Sharp Power Chinês: Como o lançamento da DeepSeek alterou a política entre nações.

Por Ester P. de A. Santos

Darren Lim e Victor Ferguson (2019), acreditam que a República Popular da China (doravante RCP ou apenas China) pode ser enquadrada no conceito de sharp power, aquele que se utiliza de mecanismos já existentes para atingir seus objetivos de forma coercitiva, persuasiva ou através da barganha. Um exemplo disso é o Belt and Road Initiative (BRI), lançada em 2013 pelo governo chinês, é uma forma legítima coerção econômica. A BRI tem conseguido concessões que privilegiam empresas chinesas em troca de empréstimos para infraestrutura, o que caracteriza a barganha.

Em 2023 foi criada a DeepSeek Artificial Intelligence Co.,Ltd. empresa que é parte da estratégia chinesa que tem como intuito tornar a China líder mundial em AGI [1] até 2030, esta meta foi delimitada em 2017. Para tanto, a China tem realizado investimentos maciços em P&D nos setores público e privado, além do investimento em engenheiros e cientistas de dados que podem impulsionar o mercado de IA na China. Assim, a RCP utiliza a inteligência artificial para influenciar sua política interna e externa, moldando sua posição no sistema internacional e se tendo mais uma forma legítima de persuasão e barganha.

Na política interna, a China usa a IA para garantir a vigilância e a segurança por meio de reconhecimento fácil e monitoramento em massa. Além disso, a IA é aplicada na gestão pública nas cidades inteligentes e por fim, a IA reforça o Grande Firewall que a China utiliza para controlar e filtrar os conteúdos online.

Na política externa, por sua vez, a China faz uso da BRI para exportar tecnologias de IA, as regiões da Ásia, África e América Latina são os principais destinos da diplomacia tecnológica chinesa. Ao exportar sua tecnologia, a China consolida estratégias que aumentam a dependência dos países aliados à sua tecnologia. Essa manobra faz com que a China concorra diretamente com os Estados Unidos (EUA), eixo central do desenvolvimento de inteligência artificial do mundo. A concorrência entre China e EUA na IA tem implicações para a segurança internacional, economia e defesa nacional.

As relações China/EUA e o desenvolvimento de IA para disputarem o primeiro lugar em referência em tecnologia pode acarretar em guerras cibernéticas e automação militar, uma vez que a IA tem sido utilizada na defesa e segurança que impactam diretamente a segurança internacional. Além disso, a criação de uma governança global voltada para a IA se faz iminente, tornando a cooperação entre as nações necessária para criar um ambiente seguro e ético para a utilização dos dados coletados pelas IA.

Assim, a inteligência artificial é um dos pilares centrais da estratégia chinesa para a primeira metade do século XXI. O governo chinês tem utilizado a IA para fortalecer seu controle interno e expandir sua influência na política internacional. O que cabe a nós, por fim, é observar a batalha tecnológica entre China e EUA e esperar que os desafios éticos, políticos e de segurança sejam discutidos e uma governança seja criada. Até lá, observemos a beleza da P&D e as mudanças profundas que a IA gerou em nossas vidas.

[1] A Artificial General Intelligence é um tipo de inteligência artificial que pode compreender, aprender e realizar tarefas semelhantes à inteligência humana.