Amélia Americano Franco Domingues de Castro

(1900-1993) (Cliquez ici pour voir la version française)

 

Amélia Americano Franco Domingues de Castro, filha de Severino Ribeiro Franco e Alice Americano Franco, nasceu em 27/12/1920 na cidade do Rio de Janeiro, onde viveu até seus dez anos de idade, período no qual cursou o ensino primário no Colégio Jacobina. Ao mudar-se com a família para São Paulo, continuou seus estudos no Instituto de Educação Caetano de Campos, concluindo então o Curso Ginasial Fundamental em 1937. Sempre mostrando-se uma aluna bastante aplicada e incentivada pela família a prosseguir os estudos, em 1938 Amélia ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL/USP), na qual foi aluna de professores que atuaram na fundação desta universidade, como Francisco da Silveira Bueno e Eurípedes Simões de Paula. O domínio de outros idiomas foi um fator importante para acompanhar as aulas dos professores franceses e também para a realização da leitura da bibliografia indicada em seus cursos. A vida movimentada do ambiente universitário vivenciada naquele momento era marcada pelo convívio dos estudantes dos variados cursos da FFCL em aulas e ambientes partilhados coletivamente, ocupados pela faculdade neste período, como os prédios da Escola Normal Caetano de Campos, do Liceu de Artes e Ofícios e da rua Maria Antônia, onde Amélia licenciou-se em Geografia e História em 1941.

Em 1942, aos 22 anos, casou-se com o advogado Luiz Domingues de Castro, com quem teve três filhos: Amélia, Suzana e Luiz. Concomitantemente à realização do curso superior, a professora passou a lecionar no cursinho que oferecia aulas preparatórias para ingresso na universidade, levando-a a estudar ainda mais – e dedicando-se inclusive à preparação de suas aulas na biblioteca durante o contraturno – os conteúdos abordados nas aulas que assistia na faculdade, assim como os conteúdos de Didática. Desta forma, destacando-se entre os demais alunos pelo desempenho discente, pela aplicação com que realizava os trabalhos e pela atuação já como professora ao longo da graduação, ao concluir a licenciatura passou a integrar a Cadeira de Didática Geral e Especial da FFCL/USP como professora assistente substituta no mesmo ano em que se formou, com apenas 21 anos de idade. Em 1943, dois anos mais tarde, tornou-se então a primeira assistente da Cadeira. Entre 1941 e 1961, a professora ministrou a disciplina Didática Especial de Geografia e História. No ano de 1950, obteve o título de Doutora em Educação na FFCL/USP ao defender a tese intitulada “Princípios do método no ensino de História”. Após doutorar-se, realizou uma nova licenciatura, dessa vez em Filosofia. O curso foi concluído em 1953, pela mesma faculdade. Neste ano começou a lecionar também Didática Especial de Filosofia, até o ano de 1961. Na modalidade de extensão, cursou “Modernas Teorias da Personalidade”, em 1952, e “Psicologia Industrial”, em 1953, ambos oferecidos pela FFCL, cursou ainda “Instrução Programada”, em 1965, ministrado pela Sociedade de Psicologia de São Paulo.

