Maria Antonieta de Castro

(Itapetininga, 1892- São Paulo,1984) (Cliquez ici pour voir la version française)

 

Maria Antonieta de Castro contribuiu significativamente em inovações no ensino paulista e brasileiro na área de Educação Sanitária. Ela foi uma das primeiras Educadoras Sanitárias do país, fazendo parte, do Primeiro Curso de Educadoras Sanitárias do Instituto de Higiene de São Paulo criado em 1925, com formatura em dezembro de 1927. Na cerimônia de encerramento e entrega de diploma na turma ela proferiu um discurso, publicado em 09 de dezembro de 1927 no Correio Paulistano onde deixava claro sua ligação com o magistério, em 1910 ela diploma-se na Escola normal, sendo que já em 1913 é possível encontrar publicações no mesmo jornal indicando que a senhora Maria Antonieta exercia a função de professora no Grupo Escolar de Indaiatuba, onde no dia 15 de novembro foi responsável por cuidar das alunas dos 3º e 4º anos durante a realização do “exame escripto de arithmética” (CORREIO PAULISTANO, 16/11/1913, p.3), assim como em várias outras publicações que destacam a profissão da professora sempre que seu nome é registrado nos jornais (CORREIO PAULISTANO, 20/12/1913, p.5; 29/01/1914, p. 3;). Em 1914, um decreto assinado pela Diretoria de Instrução Pública remove a adjunta Maria Antonieta de Indaiatuba para o segundo Grupo Escolar da Mooca na capital do Estado (CORREIO PAULISTANO, 08/02/1914, p.4) e em 1920 é publicada sua exoneração da escola reunida de Piquete (CORREIO PAULISTANO, 18/03/1920, p.4). Segundo Rocha (2005, p. 73), aos 33 anos e após 14 anos de exercício no magistério primário, em 1925, Maria Antonieta aceita o convite de Pedro Voss, diretor geral da Instrução Pública à época, e é nomeada como educadora sanitária e comissionada do Instituto de Hygiene de São Paulo, onde realiza o curso de Educadora Sanitária.

A partir de 1927, Maria Antonieta de Castro foi designada para o cargo de Educador Sanitário Chefe da Inspetoria de Educação Sanitária e Centros de Saúde (IESCS), órgão criado pela reforma de 1925, dependência da Diretoria Geral do Serviço Sanitário (ROCHA, 2005, p. 82). Com esta nova função, sua prática pedagógica ampliou seu diálogo não somente com o ensino das primeiras letras, mas também com o ideário higienista e eugenista do período e, portanto com questões da saúde que favoreceriam a “revigoração da raça” (CORREIO PAULISTANO, 09/12/1927, p.4). Como Educadora Sanitário Chefe, se responsabilizou pela instalação, organização e direção das primeiras atividades no três centros de saúde de São Paulo e nas escolas primárias paulistanas, posteriormente expandindo a discussão sobre saúde escolar para toda as escolas do estado. Também em 1927, ganhou o Concurso Literário da Tarde da Criança, com um livro de contos infantis para a divulgação da educação sanitária intitulado Papagaio Louro.

Por conta de sua atuação como Educadora Sanitária Chefe, Maria Antonieta realizou diversas palestras relacionada à temática da Educação Sanitária, participou de vários Congressos brasileiros, tanto na área da Educação, como na de Higiene, frequentemente apresentando diferentes trabalhos que na maioria das vezes eram divulgados também nos jornais diários de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, assim como diversas viagens de estudos à diversos países, como Argentina, Uruguai, Europa e Estados Unidos. Em 1929, foi homenageada pela Liga Brasileira de Higiene Mental, por um trabalho sobre o alcoolismo e, em 1950, pela Standard Oil Company of Brazil, como pioneira no campo da Educação Sanitária em São Paulo (ROCHA, 2005, p. 97). Foi portanto, pioneira no campo da Educação Sanitária paulista e em outros estados brasileiros, sendo possível encontrar referências à educadora na Mensagem do Governador do Estado do Espírito Santo em 1929.

