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#VII Simpósio – Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto: 40 anos de trabalho na mata atlântica

Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto: 40 anos de trabalho na mata atlântica

A terceira palestra do VII Simpósio: Conservação de Fauna In Situ – Biomas Brasileiros, foi ministrada pelo Dr. Daniel Angelo Fellipi, médico veterinário graduado pela  Universidade do Estado de Santa Catarina e, atualmente, pesquisador associado do Programa de Conservação do Mico-leão-preto do Instituto de Pesquisa Ecológica (IPÊ).

A seguir, exploraremos os principais assuntos discutidos na palestra, destacando pontos relevantes para a conservação do Mico-leão-preto.

Conservação do Mico-Leão-Preto

O mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus), espécie endêmica da Mata Atlântica paulista, foi considerado extinto por décadas até sua redescoberta em 1970 por Adelmar F. Coimbra-Filho no Pontal do Paranapanema, onde foi encontrada a maior população remanescente no Parque Estadual Morro do Diabo.

A construção da Usina Hidrelétrica de Rosana, nos anos 1980, alagou parte do parque, agravando a situação da espécie. Com isso, iniciaram-se ações emergenciais de conservação, como a criação de populações ex-situ. Em 1992, foi fundado o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), tendo o mico-leão-preto como uma das principais espécies-alvo.

Apesar dos avanços, a espécie ainda está classificada como “Em Perigo” pela IUCN, com menos de 2 mil indivíduos na natureza. As principais ameaças incluem perda de habitat, fragmentação florestal, incêndios, atropelamentos, febre amarela e mudanças climáticas.

Sobre o Mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus)

O mico-leão-preto é uma espécie endêmica da Mata Atlântica do estado de São Paulo e é considerada um símbolo da conservação da biodiversidade brasileira. Trata-se de um primata de pequeno porte que vive em grupos familiares compostos por dois a oito indivíduos, normalmente organizados em torno de um único casal reprodutor e sua prole.

O período reprodutivo da espécie ocorre entre os meses de maio e setembro, com os nascimentos concentrados de setembro a janeiro. A espécie apresenta comportamento territorialista, sendo que sua área de vida pode variar significativamente, de pequenos fragmentos com 2 hectares até grandes áreas contínuas de até 400 hectares. Em fragmentos maiores e mais preservados, os grupos tendem a explorar áreas mais amplas.

A expectativa de vida dos indivíduos na natureza (in situ) é de até 15 anos, enquanto em ambientes controlados (ex situ), como zoológicos e centros de conservação, esse tempo pode se estender até os 20 anos.

Apesar dos esforços de conservação, o mico-leão-preto ainda enfrenta diversas ameaças que colocam sua sobrevivência em risco:

  • Perda e fragmentação do habitat: o desmatamento da Mata Atlântica e a conversão de áreas florestais em pastagens e plantações isolam populações, dificultando o fluxo genético.
  • Incêndios florestais: queimadas naturais ou provocadas afetam diretamente os habitats, destruindo áreas utilizadas para alimentação, refúgio e reprodução.
  • Atropelamentos: à medida que estradas cruzam fragmentos florestais, aumenta o risco de mortalidade por colisões com veículos.
  • Febre amarela: surtos da doença têm afetado populações de primatas no sudeste brasileiro, incluindo o mico-leão-preto.
  • Mudanças climáticas: alterações no regime de chuvas e temperatura podem comprometer a qualidade do habitat, impactando a disponibilidade de alimento e a estrutura da vegetação nativa.

Essas ameaças reforçam a importância de projetos de conservação integrados, como o conduzido pelo IPÊ, que unem pesquisa científica, restauração florestal, educação ambiental e o engajamento das comunidades locais para garantir a preservação da espécie.

Programa de Conservação Mico Leão Preto 

Pesquisas de campo 

As pesquisas científicas de campo desenvolvidas pelo IPÊ têm como objetivo gerar informações essenciais para orientar as ações de conservação do mico-leão-preto. Para o monitoramento dos indivíduos, a equipe geralmente realiza a captura dos animais diretamente nos ocos de árvores, locais comumente utilizados como abrigo noturno por esses primatas. Essa abordagem exige o uso de técnicas de arvorismo, já que os ocos costumam estar em grandes alturas. Após a captura, os animais passam por uma série de procedimentos, incluindo contenção química, avaliação física, biometria, sexagem, marcação individual e registro fotográfico. Também são coletadas amostras de sangue, fezes, urina, pelos e ectoparasitas, que são utilizadas em estudos sobre genética, níveis hormonais, saúde populacional, parasitologia e ecologia isotópica. Entre os exames laboratoriais realizados destacam-se: hemograma completo, análises bioquímicas, coproparasitológico e sorologias para agentes infecciosos, como o vírus da febre amarela, além de testes para Trypanosoma, Leishmania, Plasmodium e Leptospira.

Monitoramento
  • Acústico Passivo: gravações não invasivas das vocalizações permitem monitorar uso do habitat e estimar densidades populacionais;
  • Armadilhas Fotográficas: registram presença de filhotes, tamanho dos grupos e comportamento;
  • Instalação de ocos artificiais com câmeras auxilia na observação em áreas degradadas, embora apresentem desafios como controle térmico e ocupação por abelhas.
Manejo Populacional
  • Translocações para áreas mais adequadas;
  • Reintroduções em regiões onde a espécie desapareceu;
  • Reforço populacional em locais com baixa densidade, aumentando a diversidade genética.
Manejo do Habitat

A principal estratégia é a restauração florestal, com implantação de corredores ecológicos entre fragmentos e unidades de conservação. Isso facilita o fluxo gênico, amplia a área de vida da espécie e gera renda local, ao integrar comunidades nos processos de recuperação ambiental.

Educação Ambiental

A educação ambiental busca reconectar as pessoas com a natureza, especialmente crianças e jovens da rede pública de ensino. As ações incluem:

  • Desenvolvimento e distribuição de materiais didáticos para professores;
  • Realização de palestras, oficinas e contação de histórias;
  • Atividades em ambientes naturais, como trilhas ecológicas em parques;
  • Criação da “Corrida do Mico”, prevista para 2026, como estratégia lúdica de engajamento e sensibilização da comunidade local.

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