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Argumento do Colóquio

Argument du Colloque

Argumento del Coloquio

XV Colóquio internacional do LEPSI/ VII Congresso da rede INFEIES de  Psicanálise, Política e Educação: “ A nova ordem escolar “

 A nova ordem escolar

Sob o olhar atento de muitos pesquisadores, a escola tem sido frequentemente diagnosticada como excessivamente rendida ao mercado. Não apenas enquanto um lugar a mais onde o mercado poderia vender seus produtos – sempre imprescindíveis como nos faz crer a propaganda – mas, sobretudo, como um lugar estratégico para disseminar a lógica que ele precisa para se fortalecer ideologicamente e para produzir a massa de consumidores que ele necessita para engordar sua conta.
Da escola não se espera mais que crie cidadãos – mesmo que os discursos oficiais digam o contrário – mas que ela desenvolva um “capital humano.” (Laval, 2004). A expressão entrou no vocabulário contemporâneo sem causar escândalo, uma vez que se fez parecer razoável comprometer cada criança, cada jovem, o mais cedo possível com um grande projeto de desenvolvimento econômico – cujos matizes não são os mesmos quando estamos do lado de cima ou de baixo da linha do Equador – mais que social, no qual as crianças e jovens teriam interesse em entrar para melhorar suas competências e sua condição de competitividade. A mão que balança o berço é a mão invisível do mercado!
A ameaça ecológica flagrante e o aumento generalizado do desemprego no mundo são sinais difíceis de esconder dos jovens que já perceberam – mesmo quando estão tomados na sedução desse grande projeto de expansão sem limites da lógica concorrencial e do consumo – que talvez haja uma parte desta canção de ninar que não está bem cantada.
Talvez não seja por acaso que a jovem Greta Thunberg, ícone da denúncia radical ao engodo deste projeto, tenha exatamente escolhido a greve à escola como o ato decisivo para encaminhar seu protesto. Ainda que possamos relativizar o alcance de sua crítica pelo que ela pode comportar quanto à importância da escola, ela parece ter entendido o lugar onde se inicia o sequestro dos jovens para compor o exército do capital humano. Por que marchariam, ao passo de seus sequestradores, rumo ao desfiladeiro que se anuncia evidente logo aí à frente? Sem ter nenhum cargo político influente, a jovem Greta retira sua autoridade exatamente de sua juventude ameaçada por um futuro sem futuro. E mesmo as tentativas de atribuir a ela desvios patológicos ou um suposto oportunismo político de conveniência, não foram capazes de conter a verdade de seu protesto que ganhou o mundo. É o “retorno da verdade na falha de um saber”, diria, provavelmente, Lacan.
A um psicanalista, a expressão “capital humano” não passa sem escandalizar, porquanto ela testemunha a forma provavelmente mais bem acabada da supressão do sujeito. A vitória da economia sobre a política – ou como sublinhou Hannah Arendt, da sociedade sobre a pólis (Arendt, 1999) – promoveu uma inflação do indivíduo, na mesma proporção que uma desidratação do sujeito. No lugar do trágico, habitat próprio ao sujeito, surge o épico de um indivíduo cada vez mais “empresário de si mesmo”, conforme fórmula desenvolvida por Laval (2004)
Este deve buscar crescer infinitamente, transformar suas relações em transações, confundir felicidade com sucesso. Quando fraquejar e deprimir poderá buscar ajuda, em geral, em coachings ou terapias comportamentais que prometem devolver a ele sua adaptabilidade e motivação necessárias para retomar sua competitividade no jogo. Sabemos o fim deste indivíduo épico, sempre pronto a competir: o esgotamento e a medicação.
Quanto à escola, por sua vez, ali aonde exatamente o projeto grego da skolé a havia criado como o lugar do ócio – tempo de entrada na esfera pública, livre das obrigações econômicas de subsistência, que é ofertado ao jovem para que ele aprenda a dominar suas paixões (pathos) através do exercício da razão (ratio) – ela se vê convidada a participar, junto com todo o projeto social que a legitima e a condiciona, como mais um lugar de neg-ócio.
Caberia à escola do negócio não mais estimular o controle das paixões, mas, ao contrário, insuflá-las ao máximo para que alimentem o consumo no extenso mercado da sedução dos produtos. Mas como sublinhou Christian Laval, este projeto de transformação da escola em uma empresa encontrou e encontra resistências que o têm impedido de consumar seus objetivos. Certas contradições internas, um mal-estar que ele gera, a dificuldade, enfim, para suprimir por completo o sujeito, permitem a existência de um espaço a ser explorado pelas vozes que salvaguardam o sujeito.
A psicanálise – e em especial quando ela se dedica a pensar o campo da educação – tem muito a dizer sobre este estado de coisas. Ou melhor, tem muito a fazer dizer sobre este estado de coisas, tarefa que caracteriza melhor sua posição discursiva. Mas sustentar esta posição num mundo que tenta suprimir o valor político da palavra exige vigor e assertividade. As questões axiais que alimentaram o debate da psicanálise com a escola republicana – as vicissitudes da questão intergeracional; a dimensão transferencial na relação professor-aluno; a impossível mestria pedagógica da educação; a resistência estrutural do sujeito à educação ideal, e tantas outras – se encontram ameaçadas de se tornarem obsoletas, no mesmo gesto que visa tornar obsoleta a própria escola republicana em prol daquela da ordem empresarial.
Convidamos a todas e todos a renovar conosco esse vigor e essa assertividade, mais importantes do que nunca ao psicanalista, sobretudo, àquele que se dedica às questões da educação. Em defesa da escola, em defesa do sujeito, nos proporemos os temas que permitem abarcar o âmago desta pretensa nova ordem escolar. A ver o que produziremos nesta travessia!

