COMUNICAÇÃO E CRIANÇAS

A comunicação com a criança com surdocegueira precisa ser natural, contextualizada e estabelecida por meio de atividades organizadas com a finalidade de estruturar seu mundo, em lugar, tempo e pessoas.

A comunicação no período mais novo da espécie humana acaba por se mostrar como o local onde a espécie humana consegue se moldar nos conformes de suas futuras relações sociais, portanto, o modo que um adulto formado apresenta suas ideias nada mais é do que o resultado de seu desenvolvimento quando era de menor idade. Tendo isso em mente, se torna clara a importância do desenvolvimento desse plano para com as crianças Surdocegas, em ordem de garantir seu futuro. Quando se trata de comunicação, tratamos de linguagem, que nada mais é do que um sistema básico de símbolos, sendo sonoros ou por meio de gestos, com o intuito de se transmitir uma intenção para determinado grupo, sendo inclusive considerada como cultura de diversas raças em torno do globo. O mundo onde as crianças surdas e cegas vivem é um local onde capacidades de comunicação básicas, como a audição e a visão, são limitadas. Portanto, torna-se necessária uma atenção especial no desenvolvimento destes sentidos para:

  • Proporcionar a criança apreensão do concreto;

  • Permitir a ter acesso ao mundo à sua volta;

  • Despertar Curiosidade que a faz movimentar-se e explorar o ambiente;

  • Proporcionar a criança reconhecer os objetos e faces familiares;

  • Permitir a noção de espaço;

  • Permitir a manutenção do contato fora do campo visual;

  • Permitir o desenvolvimento da codificação que associada à experiência possibilita o desenvolvimento da capacidade simbólica;

  • Possibilitar o desenvolvimento da sequência dos turnos de comunicação e através desta a noção de tempo;

  • Permitir a apreensão progressiva do mundo, ampliando e desenvolvendo a capacidade de comunicar.

Segundo Mclnnes e Treffry (1997), é possível realizar a comunicação para com as crianças, no entanto, muitas vezes tais atos são de via única. Devido a incapacidade de compreensão plena da criança com o adulto, o responsável pelo menor não tem consigo a capacidade de fornecer a seu protegido suas intenções de modo pleno, porém, a criança substitui sua necessidade de sons e fala por meio de outros gestos em ordem de se comunicar. Choro, piscar os olhos, levantar os braços ou até mesmo movimentos básicos corpóreos se enquadram como exemplo que o ser humanos encontram em uma tentativa de revelar suas intenções para outra parte quando a visão e a voz são comprometidas, sendo papel do guardião se atentar aos detalhes e interpretá-los da melhor forma. As crianças surdocegas precisam ser alvos de constante atividades contextualizadas e estabelecidas com a intenção de estruturar um mundo ao entorno delas, fornecendo assim para cada uma a sensação de pertencimento e necessidade de interação de modo diário. Essa interação pode ser feita por meio de objetos cuja criança acaba por criar familiaridade com e atribuir determinado significado ao mesmo, aos poucos, tais objetos deverão ser substituídos por partes de outros com o intento de ampliar o significado pré-estabelecido pelo objeto inicial. Tendo sempre em mente que a comunicação e as atividades diárias devem contar sempre com: contexto, conteúdo, forma e parceiros.

Algumas formas que facilitam a recepção das informações pelas crianças surdocegas:

Básica:

  • Pistas de Contexto: Ocorrem na hora de uma atividade. Ex: cheiro de comida na hora do almoço.

  • Pista de movimentos: Movimento padrão que remete a uma atividade . Ex: levar bola à criança.

  • Pistas Táteis: Tocar o corpo da criança com a área relaciona a atividade. Ex: Tocar os lábios na hora de comer

  • Pistas de Objetos: Objetos reais que são usados para desenvolvimento das criança durante atividade. Ex: Colher para comer.

