Botyra Camorim

(São Paulo, 03/03/1910 – Mogi das Cruzes, 1992) (Cliquez ici pour voir la version française)

Botyra Camorim foi professora primária no Estado de São Paulo entre os anos de 1929 e 1959. Nascida em 3 de março de 1910 na cidade de São Paulo, Botyra Camorim era filha do italiano Felício Camuri e da carioca Hermínia Villaça. Ela viveu a infância e juventude no bairro do Brás, onde também se deu toda sua formação escolar.No ano de 1917, portanto aos 7 anos de idade, ingressou no Curso Primário anexo à Escola Normal do Brás. Nessa mesma instituição diplomou-se professora primária no ano de 1928.

Em 1929, ela casou com o contador mineiro Carlos da Silveira Gatti, com quem teve cinco filhos. A partir de 1930 iniciou sua atuação docente. Embora tenha atuado na maior parte de sua carreira em escolas rurais, assumiu cadeira nos diversos tipos de escolas que compunham o sistema pública de ensino paulista, isto é, Escolas Isoladas, Reunidas e Grupo Escolar.

A experiência de Botyra nesses diferentes tipos de escola se torna componente de uma estrutura literária porque, após a aposentadoria, ela se dedica à carreira de escritora. Além da autobiografia “Uma vida no magistério”, publica um conjunto de outros livros, bem como pequenos textos na Revista do Professor do Centro do Professorado Paulista (CPP).

Vencido o período de isolamento na escola rural, Botyra passa a ter uma intensa atuação na cidade de Mogi das Cruzes, onde fixou residência até a sua morte em 1992. Nessa cidade, fundou, juntamente com os alunos do Instituto de Educação, o Centro Mello Freire de Culta. Recebeu o título de intelectual do ano em 1966 “pela sua constante atividade intelectual”; e o de cidadã mogiana em 1968. Em 1969, foi sócia fundadora e a primeira diretora da Associação de Pais e Amigos dos excepcionais (APAE) de Mogi das Cruzes. O Centro de Esportes e Lazer de Mogi das Cruzes, desde 1992, ano de sua morte, chama-se Botyra Camorim Gatti.

Além das publicações mencionadas, colaborou na extinta revista Jornal das Moças do Rio de Janeiro, de 1933 a 1945; na Tribuna de Cachoeira Paulista; na revista Perspectiva, da Escola de Pais de Mogi das Cruzes; n’A Gazeta de São Paulo; e, na página feminina Suzana Rodrigues do Diário de São Paulo.

No trânsito entre o universo literário e o magistério primário, a trajetória de Botyra e sua produção nos ajudam a compreender as possibilidades de escolarização da mulher na primeira metade do século XX, os dilemas entre ser mãe e professora, os desafios para ascensão na carreira, representações do trabalho docente, nesse mesmo período.

Essa produção também indicia a relação de Botyra com as inovações no ensino. A partir das relações estabelecidas como professora e diretora do Curso Primário anexo à Escola Normal do Instituto de Educação de Mogi das Cruzes, ela passa a publicar na Revista do Professor e defender que os professores não devem resistir às inovações pedagógicas. Botyra defende a aplicação dos testes psicológicos como a solução para o “magno problema do ensino primário”, o analfabetismo. Ela afirma, em artigo publicado no ano de 1959, que “as dificuldades só serão sanadas quando o professor compreender que só poderá ensinar a criança quando souber conhecê-la” (CAMORIM, 1959, p.15).

O conhecimento da criança é uma das preocupações da professora Botyra. Segundo ela, “Está provado que o interesse pela criança e o conhecimento do seu desenvolvimento, contribui muito para o progresso da educação escolar (CAMORIM, 1959, p.15)”. Para tanto, ela cita estudiosos do assunto como W. Rasmussen, George Vermeylen, Maria Montessori, Florence Goodenough, Divo Marion (Psicologia do Desenho da Criança), Silvio Rabelo (Psicologia do Desenho Infantil), Luquet (Desenho Infantil), dentre outros. Segundo a professora, eles “[…] provaram que as crianças desenham de maneira idêntica e que o desenvolvimento mental de cada uma, está de acôrdo com o desenvolvimento mental do desenho” (CAMORIM, 1959, p.15).

Ela informa, ainda, que os testes psicológicos eram aplicados no início de cada ano no Curso Primário do Instituto de Educação: “ao iniciar o ano letivo, era e é, por certo, ainda feito, o teste do desenho. O trabalho de cada aluno era avaliado em pontos e assim tinham o Q.I., isto é, o quociente intelectual. Verificada a idade mental de cada aluno, o professor sabia como agir em classe” (CAMORIM, 1962, p. 33). Sobre as inovações pedagógicas na escola rural, relata que apesar do insucesso, tentou plantar horta e criar bicho de seda para globalizar o ensino. Botyra foi premiada no IV centenário da cidade de São Paulo pelo alto índice de alfabetização de crianças.

 

A produção existente em história da educação sobre a educadora

Sobre a trajetória e atuação da professora Botyra Camorim há apenas dois trabalhos. A dissertação de mestrado de Wiara Alcântara, defendida na FEUSP, no ano de 2009, sob orientação da profa. Dra. Diana Vidal e um artigo publicado por Denice Catani e Paula Vicentini, no ano de 2003.

 

Palavras-chave: Profissão docente; autobiografia; escola rural; inovações pedagógicas.

 

Referências bibliográficas

ALCÂNTARA, Wiara Rosa Rios (2008). Uma vida no magistério: fios e meadas da história de uma professora paulista. Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo (USP). Faculdade de Educação. São Paulo.

CATANI, D. B.; VICENTINI, Paula Perin (2003). Minha vida daria um romance: lembranças e esquecimentos, trabalho e profissão nas autobiografias de professores. In: Ana Christina Venancio Mignot; Maria Teresa Santos Cunha. (Org.). Práticas de memória docente. São Paulo: Cortez, p. 149-166.

 

Arquivos:

Arquivo da Escola Normal do Brás

Autoria: Wiara Rosa Alcântara