Referências:

Arendt, H. A condição humana, Rio de Janeiro, Forense universitária, 1999.

Laval, C. A escola não é uma empresa, Londrina, Editora Planta, 2004.

 

 

Le nouvel ordre scolaire

 

Sous le regard  attentif de nombreux chercheurs, l’école a souvent été diagnostiquée comme étant trop cédante au marché. Non seulement comme lieu supplémentaire où le marché pourrait vendre ses produits – toujours indispensables comme le laisse croire la publicité – mais, surtout, comme lieu stratégique pour diffuser la logique dont il a besoin pour se renforcer idéologiquement et produire la masse de consommateurs qu’il nécessite pour augmenter sa richesse.

On n’attend plus de l’école qu’elle crée des citoyens – même si les discours officiels disent le contraire – mais qu’elle développe le « capital humain ». (Laval, 2004). Cette expression est entrée dans le vocabulaire contemporain sans faire scandale, puisqu’elle a fait paraître raisonnable d’engager chaque enfant, chaque jeune, le plus tôt possible dans un grand projet de développement économique – dont les nuances ne sont pas les mêmes que l’on soit du côté supérieur ou inférieur de l’équateur – plus que social, auquel les enfants et les jeunes seraient intéressés à entrer pour améliorer leurs compétences et leur compétitivité. La main qui berce le berceau est la main invisible du marché !

La menace écologique flagrante et l’augmentation généralisée du chômage dans le monde sont des signes difficiles à cacher aux jeunes qui en ont déjà pris conscience – même lorsqu’ils se laissent séduire par ce grand projet d’expansion illimitée de la logique de la concurrence et de la consommation – qu’il y a peut-être une partie de cette séduction  qui n’est pas bien racontée.

Ce n’est peut-être pas un hasard si la jeune Greta Thunberg, icône de la dénonciation radicale de la tromperie de ce projet, a choisi la grève scolaire comme acte décisif pour mener à bien sa protestation. Même si l’on peut relativiser la portée de sa critique en fonction de ce qu’elle peut impliquer quant à l’importance de l’école, elle semble avoir compris où commence le kidnapping des jeunes pour former l’armée du capital humain. Pourquoi marcheraient-ils, au rythme de leurs ravisseurs, vers le précipice qui apparaît évident juste devant eux ? Sans avoir aucune position politique influente, la jeune Greta prend son autorité justement de sa jeunesse menacée par un avenir sans avenir. Et même les tentatives visant à lui attribuer des déviations pathologiques ou un prétendu opportunisme politique de complaisance n’ont pas réussi à détenir la vérité de sa protestation qui a conquis le monde. C’est le « retour de la vérité dans l’échec du savoir », dirait sans doute Lacan.

