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Universidade de São Paulo

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Prof. Dr. Valdeir Arantes – EEL USP

Elaborado por Tatiane Tobias (10/17/2022)

No dia 10 de outubro foi publicado pela Elsevier BV o estudo Updated science-wide author databases of standardized citation indicators, conduzido por John P.A. loannidis, que atualiza o ranking de cientistas mais influentes do mundo para o ano de 2021. Os dados foram retirados do ICSR Lab da Elsevier considerando o perfil dos pesquisadores no banco de dados Scopus em 1º de setembro de 2022, para uma atualização do estudo que é realizado anualmente desde 2019.
Os cientistas foram classificados em 22 campos e 176 subcampos científicos. De acordo com a UNESCO, em 2018 existiam cerca de 8,9 milhões de pesquisadores no mundo, sendo 200 mil brasileiros em 2016, de acordo com o CNPq. A seleção dos pesquisadores foi baseada nos 100.000 melhores cientistas, além de incluir os 2% melhores por subcampo de pesquisa (para todos os cientistas com pelo menos 5 artigos publicados). Os dados foram apresentados em duas categorias: impacto ao longo da carreira e impacto ao longo do ano de 2021. O Brasil foi representado por um total de 844 pesquisadores na categoria carreira e 1212 pesquisadores na categoria anual referente a 2021. Os dados indicam avanço da produção científica do Brasil em relação aos rankings divulgados no ano passado.
O Prof. Dr. Valdeir Arantes representa o Brasil na categoria anual desde 2020 (referente ao ano de 2019) na área de pesquisa Tecnologias facilitadoras e estratégicas e subáreas Polímeros e Biotecnologia. Valdeir é Professor Doutor na Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo. Ele coordena o laboratório NanoBiotech que tem como missão de desenvolver, aprimorar e avaliar técnico e economicamente tecnologias sustentáveis de processos biocatalíticos e biotecnológicos para a conversão eficiente de materiais renováveis em bioprodutos e biomateriais como micro e nanoceluloses.

Dentre tantos cientistas, como os mais influentes foram selecionados?
Para responder essa pergunta precisamos entender como é medido o impacto da ciência. Existe uma área de pesquisa denominada Cientometria que se dedica a estudar os aspectos quantitativos da ciência e tecnologia vistos como um processo de comunicação. Entre os principais temas estudados estão formas de medir a qualidade e o impacto da pesquisa, o que na prática se desenvolveu em torno do conceito de citação (menção de um estudo anterior para esclarecer ou fundamentar ideias).
O índice de citação (cc, citation count) indica o total de citações acumuladas durante um período de tempo, ou seja, a produtividade. O principal indicador comparativo de citações usado é o de citações por artigo (cpp, citation per publication), que indica o impacto médio de citação de cada publicação, ou seja, o impacto científico. Um indicador proposto por Hirsch em 2005 e amplamente aceito, combina em um único número tanto impacto como produtividade. O índice h é determinado pelo número de artigos publicados por um autor que tenham citações igual ou maiores que esse número. Por exemplo, dizer que um pesquisador tem índice h igual a 6 significa que ele tem pelo menos 6 publicações que receberam pelo menos 6 citações cada uma. Schreiber propôs em 2008 o índice hm, que leva em consideração a coautoria de publicações para redução do índice h, de forma a dividir as citações entre os autores.
Apesar da intenção de quantificar o impacto da ciência e dos cientistas da melhor forma possível, por meio de diversos indicadores propostos além dos apresentados neste texto, algumas preocupações com relação ao uso desses indicadores foram apresentadas no Manifesto de Leiden em 2015. Visto que, se mal utilizados, esses indicadores podem prejudicar tanto os cientistas como uma determinada linha de pesquisa ou instituição. Sabe-se que utilizar apenas o índice de citação pode levar a conclusões tendenciosas ao se comparar autores, visto que a velocidade, frequência e volume de publicações são diferentes em cada campo científico. Outra preocupação é com relação a autocitação (menção de um estudo anterior do próprio autor), que pode ser utilizada para inflar os números de citações.
Portanto, para selecionar os pesquisadores mais influentes do mundo, o estudo utilizou métricas para avaliar o real impacto científico que esses pesquisadores promovem, por meio de múltiplos indicadores como número de citações com e sem autocitação, índice h e hm, entre outros, resultando em um indicador composto. Dentre os países com mais pesquisadores influentes na publicação estão os Estados Unidos, China e Reino Unido.

Por que o resultado desse estudo é importante para o Brasil?
O país vem enfrentando uma frequente desvalorização da ciência, com recursos públicos para a pesquisa e desenvolvimento de ciência e tecnologia cada vez mais escassos. Esse cenário tem levado à chamada fuga de cérebros, que levou pesquisadores como a neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel (também na lista dos cientistas mais influentes do mundo, agora representando os Estados Unidos) a deixar o Brasil por falta de financiamento para dar continuidade às suas pesquisas.

Gastos em C&T realizados pelo CNPq, Capes e FNDCT entre 2000 e 2020.

Fonte: Ipea (2021)

Tendo em vista as condições de trabalho dos pesquisadores no Brasil, mesmo com falta de financiamento e desprestígio da ciência por parte do governo brasileiro, esses cientistas conseguiram manter a excelência de suas pesquisas. A persistência desses pesquisadores nos dá esperança e nos encoraja a lutar para que o povo brasileiro reconheça seu grande potencial científico, valorize o investimento em ciência e tecnologia e possa colher os frutos dessas ações no futuro.[:]