também pelo Ministério do Meio Ambiente, que estabelece, por exemplo, para unidades de conservação, parques, reservas, reserva extrativista, reserva de desenvolvimento sustentável, todas as unidades de uso sustentável de proteção integral, o uso sustentável, basicamente, permite mais uso, pode ter moradores, já a proteção integral o uso é mais restritivo; mas todas elas têm que ter um plano de manejo e parte desse plano é o de comunicação e educação. Era muito comum que esse plano fosse feito para especialistas, eu mesma trabalhei no "World Wide Fund For Nature" (WWF), que na tradução para a Língua Portuguesa significa Fundo Mundial para a Natureza. Fui mandada para o escritório de Macapá porque a gente ia construir o plano de comunicação e educação do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque. E era uma coisa assim: chegar lá e entrevistar umas pessoas e a gente de gabinetes, fazer; super bem-intencionado, mas de gabinete. Desde 2011, se for feito assim, está errado porque a Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental em Unidades de Conservação (ENCEA) estabelece que a educomunicação deve ser a diretriz.
Então, você tem de verificar se a unidade é de uso sustentável, quem mora lá; quais são as temáticas e os meios de comunicação e linguagem que as pessoas já usam, como que elas fazem os seus processos de educação, mobilização e a partir daí que você tem que construir o plano, se é uma de proteção integral e a comunidade do entorno, como envolve nessa construção? Então, acho que elas se encontram nessa perspectiva de perceber que a gente vive num mundo de incertezas mesmo, ninguém tem a resposta pronta. Inclusive, por isso, a gente vai ter as soluções possíveis, vai construindo a partir do diálogo, do fazer coletivo; são soluções coletivas, não dá para jogar só para o indivíduo. E as perspectivas coletivas no diálogo e de que, tem muito claro uma crítica a insustentabilidade, que está no modelo de superexploração das pessoas e da natureza, é um ponto que une educomunicação com a educação ambiental, a educação ambiental, nessa perspectiva crítica. A gente tem um desenvolvimento de um projeto de pesquisa com a Fapesp que caminha justamente nessa aposta.
BALBÚRDIA: A educomunicação pode ser inserida no enfrentamento às mudanças climáticas?
Thaís Brianezi: A gente acredita que sim. E a gente, na qual me refiro, é o núcleo de comunicação e educação aqui da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA - USP), foi inclusive um dos núcleos que contribuiu para a institucionalização do termo educomunicação com a pesquisa-chave no campo, que foi feita de 1997 a 1999, também financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), que ouviu 176 comunicadores, comunicadoras, educadores, educadoras em 12 países da América Latina que estavam trabalhando essas experiências de comunicação e educação popular. E aí foi vendo o que tinha em comum nessas experiências e foi sistematizando e percebendo que tinha ali uma prática diferenciada de encontro da comunicação e educação, foi daí que se deu o nome de educomunicação. Então, nós núcleos de comunicação e educação estamos com uma pesquisa em andamento com apoio da FAPESP e em parceria firmada por acordo de cooperação técnica com o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, que tem justamente como título a nossa aposta, mas o título é, “como a educomunicação pode contribuir para qualificar e ampliar as práticas de educação ambiental climática na educação básica no Brasil?” Então, a gente acredita que sim, pode contribuir e como.
Vou te contar um pouquinho da pesquisa para chegar nas hipóteses que estamos construindo para ver até que ponto se sustenta, onde de fato a gente está encontrando potência. São dois anos apenas, começou em março deste ano e vai até fevereiro de 2026. Ele tem quatro grandes produtos, uma é uma agenda de política pública que a gente já fez o rascunho, já teve webinário, agora vai ter um novo movimento de rodada, mas é um a partir de revisão de normativos e revisão bibliográfica, um pouco de recomendações para governos de como educomunicação pode ajudar a aterrar a temática de emergência climática na educação básica. A gente está no projeto, trabalhando no ensino fundamental, principalmente, na agenda de política pública. O outro, a gente está fazendo um mapeamento, um levantamento de quais são as organizações e coletivos no Brasil, organizações e coletivos de educação, comunicação, ativismo ou que se chamem educomunicação, já mesmo, que estão trabalhando enfrentamento de emergência climática a partir dessa perspectiva do “fazer com”, do fazer dialógico. Então estamos levantando essas organizações coletivas, isso vai gerar um banco de dados aberto, é claro, sempre levantando com autorização o que elas permitem que seja compartilhado depois, mas vai estar como uma forma de consulta não só para outros pesquisadores e pesquisadoras, mas para ampliar essa ação em rede. Então, estou começando um trabalho aqui em São Paulo e quero saber quem está trabalhando com o enfrentamento do racismo ambiental nos outros estados, com que estratégia. Fortalecer essa ação em rede ou mesmo, as escolas que, às vezes, querem trabalhar matemática e quer convidar alguém para ir lá, quer “fazer com” ou as organizações querem trabalhar com escola e não sabem como, então, esse banco de dados abertos. Mas se olhar essas práticas, também, a gente acredita que elas vão ajudar a qualificar o produto três que é, a gente está construindo, com o Ministério do Meio Ambiente e Secretaria Municipal de Educação, um processo formativo, um curso para gestores e educadores que a gente estreia no comecinho de março do ano que parte desta pergunta: “como a educomunicação pode ampliar e qualificar as práticas de educação ambiental climática nas escolas?”