Visando, principalmente, a promoção da assistência materno-infantil, o combate à mortalidade infantil e a proteção à criança, Maria Antonieta de Castro se articula em diversas frentes, ora liderando um grupo de educadoras sanitárias numa ação comunitária que acaba por auxiliar a fundação da Cruzada Pró-Infância no dia 12 de agosto de 1930, sendo que Maria Antonietta de Castro, compõe a primeira diretoria da instituição juntamente com Pérola Byington que a preside (DIÁRIO NACIONAL, 17/08/1932, p. 7), ora organizando diversas Escolas de Mãezinhas, que tem por objetivo divulgar ideias sanitárias e higiênicas de cuidados com a infância. Além de sua atuação poder também ser observada na responsabilidade em organizar inúmeras campanhas de educação sanitária no estado de São Paulo, (FARIA, 2006, p. 193). Portanto, destaca-se por conta de seu engajamento na educação sanitária e na difusão do ideário higienista paulista, assim como no estímulo às mães no cuidado de seus filhos. Dessa forma, ela fomentou a discussão sobre saúde escolar e educação sanitária escolar com o objetivo de favorecer hábitos saudáveis e a difusão da puericultura nas escolas, que segundo suas palavras, trouxe grandes benefícios à humanidade ao longo do tempo. Em 1930, ainda “elaborou o programa Semana da Criança, oficializado em 1939 pelo Departamento Nacional da Criança” (ROCHA, 2005, p. 85).

A puericultura entendida como o “conjunto de técnicas científicas destinadas à criação dos filhos de forma a preservar sua saúde e garantir seu crescimento e desenvolvimento adequados” (FREIRE, 2008, p.160), balizaria e seria o foco principal do trabalho de Maria Antonieta de Castro refletindo nas ações consideradas adequadas no trato de crianças e para formar suas mães, preocupação que mobilizava diferentes segmentos sociais desde pelo menos o século XIX, onde a constituição saudável de crianças era objeto de atenção médica e educacional específica no Brasil.

O engajamento de Maria Antonieta com a Cruzada Pró infância é bastante marcante, pois além de ajudar na elaboração dos estatutos, atuou diretamente na organização “Das primeiras unidades: dispensário infantil, cozinha de dietética, casa maternal, escola de saúde no Parque D. Pedro, biblioteca infantil, “Pequeno Lar”” da instituição, assim como, em 1942, durante a segunda guerra, na “organização de restaurantes populares, centros para mulheres, centros de nutrição e berçários”. Na direção da Cruzada Pró infância desde sua fundação, assumiu sua diretoria geral a partir de 1963, após o falecimento de Pérola Byington, e lá se manteve até sua morte em 1984 (ROCHA, 2005, p. 86; MOTT; BYINGTON; e ALVES, 2005).

Paralelemente, Maria Antonieta de Castro se mantem no cargo de direção da Inspetoria de Educação Sanitária e Centros de Saúde, mesmo após as sucessivas reformas pelas quais passou essa inspetoria na década de 1930. No ano de 1930, foi eleita como primeira presidente da Associação de Educação Sanitária. (ROCHA, 2005, p. 82) e em 1931 trabalhou no Instituto Pedagógico de São Paulo, colaborando “com o Serviço de Psicologia Aplicada no levantamento de medidas antropométricas, índices de nutrição e na realização de inquéritos sobre alimentação dos escolares” (ROCHA, 2005, p. 83). Entre 1932 e 1933, assume a direção do Serviço de Antropometria Pedagógica depois de convite do diretor do Ensino, Sud Menucci. Com base no trabalho realizado nesse período, a Educadora Sanitária apresenta entre 1933 e 1934 as teses: Serviço Social – valor, finalidades e métodos, na cadeira de Sociologia Geral e Peso e altura dos escolares de São Paulo, na cadeira de Estatística da Escola Livre de Sociologia e Política (ROCHA, 2005, p. 84).

Após 50 anos de serviços, Maria Antonieta recebe o prêmio Jubileu de Ouro e se aposenta em 1962, sendo homenageada na 100ª Sessão Ordinária da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo com a instituição do dia 11 de junho, data de seu aniversário, como o “Dia do Educador Sanitário” (Diário Oficial do Estado de São Paulo, 13/06/1962). Assim, a professora/educadora sanitária Maria Antonieta de Castro tem sua trajetória marcada em futuros estudos relacionados à educação e a saúde, contribuindo para o desenvolvimento de questões higiênicas nas escolas paulistanas e brasileiras.