  • Pistas gestuais: Gestos que são utilizados para a comunicação. Ex: Balançar as mãos para dizer “olá”.

Comunicações mais complexas:

  • Pistas de imagens/ desenhos de contorno/ outros símbolos tangíveis: Usada quando o alvo possui visão residual. Ex: Contorno do copo para indicar que irá beber água.

  • Sinais gestuais e táteis: Quando a visão é comprometida em menor grau, expressões através de libras bem próximas do campo visual, todavia, quando a visão se mostra como ausente ao ponto de não observar os ensinamentos, o ensinamento se altera para modalidade tátil, colocando as mãos do infante sobre o emissor em ordem de decodificar a sequência dos movimentos de cada sinal/ letra do alfabeto.

  • Fala: Modo de expressão que deve sempre ser usado independentemente se a criança seja incapaz de falar ou ouvir em ordem de aprimorar a capacidade do alvo de interpretar e reconhecer expressões.

  • Palavras escritas/ braile: Utilizadas por crianças e adultos que compreendam ou tenham adquirido uma linguagem.

Algumas formas que facilitam a expressão das Informações pelas crianças surdocegas devem ser abordadas de forma diferente.

COMUNICAÇÃO BÁSICA Comunicação por Reconhecimento

  • Expressões faciais: indicando prazer ou desprazer. Ex: fazer careta para indicar desprazer.

Comunicação Contingente

  • Vocalização: indicando prazer, desconforto ou ansiedade: Ex: Fazer um som “u” baixinho quando está sendo embalado.

  • Movimentos corporais: A criança pode se utilizar de simples gestos para expressar pedidos ou protestos. Ex: Virar a cabeça para o outro lado quando não gostar de algo.

  • Interruptor de chamado (controle físico): Objetos que causam efeitos. Ex: puxar interruptor de abajur para acender a luz.

Comunicação Instrumental

  • Tocar a pessoa: Mostrar como para as crianças deficientes como terceiros podem controlar seu comportamento. Ex: Empurrar alguém para “deixa-lo em paz”.

  • Manipular a pessoa: Levar a pessoa em direção ao seu objetivo. Ex: Puxar a mão do pai em direção a sua cabeça para receber carinho.

  • Tocar um objeto: Escolher entre dois ou mais objetos para expressar uma escolha. Ex: Tocar nas chaves em ordem de transmitir a intenção de passear.

Comunicação Convencional

  • Estender um objeto: Para que lhe faça uma troca. Ex: Estender um copo para repetir a bebida.

  • Gestos simples: Os gestos simples de comunicação. Ex: Dizer “adeus” com o balançar das mãos

  • Apontar: É importante ensinar esta maneira de comunicar, desde que a criança tenha capacidade visual e motor para realiza-los e compreender seus efeitos e funções. Ex: Aponta para a porta quando quer ir à rua.

  • Comunicação com dois ou mais interruptores: Aplica-se quando a criança já tem a capacidade de fazer uma escolha entre dois objetos. Ex: selecionar um de três interruptores para escolher o que vai comer.

COMUNICAÇÃO MAIS COMPLEXA

Comunicação Simbólica Emergente

  • Gestos formais: Quando a criança já desenvolveu os gestos naturais. Ex: Gestos de “quero”.

  • Objetos em miniatura: Criança já realiza a conexão entre objeto e ação. Ex: Dá um carrinho para a professora para indicar que deseja ir ao mercado.

  • Imagens e desenhos de contorno: Se a criança tem condições para ver e compreender estes símbolos poderemos usá-los para aumentar o seu vocabulário. Ex: Selecionar a foto do balanço, para dizer “quero ir ao balanço”.

Comunicação Simbólica

  • Linguagem de Sinais

  • Símbolos não vocais

  • Sistemas eletrônicos

  • Sistema Braille

  • Fala/ oralização: Se tiver condições de ser usado um sistema eletrônico com saída de fala.