As primeiras turmas do curso, cinco turmas, no começo do ano que vem a gente ajusta, mas vai ser presencial essas primeiras turmas. Será a partir do debate com as próprias escolas, que não estão incluídas no curso, mas que a gente considera que estão participando da pesquisa. A ideia é que sejam 65 escolas das treze Diretorias Regionais de Educação da capital paulista, aí terá um curso EaD depois. Então, terá a modalidade presencial, levantaremos conteúdos, gravaremos esse curso e pegaremos materiais que vão vindo das organizações. E, no segundo semestre, que é o último da pesquisa no ano que vem, a gente faz a passagem e toda transposição do curso da modalidade presencial para o EaD. E depois o Ministério do Meio Ambiente seguirá com o curso, ofertado em outras redes. E nós, com as escolas que participaram do piloto em São Paulo, vamos continuar o trabalho fazendo visitas e debates sobre os desdobramentos da formação em cada escola. Tinha alguma ação que a escola já fazia e conseguiu potencializar? Tinha algo que não fazia, queria fazer e conseguiu encontrar referências, fundamentos na formação? As escolas encontraram estratégias para mobilizar a sua comunidade? Vamos querer ver um pouquinho de resultados no chão da escola.
O curso ainda está em processo de construção, mas qual é a nossa aposta? É que a educomunicação para trabalhar a Emergência Climática nas escolas tem contribuição para trabalhos nos quatro âmbitos do currículo do que consideramos como “Escolas Sustentáveis e Resilientes”. Nesse caminho, posso usar a leitura crítica das mídias, a produção de mídias durante a aula para trabalhar a temática de forma que o estudante consiga ligar o conteúdo com a realidade dele, para fazer perguntas. Também poderão observar que discursos estão sendo debatidos nas redes sociais, ou seja, leitura crítica e produção de comunicação durante a aula no âmbito do currículo, mas o currículo não é somente sala de aula, ele também é feito por projetos, do dia a dia, a cultura, o projeto político pedagógico da escola como um todo, as ações integradoras, a existência de coletivo educador na escola como está previsto nas Orientações Pedagógicas de Educação Ambiental (OPEA) da rede municipal de educação, mas que quase nenhuma escola conseguiu implementar. Mas eu falei que são para 4 âmbitos: o primeiro é o Currículo, então, dá para trabalhar a leitura crítica, produção de mídias e projetos na sala de aula. No segundo âmbito, o da Gestão, a educomunicação ajuda e pode ajudar que essa gestão seja mais participativa porque ela ajuda a ampliar as vozes, a circular outras vozes. É olhar a educomunicação no currículo, como que eu incentivo uma maior participação no grêmio estudantil, caso ele não exista? Como é que a educomunicação pode contribuir para criar e fortalecer esse espaço? É uma imprensa jovem e agências estudantis de notícias na escola discutindo suas temáticas. Tem um CEI, que é um Centro de Educação Infantil, daqui da zona sul de São Paulo, que a equipe de docente junto com os estudantes fazem o podcast que vai para as famílias. A produção é colaborativa, fortalecendo currículo e gestão. O terceiro âmbito do currículo é chamado Espaço Educador Sustentável, ou tem gente que fala que são as Edificações e o Espaço. Nesse âmbito ocorre o debate sobre como trabalhar no enfrentamento da emergência climática e relacionar com os espaços da escola. Propõe pensar em espaço para ter área verde e como desenvolver as atividades ali. Pode aproveitar para ter compostagem, para ter horta. Por exemplo, eu tenho só a parede, mas eu posso ter um jardim vertical. Na edificação, como é que está o uso de água? Está mais responsável ou não, na escola? Como é que está o aproveitamento da luminosidade? Se é que a escola tem luminosidade, se não tem, dá para a gente repensar e usar menos luz elétrica? Gerando impactos positivos e minimizando impactos negativos? E é aí que a educomunicação entra, ajudando nessa mobilização. Tem um professor de uma escola de ensino fundamental que desenvolve projeto de educação ambiental. Ele também é facilitador da imprensa jovem, agência de notícias da escola. E eles fizeram um processo de composteira super bacana, mas outros professores não se engajaram ali - ele dizia - porque a composteira ficava no cantinho que quase ninguém passava, a não ser os estudantes; e tinha horta que também ficava num cantinho que vários professores não iam. Com isso, o que é que ele fez? Ele começou a construir um jardim vertical e mapeou onde é que os seus colegas mais passavam na escola e descobriu que era no corredor que ia dar no estacionamento. Então, ele começou a pôr os vasinhos nesse espaço com alguns dizeres. Esse processo de mapear, pôr o vasinho e pensar na campanha de mobilização é educomunicação, é contribuindo para esse lado Espaço Educador Sustentável.