 

A produção existente em história da educação sobre a educadora

São escassas as referências bibliográficas existentes sobre Maria Antonieta de Castro. Heloísa Helena Pimenta Rocha é umas das historiadoras da educação que mais se destaca com relação a estudos onde a trajetória de Maria Antonieta de Castro aparece de forma mais frequente. O doutorado de Heloísa Helena, defendido em 2001 na Faculdade de Educação da USP, tem como foco a análise da presença da Fundação Rockefeller em diferentes espaços da vida social, desde o início do século XX, com destaque para sua atuação na Saúde Pública, sendo que a educadora Maria Antonieta de Castro surge na trama da tese de Heloísa Helena de forma destacada. Além disto, outros trabalhos da mesma autora retomam o destaque à trajetória de Maria Antonieta de Castro, como é o caso do artigo “A educação sanitária como profissão feminina” publicado em 2005.

Maria Martha de Luna Freire destaca a atuação de Maria Antonieta enquanto educadora sanitária da Saúde Pública paulista destacando a construção de sua identidade profissional. Maria Lúcia Mott, Maria Elisa Botelho Byington e Olga Sofia Fabergé Botelho ao biografar a senhora Pérola Byington acabam evidenciando as ações de Maria Antonieta de Castro na Cruzada Pró-Infância, onde ela se articula deste o início do funcionamento e preside por um bom período de tempo.

Nos estudos destacados, Maria Antonieta de Castro tem sua história traçada e demarcada como umas das primeiras educadoras sanitárias de São Paulo, que, como Educadora Sanitário Chefe, inova o ensino paulista introduzindo nas escolas do estado uma perspectiva de saúde escolar e educação sanitária.

 

​Palavras-chaves: Educação; Saúde; Educação Sanitária; Higienismo.

 

Referências:

FARIA, L. Educadoras Sanitárias e Enfermeiras de Saúde Pública: identidades profissionais em construção. Cadernos Pagu (27), julho-dezembro, 2006. p. 173-212

FREIRE, M.M. de L. ‘Ser mãe é uma ciência’: mulheres, médicos e a construção da maternidade científica na década de 1920. História, Ciência, Saúde – Manguinhos. Vol. 15, suplemento, p. 153-171, jun. 2008.

MOTA, A. Quem é bom já nasce feito: sanitarismo e eugenia no Brasil. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

MOTT, M. L., BYINGTON, M.E.B. e ALVES, O.S.F. O gesto que salva: Pérola Byington e a Cruzada Pró-Infância. São Paulo: Grifo Projetos Históricos e Editoriais, 2005.

ROCHA, H.H.P. A educação sanitária como profissão feminina. Cad. Pagu [online]. 2005, n.24, pp.69-104. ISSN 1809-4449.  Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-83332005000100005. Acesso em 09/09/2017.

 

Fontes

Jornais:

CORREIO PAULISTANO, São Paulo, 1913, 1914, 1920, 1927, 1929 e 1956 (Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional).

DIÁRIO DA NOITE: Edição Matutina, São Paulo, 1970, 1971 e 1972 (Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional).

DIÁRIO NACIONAL, São Paulo, 1932 (Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional).

SÃO PAULO, Diário Oficial do Estado de São Paulo, 13/06/1962.

Periódicos:

ALAMANAK LAEMMERT, Vol. II, Secretarias de Estado, Rio de Janeiro, 1931, p. 127 (Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional).

INSTITUTO DE PROTECÇÃO E ASSISTENCIA Á INFANCIA, Revista Archivos de Assistência à Infância: Órgão Official do Instituto de Protecção e Assistencia á Infancia, Rio de Janeiro ,1907, p. 1 (Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional).

REVISTA INTERVALO, Rio de Janeiro, 1972, p. 49 (Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional).

Relatórios e Mensagens de Presidentes ou Governadores de Estado:

ESPÍRITO SANTO, Relatório do Presidente do Espírito Santo – Aristeu Borges de Aguiar, 1929, p. 108 (Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional).

ESPÍRITO SANTO, Mensagem Governador do Estado do Espírito Santo para a Assembleia, 1929, p. 108 (Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional).

Autoria: Claudinéia Maria Vischi Avanzini