Relações entre a COP e a Educação Ambiental: o que esperar da conferência em Belém?

Legenda: Imagem divulgada pelo perfil do Governo do Brasil na plataforma X, antigo Twitter, em celebração da escolha de Belém como cidade sede da COP30. (Fonte: X/Twitter de @govbr).

Apesar da grande projeção, há muito o que se questionar sobre a COP, que se realizará no próximo ano em Belém (PA), no que diz respeito à educação ambiental.

Marcos Vinícius Ribeiro Ferreira

Atualmente faço mestrado pelo Programa de Pós-graduação Interunidades em Ensino de Ciências (PIEC-USP) e conto com um auxílio da FAPESP. Tenho grande interesse pelas áreas de Ensino e Filosofia das Ciências, assim como pelo trabalho de divulgação científica. Faço parte do Grupo de pesquisa em História, Teoria e Ensino de Ciências (GHTC).

Instagram: @marcos_vrf

17 de setembro de 2024 | 10:00

Em novembro de 2025, Belém (PA) sediará a 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), isso fortalecerá o Brasil como um dos líderes globais frente às questões ambientais como a sustentabilidade, o combate ao aquecimento global e a preservação e valorização dos povos originários. Contudo, à luz dos conhecimentos da educação ambiental, o que podemos esperar da COP? Será ela um momento de valorização da educação ambiental?

A sigla COP significa conferência das partes, anualmente sediada no território de um dos signatários da ​​Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (em inglês, United Nations Framework Convention on Climate Change ou UNFCCC). A COP busca discutir temas ambientais e promover políticas nacionais e internacionais, principalmente relacionadas a diminuição das emissões de gases do efeito estufa.

Historicamente o Brasil é um dos membros mais importantes da conferência, sendo ela idealizada aqui, durante a Rio-92. A partir dessa conferência surge a primeira COP em 1995 na Alemanha.

Em 2025, novamente o Brasil irá liderar as discussões globais. Mas qual pode ser a importância de uma COP para a educação ambiental? Para começar a refletir sobre isso, conversamos com o estudante Gustavo Ferragini Batista, que no ano passado (2023) cursava a terceira série do ensino médio na Escola Estadual Professor Sebastião de Oliveira Rocha, uma escola pública de São Carlos (SP). Gustavo foi destaque na COP28 que ocorreu naquele ano em Dubai (Emirados Árabes Unidos), um país cuja economia é muito dependente do petróleo.

Representando a educação pública brasileira, Gustavo apresentou uma pesquisa que se dedicava a estudar a fixação de gás carbônico por bioalgas, realizada pelo clube de ciências de sua escola, o Clube de Ciências “Inovação em Microalgas Aplicadas à Biorremediação” (IEMAB).

O estudante explica que a COP organiza anualmente um hub de educação ecológica por meio do “Greening Education Partnership” (GEP), no qual o projeto desenvolvido em seu clube de ciências foi selecionado. "Para a UNESCO, que avaliou o nosso formulário de inscrição, o diferencial foi justamente a nossa ousadia em fazer uma pesquisa que é normalmente feita em universidades e institutos privados, mas que nunca havia sido empreendida em uma escola pública", conta.

Esse exemplo mostra que existem belos trabalhos sendo realizados nas escolas brasileiras que objetivam atingir competências relacionadas à educação ambiental.

De forma simples, a educação ambiental pode ser entendida como um processo que busca compreender o ambiente e os impactos humanos sobre ele. Ela visa fornecer conhecimentos sobre o ambiente, ecossistemas, biodiversidade e recursos naturais. Abrange princípios científicos que regem os sistemas ambientais e a interdependência entre organismos vivos e seus habitats. Além disso, busca conscientizar sobre problemas ambientais como desmatamento, poluição, crise climáticas e perda de biodiversidade. Muito relevante para a área é pensar nas causas e consequências destas questões e enfatizar a importância de práticas sustentáveis, não apenas a nível individual, e sim sistêmico e coletivo.

A área afirma há décadas a necessidade de a educação ambiental ser vista não apenas como essencial ao sistema educativo, mas também como política pública capaz de guiar propostas e diretrizes, tanto nacionais como internacionais. Nesse sentido, por mais que as COP teoricamente são um momento de "por em prática" os ensinamentos da educação ambiental, vale notar que, como comentado, no ano passado (2023) a conferência foi sediada nos Emirados Árabes Unidos, e neste ano (2024), será a vez do Azerbaijão, cuja indústria petrolífera representa cerca de 90% das exportações do país. Infelizmente, isso demonstra que a conferência em geral é muito leniente com a elite econômica mundial, responsável pela maior parte das emissões de gases do efeito estufa. 

Um artigo da revista científica Environmental Education Research (Pesquisa em Educação Ambiental) de 2021, apresenta resultados da CCEC (Climate Change Education and Communication, ou Educação e Comunicação das Mudanças Climáticas) baseada na análise de 377 trabalhos submetidos ao secretariado da UNFCCC. Dentre os achados, verificou-se que temas de educação ambiental e comunicação da crise climática são pouco explorados. Além disso, quando esses temas aparecem nas propostas, a presença de abordagens afetivas ou orientadas para a ação é deficitária. Isso representa a necessidade de se explorar mais profundamente as questões da educação ambiental nas conferências de clima e em órgãos como o UNFCCC.

Com base nessas críticas, podemos imaginar que a COP no Brasil poderá deixar a desejar quanto à temática da educação ambiental. Na página governamental do evento o assunto também não é mencionado.

Em tentativa de compreender quais são as expectativas para a conferência em Belém, conversamos com Jair da Costa Miranda Filho, mestrando do Laboratório de Ecologia e Conservação (LABECO), da Universidade Federal do Pará (UFPA). Jair atua em pesquisas na área de conservação ambiental e educação ambiental em espaços não formais. Ele conta que o clima em Belém é ainda de incredulidade sobre a escolha da capital paraense como sede da COP, mas que as comunidades locais estão animadas. Todavia, comenta que "como pesquisador, fico apreensivo em relação a como a sociedade vai suportar os trabalhos que os laboratórios de estudos ambientais vem desenvolvendo nos últimos anos", isso pois eles "retratam muito a falta de educação ambiental nas comunidades, principalmente em áreas rurais". 

O pesquisador explica que ainda é comum que "a natureza sofra impactos não só por conta da indústria, mas também pelos produtores agrícolas, devido a falta de conhecimentos de educação ambiental", propiciando práticas como as queimadas para "limpar" áreas rurais ou o deflorestamento de matas ciliares, atitude que dentro de alguns anos volta a "afetar diretamente as próprias comunidades negativamente". Além disso, o pesquisador afirma ter "visitado em 2022 áreas que eram super preservadas, porém em 2024, já estavam muito desmatadas e muito queimadas".

Sobre a COP30, Jair faz uma ressalva: "comumente as cidades que recebem esse tipo de evento investem em uma infraestrutura superficial e visual, que dura pouco, só que não é isso que a gente espera".