ELABORANDO UM SISTEMA DE COMUNICAÇÃO EFICIENTE

Um bom sistema de comunicação torna-se necessário para maximizar a compreensão da criança sobre o mundo e a compreensão dos pais sobre os desejos da criança

Em ordem de se estabelecer um sistema de comunicação eficiente para criança surdocega é necessário levar em consideração:

  • capacidades visuais e auditivas;

  • capacidades motoras;

  • desenvolvimento cógnito.

Tendo sempre em mente que, com o objetivo de a criança desenvolver a capacidade de fala, o interesse à socialização será o motor que irá leva-la a tal objeto. Portanto, sempre deverá ser dada a devida oportunidade para a criança de se comunicar expressar de diferentes modos, como por exemplo:

  • Estar atento aos diferentes movimentos feitos pela criança e interpretando-os de acordo com o contexto;

  • Ouvir os pais, pois eles são aqueles mais próximos do alvo do trabalho;

  • Respeitarmos suas tentativas de comunicação, evitando frustrações desnecessárias;

  • Houver oportunidades de transmitir seus desejos e sentimentos;

  • Houver meios alternativos para comunicação;

  • Ser sempre o ouvinte enquanto oferece oportunidades de expressar a opinião relativa ao mundo a sua volta;

  • Houver oportunidades de utilizar de seu resíduo visual, auditivo e demais sentidos remanescentes.

POSSÍVEIS CAUSAS DO DESENVOLVIMENTO DE SURDO CEGUEIRA

Existem uma série de causas para o desenvolvimento de síndromes em bebês e crianças.

Diversos fatores podem causar surdo cegueira, síndromes, acidentes, medicamentos, a estes fatores estão mais vulneráveis as crianças e bebês, pois seus corpos ainda passam por mudanças grandes. Sejam essas causas situacionais, doenças ou passadas dos pais aos filhos, as que mais se destacam podem ser divididas em três categorias:

  • Pré-natal (período de gestação)

  • Perinatal (período final da gestação até 1 mês após o nascimento do bebê)

  • Pós-natal (período de 6 semanas após o nascimento)

Pré-natais

Algumas das causas, do desenvolvimento de surdo cegueira, neste período são:

  • Rubéola

  • Citomegalovírus

  • AIDS

  • Herpes

  • Toxoplasmose

  • Sífilis Congênita

  • Fator RH

  • Zika Vírus

  • Anomalias Congênitas Múltiplas

  • Abuso de drogas da mãe

  • Síndrome do Alcoolismo fetal

  • Hidrocefalia

  • Microcefalia

Perinatais

Algumas das causas, do desenvolvimento de surdo cegueira, neste período são:

  • Prematuridade Ototóxica

  • Falta de Oxigênio

  • Medicação Ototóxica

  • Icterícia

Pós-natais

Algumas das causas, do desenvolvimento de surdo cegueira, neste período são:

  • Meningite

  • Medicação

  • Otite Médica Crônica

  • Sarampo

  • Caxumba

  • Diabetes

  • Asfixia

  • Encefalite

  • AVC

  • Consanguinidade

  • Acidentes

Olhando os fatores acima, não podemos deixar de incentivar a importância de visitas periódicas ao médico e manter a carteira de vacinação em dia, pois causas como Rubéola, Meningite, Sarampo e Caxumba já podem ser evitadas através de vacinas.

COMPORTAMENTOS EM CRIANÇAS COM SURDOCEGUEIRA

Crianças com surdocegueira congênita podem ser divididas em dois grupos com características próprias e distintas.

Crianças com surdocegueira ou com deficiência múltipla sensorial que nasceram ou adquiriram a deficiência antes da linguagem podem ser classificadas em dois grupos.

