LINHA DE PESQUISA

Os carrapatos são ectoparasitas que se alimentam do sangue de animais vertebrados (os hospedeiros), sendo vetores versáteis de uma ampla diversidade de patógenos. Dentre os patógenos transmitidos ao homem por carrapatos, Rickettsia rickettsii, agente etiológico da febre maculosa brasileira (FMB – para mais informações sobre a doença, acesse o link), é um dos mais letais. R. rickettsii pode se perpetuar por gerações subsequentes nas populações de carrapatos de áreas endêmicas para a FMB, pois apresenta transmissão transovariana (transmissão da mãe para a progênie), além da transmissão transestadial (de um estádio para outro do ciclo de vida do carrapato). Ou seja, os carrapatos, além de vetores, são reservatórios da bactéria na natureza.

No Brasil, R. rickettsii é transmitida ao homem pela picada dos carrapatos Amblyomma sculptum e Amblyomma aureolatum. Essas duas espécies de carrapatos apresentam diferenças marcantes em relação à susceptibilidade à infecção por R. rickettsii (A. sculptum é bem menos susceptível que A. aureolatum). Nosso grupo de pesquisa reportou anteriormente que os genes de A. sculptum modulados pela infecção por R. rickettsii são majoritariamente induzidos no intestino dos carrapatos, incluindo componentes do sistema imune, enquanto em A. aureolatum a maioria dos genes é reprimida. Também mostramos que o intestino de A. aureolatum apresenta uma microbiota proeminente, enquanto o intestino de A. sculptum é praticamente estéril. Em conjunto, esses dados sugerem que a microbiota, ao invés de ativar, dessensibilize o sistema imune no intestino de A. aureolatum, criando um ambiente favorável para o estabelecimento de R. rickettsii. Nós também já demonstramos que a microplusina, um peptídeo antimicrobiano, é um dos fatores imunes envolvidos no controle da infecção por R. rickettii no intestino de A. aureolatum. A apoptose também atua na defesa contra patógenos, uma vez que a morte programada da célula infectada impede a disseminação da infecção para as células adjacentes. Interessantemente, mostramos que R. rickettsii apresenta a propriedade de inibir a apoptose de células de carrapatos, favorecendo o seu crescimento. 

A transmissão de R. rickettsii para o hospedeiro vertebrado ocorre via saliva dos carrapatos. Ensaios imunológicos preliminares apontaram algumas proteínas da saliva de A. sculptum que possuem a capacidade de estimular tanto a imunidade celular quanto humoral no modelo murino, sendo potencias alvos para o bloqueio da transmissão da bactéria.

Os estudos em andamento no laboratório têm como objetivo caracterizar os fatores moleculares e celulares envolvidos nas interações entre R. rickettsii, seus vetores, a microbiota e o hospedeiro vertebrado, de modo a identificar alvos para o desenvolvimento de estratégias para o controle da FMB. Para isso, utilizamos diferentes técnicas, tais como RNA de interferência, PCR quantitativa, análises metagenômicas e citometria de fluxo. Para o desenvolvimento dos projetos, contamos não só com a infraestrutura do LBIA, mas também dos laboratórios dos nossos colaboradores e do laboratório de biossegurança 3 (NB-3) do Departamento de Parasitologia do ICB-USP, idealizado e implementado pelos Profs. Drs. Andrea Fogaça e Carsten Wrenger.