Pour un psychanalyste, l’expression « capital humain » ne rentre pas dans la scène sans scandale, car elle témoigne de la forme probablement la plus complète de suppression du sujet. La victoire de l’économie sur la politique – ou, comme le souligne Hannah Arendt, de la société sur la polis (Arendt, 1999) – a favorisé une inflation de l’individu, dans la même proportion qu’une déshydratation du sujet. À la place du tragique, habitat propre du sujet, surgit l’épique d’un individu de plus en plus « entrepreneur de lui-même », selon la formule développée par Laval (2004).

Cette personne doit chercher à se développer à l’infini, transformer ses relations en transactions et confondre bonheur et réussite. Lorsqu’il devient faible et déprimé, il peut généralement demander l’aide d’un coaching ou de thérapies comportementales qui promettent de lui redonner l’adaptabilité et la motivation nécessaires pour retrouver sa compétitivité dans le jeu. On connaît la fin de cet individu épique, toujours prêt à concourir : l’épuisement et les médicaments.

Quant à l’école, à son tour, là où précisément le projet grec de skolé l’avait créée comme lieu de oisivité – temps d’entrée dans la sphère publique, libre des obligations économiques de subsistance, qui est offert aux jeunes pour qu’ils apprennent à maîtriser ses passions (pathos) par l’exercice de la raison (ratio) – elle se retrouve invitée à participer, avec tout le projet social qui la légitime et la conditionne, comme un autre lieu d’affaires.

Il convenait à cette  école des affaires  de ne plus encourager la maîtrise des passions, mais au contraire de les gonfler au maximum pour qu’elles alimentent la consommation sur le grand marché de la séduction des produits. Mais comme le souligne Christian Laval, ce projet de transformation de l’école en entreprise s’est heurté à des résistances qui l’ont empêché d’atteindre pleinement ses objectifs. Certaines contradictions internes, le malaise qu’elle génère, enfin, la difficulté de supprimer complètement le sujet, permettent l’existence d’un espace à explorer par les voix qui sauvegardent le sujet.

La psychanalyse, surtout lorsqu’elle se consacre à la réflexion sur le domaine de l’éducation, a beaucoup à dire sur cet état de fait. Ou plutôt, elle a beaucoup à faire dire sur cet état de choses, rôle qui caractérise le mieux sa position discursive. Mais maintenir cette position dans un monde qui essaie de supprimer la valeur politique de la parole nécessite de la vigueur et de la fermeté. Les questions axiales qui ont alimenté le débat entre la psychanalyse et l’école républicaine – les vicissitudes de la question intergénérationnelle ; la dimension transférentielle dans la relation enseignant-élève ; l’impossible maîtrise pédagogique de l’éducation ; les résistances structurelles du sujet à l’éducation idéale, et bien d’autres – sont menacées de devenir obsolètes, dans le même geste qui vise à rendre obsolète l’école républicaine au profit de celle de l’ordre de l’entreprise.

Nous invitons chacun à renouveler avec nous cette vigueur et cette fermeté, plus que jamais importantes pour les psychanalystes, notamment ceux qui se consacrent aux questions d’éducation. Pour la défense de l’école, pour la défense du sujet, nous proposerons des thèmes qui permettent d’appréhender les socles de ce prétendu nouvel ordre scolaire.Il faut voir ce que nous produisons sur cette traversée !

 

El nuevo orden escolar

 

Bajo la atenta mirada de muchos investigadores, a menudo se ha diagnosticado que la escuela se entrega excesivamente al mercado. No sólo como un lugar adicional donde el mercado podría vender sus productos –siempre imprescindibles como nos hace creer la publicidad– sino, sobre todo, como un lugar estratégico para difundir la lógica necesaria para fortalecerse ideológicamente y producir la masa de consumidores que necesita para  engordar su saldo.

Ya no se espera que las escuelas formen ciudadanos –aunque los discursos oficiales digan lo contrario– sino que desarrollen “capital humano”. (Laval, 2004). La expresión entró en el vocabulario contemporáneo sin causar escándalo, ya que parecía razonable comprometer a cada niño, a cada joven, lo antes posible en un gran proyecto de desarrollo económico – cuyos matices no son los mismos si estamos en la parte superior, o  inferior del Ecuador – más que social, en el que los niños y jóvenes estarían interesados ​​en ingresar para mejorar sus habilidades y competitividad. ¡La mano que mece la cuna es la mano invisible del mercado!