Crianças com Comportamento Hipoativo

O primeiro grupo é formado por crianças com comportamentos hipoativos (pouca interação ou interesse em interagir), como:

  • Distanciam-se do ambiente, por meio de movimentos estereotipados de mãos e dedos; balanceio rítmico do corpo;

  • Isolam-se de contato de pessoas e do ambiente, podendo apresentar desinteresse pelo ambiente e por formas convencionais de comunicação; desinteresse na exploração e manipulação de objetos, brinquedos, pessoas e ambientes; apresentam indiferença a sons ou vibrações;

  • Evitam se comunicar com outras pessoas, não buscam comunicação;

  • Apresentam distúrbios na alimentação (rejeição de alimentos sólidos).

Crianças com Comportamento Hiperativo

O segundo grupo de crianças com surdocegueira apresentam comportamentos hiperativos (muita interação ou interesse em interagir), como:

  • Apresentam-se atraídos por locais com claridade intensa (janela, luz solar, lâmpada etc.);

  • Movimentam constantemente, apesar de apresentar dificuldades na locomoção (tropeçam, esbarram nos móveis e pessoas, rastejam), elas dificilmente param;

  • Evitam contato visual, mas apreciam aproximar objetos dos olhos;

  • Apresentam defesas táteis, isto é, não aceitam toques no próprio corpo;

  • Contraem as pálpebras na tentativa de enxergar melhor (acomodação visual);

  • Apresentam comportamentos de auto e heteroagressão;

  • Fazem uso dos sentidos remanescentes na exploração do ambiente, tem o hábito de levar tudo à boca;

  • Podem apresentar distúrbio na alimentação (rejeição de alimentos sólidos);

  • Apresentam dificuldades em discriminar sinais realizados por outras pessoas e objetos entregues para exploração.

A importância de categorizar cada caso aparece quando precisamos compreender melhor como cada criança interage com o mundo para podermos adaptar os métodos e incentivos, tornando-os mais efetivos com objetivo de aproximar o mundo da criança e possibilitando um maior entendimento do mesmo.

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DE COMUNICAÇÃO

É direito de toda pessoa receber uma educação de qualidade que possibilite sua compreensão e contato com o mundo

É garantida pela Declaração Mundial de Direitos Humanos, pela Constituição Federal e pela Convenção de Genebra como todo ser humano, independentemente de sua situação fática, tem os direitos definidos pelos corpos normativos descritos acima. Em meio a tais direitos, trataremos sobre o de comunicação, um direito básico de expressão em massa ou individual, que cada pessoa utiliza em suas interações diárias. São direitos de:

  • Solicitar objetos, ações, acontecimentos, pessoas e exprimir preferências próprias e sentimentos;

  • Desejar alternativas e oportunidades de escolha;

  • Rejeitar ou acusar objetos, ações fáticas, incluindo o direito de rejeitar ou voltar atrás em todas suas preferências;

  • Pedir e obter atenção a partir de interações com outrem;

  • Pedir informações sobre situação atual, objeto, pessoa ou outro acontecimento que lhe interesse;

  • Programar e interver de modo ativo em ordem de possibilitar as pessoas surdascegas e de se comunicar por meio de mensagens referidas acima usando os modos que lhe sejam propícios e eficientes de acordo com a situação fática;

  • Observar seus atos de comunicação reconhecidos e respondidos mesmo que a intenção desses atos não encontra resposta total junto ao interlocutor;

  • Acesso a qualquer sistema de comunicação alternativo ou aumentativo a qualquer momento e ter acesso a seu funcionamento;

  • Contexto ambientais, interações e oportunidades que deem às pessoas com deficiência encorajamento e possibilidades de comunicação que lhe permitem ser parceiros de comunicação com outras pessoas, incluindo colegas;

  • Informado sobre pessoas, coisas e situações no eu ambiente próximo;

  • Receber comunicação de um modo que reconheça e dê importância à dignidade da pessoa a quem nos dirigimos, incluindo o direito a ser parceiro nas trocas comunicativas que se lhe referem quando estiver presente;

  • Receber comunicação de forma que lhe sejam significativas e compreensíveis.