A disciplina Didática Geral foi ministrada pela professora desde 1956 até sua aposentadoria na USP. Trabalhando na Cadeira de Metodologia Geral do Ensino em um momento no qual a mesma era composta, em sua maioria, por licenciados, especialistas provenientes de todas as seções da FFCL, atuou junto à formação didática do grupo mediante a organização dos “Seminários de Didática”, nos quais era dada ênfase ao estudo das bases psicogenéticas da Didática. Leitora ávida de autores escolanovistas europeus como Édouard Claparède e Jean-Ovide Decroly, e americanos, como John Dewey e Willian Heard Kilpatrick, Amélia ainda foi uma das pesquisadoras pioneiras a difundir as ideias de Jean Piaget no Brasil. É importante ressaltar, neste aspecto, o seu trabalho de articular a teoria de Piaget à prática pedagógica. Influenciados pelo Movimento da Escola Nova e as teorias psicológicas vigentes na época, juntamente com Onofre de Arruda Penteado Junior, também professor de Didática da FFCL, a professora integrou o grupo de docentes que analisou a obra de Hans Aebli, que propunha a aplicação da teoria piagetiana à didática. Tal análise representou um grande avanço para o estudo da psicologia genética e sua difusão através dos cursos na universidade e das publicações então decorrentes. Dentre os vários livros publicados pela professora Amélia, cabe destacar alguns títulos, entre eles: “Fundamentos psicológicos da didática: enfoque piagetiano”, “Didática da escola média: teoria e prática”, “Bases para uma didática do estudo (na perspectiva do desenvolvimento intelectual)”, “Piaget e a pré-escola brasileira”, “Didática para a escola de 1º e 2º graus”, “Ensinar a ensinar: didática para a escola fundamental e média”, este organizado em colaboração com a também professora da USP, Anna Maria Pessoa de Carvalho, que foi sua orientanda de doutorado.

Em 1966, participou da instalação do primeiro “Curso de Pós-Graduação em Metodologia do Ensino Médio” da Universidade de São Paulo. No que tange à colaboração com outras instituições, cabe destacar sua participação em cursos ministrados no Centro Regional de Pesquisas “Professor Queiroz Filho” de São Paulo, tomando como temas “Métodos Ativos”, “Planos, programas e métodos”, “Problemas educativos da América Latina”, entre outros. Participou ainda da fundação do “Centro de Treinamento para professores de Ciências de São Paulo”, atuando junto ao seu Conselho Administrativo. Além de sua atuação como docente da universidade, Amélia foi ainda diretora do Colégio de Aplicação em 1961, além de ter dirigido o Serviço de Orientação Pedagógica que nele funcionava. Em 1963, obteve a livre-docência na FFCL da USP, com a tese “Bases para uma Didática do Estudo”. De 1967 a 1974, foi conselheira do Conselho Estadual de Educação. Ao aposentar-se na USP, tornou-se docente da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas. Em 1984, a professora tomou posse na Academia Paulista de Educação.

Em um período no qual o acesso ao ensino superior era raro para todos, ainda mais para as mulheres, a professora Amélia merece destaque também como uma das primeiras alunas a integrar o corpo discente na recém-fundada Universidade de São Paulo e, após formada, ao tornar-se ainda uma das primeiras docentes da instituição. Seus trabalhos sobre as bases psicogenéticas da Didática até hoje constituem referência na área. De 1994 a 2000, a professora foi conselheira do Conselho Municipal de Educação. Construindo uma carreira no ensino superior que lhe trouxe reconhecimento em várias instâncias, dada sua atuação tão significativa tanto no ensino, quanto na pesquisa e na extensão, cabe ressaltar ainda que é o único caso de docente a receber o título de “Professor Emérito” pelas três Universidades estaduais paulistas: USP, UNESP e UNICAMP.

 

A produção existente em história da educação sobre a educadora

A tese de doutorado de Mário Sérgio Vasconcelos não foi realizada na área de história da educação mas, ao recuperar historicamente o processo de difusão das ideias de Jean Piaget no Brasil, refere-se à atuação da professora Amélia Americano Domingues de Castro na universidade e à importância de suas pesquisas.

 

Palavras-chave: Ensino Superior, Didática, Formação de professores

 

Referências:

FÉTIZON, Beatriz Alexandrina de Moura. A Universidade e sua alma endemoninhada. São Paulo: FEUSP, 2012. Série Estudos & Documentos, v. 45.

VASCONCELOS, Mário Sérgio. “A difusão das ideias de Piaget no Brasil” (1995). IP-USP, São Paulo, SP, Brasil.

 

Arquivos:

Arquivo Geral da Universidade de São Paulo

 

Autoria: Katiene Nogueira da Silva