La flagrante amenaza ecológica y el aumento generalizado del desempleo en el mundo son signos difíciles de ocultar a los jóvenes que ya se han dado cuenta –incluso cuando están atrapados en la seducción de este gran proyecto de expansión ilimitada de la lógica de la competencia y consumo – que quizás hay una parte de esta seducción que no está bien explicada.

Quizás no sea casualidad que la joven Greta Thunberg, ícono de la denuncia radical del engaño de este proyecto, haya elegido la huelga escolar como el acto decisivo para llevar a cabo su protesta. Si bien podemos relativizar el alcance de su crítica en función de lo que puede implicar respecto de la importancia de la escuela, ella parece haber comprendido el lugar donde comienza el secuestro de los jóvenes para formar el ejército del capital humano. ¿Por qué marcharían, al ritmo de sus secuestradores, hacia el desfiladero que parece evidente justo delante? Sin tener ninguna posición política influyente, la joven Greta extrae su autoridad precisamente de su juventud amenazada por un futuro sin futuro. E incluso los intentos de atribuirle trastornos patológicas o supuestos oportunismos políticos de conveniencia no lograron contener la verdad de su protesta que conquistó al mundo. Es el “retorno de la verdad en el fracaso del saber”, diría probablemente Lacan.

Para un psicoanalista, la expresión “capital humano” no pasa sin escándalo, ya que atestigua la forma probablemente más completa de supresión del sujeto. La victoria de la economía sobre la política –o, como destacó Hannah Arendt, de la sociedad sobre la polis (Arendt, 1999)– promovió una inflación del individuo, en la misma proporción que una deshidratación del sujeto. En lugar de lo trágico, el propio hábitat del sujeto, emerge la épica de un individuo cada vez más “empresario de sí mismo”, según la fórmula desarrollada por Laval (2004).

Esta persona debe buscar desarrollarse infinitamente, transformar sus relaciones en transacciones y confundir felicidad con éxito. Cuando se debilita y se deprime, generalmente puede buscar ayuda de un coaching o en las terapias conductuales que prometen restaurar la adaptabilidad y la motivación necesarias para recuperar su competitividad en el juego. Conocemos el final de este individuo épico, siempre dispuesto a competir: el agotamiento y la medicación.

En cuanto a la escuela, a su vez, donde precisamente el proyecto griego de skolé la había creado como lugar de ocio – tiempo que se ofrece a los jóvenes para entrar en la esfera pública, libre de las obligaciones económicas de subsistencia, para que puedan aprender a dominar sus pasiones (pathos) mediante el ejercicio de la razón (ratio) – se ve invitada a participar, junto con todo el proyecto social que la legítima y condiciona, como un lugar más de negocios.

Correspondería a la escuela del negocio ya no fomentar el control de las pasiones, sino, por el contrario, inflarlas al máximo para que alimenten el consumo en el amplio mercado de la seducción de productos. Pero, como destacó Christian Laval, este proyecto de transformar la escuela en una empresa ha encontrado resistencias que le han impedido alcanzar, ampliamente, sus objetivos. Ciertas contradicciones internas, un malestar que genera, la dificultad, en definitiva, de suprimir completamente al sujeto, permiten la existencia de un espacio para ser explorado por las voces que salvaguardan al sujeto.

El psicoanálisis, especialmente cuando se dedica a pensar el campo de la educación, tiene mucho que decir sobre este estado de cosas. O más bien, tiene mucho que hacer decir sobre este estado de cosas, tarea que caracteriza mejor su posición discursiva. Pero sostener esta posición en un mundo que intenta suprimir el valor político de las palabras requiere vigor y asertividad. Las cuestiones axiales que alimentaron el debate entre psicoanálisis y escuela republicana –las vicisitudes de la cuestión intergeneracional; la dimensión de transferencia en la relación profesor-alumno; el imposible dominio pedagógico de la educación; la resistencia estructural del sujeto a la educación ideal, y muchas otras – corren el riesgo de volverse obsoletas, en el mismo gesto que pretende hacer obsoleta la propia escuela republicana en favor de la del orden empresarial.

Invitamos a todos a renovar con nosotros este vigor y asertividad, que son más importantes que nunca para los psicoanalistas, especialmente aquellos que se dedican a temas de educación. En defensa de la escuela, en defensa del sujeto, propondremos temas que nos permitan abarcar el núcleo de este supuesto nuevo orden escolar. Vamos a ver lo que producimos en este caminar!