Estou trazendo exemplos daqui de São Paulo, que é onde eu trabalho e vivencio, mas tenho a certeza que Brasil afora temos outros. Outro exemplo é uma escola onde fizeram todo o trabalho com Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com várias turmas e alguns geraram material e disponibilizaram no site da escola sendo: pequenos vídeos, desenhos. E fizeram um espaço chamado: A Parede que Fala. Eles colocaram os símbolos dos 17 ODS com QR code no local onde passavam as famílias para buscar as crianças e quando você lia os QR codes levava para o site com alguma produção de alguma criança sobre aquele ODS. Trabalharam a educomunicação nessa apropriação do espaço
Então já falei de três âmbitos: Currículo, Gestão e Espaço Educador Sustentável e o último âmbito das escolas sustentáveis e resilientes é a Relação com a Comunidade.
A educomunicação pode ser uma estratégia potente para fazer mapeamento do entorno da escola, fazer diagnóstico, coletar memórias daquela escola, ajudar a promover escuta, mas também, é extensão. Por exemplo, o que os alunos estão estudando sobre a gestão de resíduos é, às vezes, um conhecimento que está distante da comunidade.
Dá para fazer a parceria com comerciantes do bairro, até esse olhar de comunicação comunitária também para o entorno, de articulação. Então, esse é o âmbito da relação escola com a comunidade dentro do conceito de Escolas Sustentáveis e Resilientes com o que a PNEA trabalha. Em todos os âmbitos, a gente acredita que a educomunicação contribui e é isso que a gente está testando agora, aprimorando, aprofundando nesse projeto FAPESP.
BALBÚRDIA: A professora poderia indicar para os nossos leitores alguns lugares que a gente consegue acessar tanto o projeto quanto dicas dessas práticas? Podem ser endereços ou sites interessantes antes da gente passar para as próximas perguntas.
Thaís Brianezi: O site do projeto, a gente ainda não tem, mas indico o https://abpeducom.org.br/, que é o site da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom). É um site que tem muito material bom como vídeos, podcasts, ou seja, bastante material sobre educomunicação socioambiental.
Eu sou integrante da ABPEducom e a cada dois anos fazemos o Encontro Brasileiro de Educomunicação (EDUCOM). Esse ano o evento vai acontecer em Brasília entre os dias 21 a 23 de novembro com a temática “Educomunicação nas Políticas Públicas: a urgência da participação social para a cidadania”. Tem 10 grupos de trabalho e um deles é de educomunicação socioambiental.
A outra dica é o FunBEA (https://www.funbea.org.br/). Este site é do Fundo Brasileiro de Educação Ambiental que é uma mobilização da sociedade civil. É um fundo privado, de interesse público. Atualmente sou voluntária e conselheira-presidente do FunBEA. O FunBEA também trabalha com a educação ambiental nessa perspectiva de processos participativos. Ali tem cartilha sobre educomunicação e outros recursos no site.
BALBÚRDIA: A penúltima pergunta é justamente sobre essas associações e fundações que você faz parte. Qual seria sua importância?
Thaís Brianezi: Faço parte também da International Environmental Communication Association (IECA), ou Associação Internacional de Comunicação Ambiental, que também tem Congresso a cada 2 anos. O próximo é em 2025 lá na Austrália, na Tasmânia.
Sou parte também do conselho de administração da ActionAid Brasil, que é uma federação de organizações em diversos países, o Brasil entre eles.
Além disso, sou de dois conselhos, órgãos de aconselhamento público. Um é o Conselho Consultivo da Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas da prefeitura de São Paulo. O outro é a Comissão Interestadual de Educação Ambiental de São Paulo.
Tem um também que não estou mais, mas eu ajudei a criar, que é uma organização que eu recomendo muitíssimo. Eu vou colocar aqui porque ela tem muito material.
Se puder colocar essas três indicações na revista. Uma é a escola de ativismo (https://escoladeativismo.org.br/), que tem toda uma parte de educação muito potente, com muito material e recurso educacional aberto para quem quiser trabalhar. Por que é importante trabalhar com as organizações? Primeiro porque sozinha a gente não faz nada, esse enfrentamento tem que ser coletivo. E segundo porque a universidade é uma possibilidade de fazer pontes, não sou acadêmica clássica do salgueiro, que vai ficar só no laboratório ou no escritório, assim, gosto de publicar, não estou desmerecendo essa importância, mas o que me alimenta é perceber que eu estou conseguindo interagir com a sociedade; não contribuindo no sentido de, a gente (academia) que sabe as respostas e pesquisa para mostrar. A gente está junto, numa contribuição mútua para levantar novas questões, enxergar e testar soluções. Então, eu gosto muito desse fazer engajado mesmo, de trabalhar em união do ensino, pesquisa e extensão. E é por isso que eu faço questão de estar nas organizações. Elas me alimentam muito, sinto que eu posso contribuir. Quando você sente que o teu conhecimento também contribui, isso te dá ânimo. Porque a gente não vive em períodos fáceis. Se a gente não se cuida, a gente desmobiliza, a gente entra na ansiedade climática, entra na apatia. Mas quando a gente está em coletivo, percebendo que tem mais gente fazendo, enfrentando, a gente tem menos chance de desanimar.