Odette Freudenberg-Brunschwig

(1899-1967) (Cliquez ici pour voir la version française)

Professora, diretora e inspetora geral: a vida profissional de Odette Freudenberg-Brunschwig (1899-1967).

O dossiê de carreira[1] de Odette Brunschwig nos permite acompanhar 46 anos da vida profissional de uma professora que se tornou diretora de estabelecimentos de ensino femininos e depois inspetora geral da Educação Nacional Francesa entre 1921 e 1967. Nascida Odette Hélène Freudenberg no dia 28 de janeiro de 1899, em Paris (no 11º arrondissement), de nacionalidade francesa e confissão judaica, ela começa seus estudos secundários em 1911, no liceu de meninas Fénelon de Paris. Obtém como candidata livre o baccalauréat* da seção filosofia com latim em 1916, tendo estudado com quatro outras colegas “às escondidas [e] para o grande escândalo de nossos professores”,[2] como ela conta numa entrevista radiofônica. De fato, até 1925 era algo raro e fora das normas uma menina prestar o baccalauréat. Os liceus de meninas, desde sua criação em 1880, preparavam não para o baccalauréat, mas para um diploma de fim de estudos cujo programa era específico para as meninas: sem latim, com pouca filosofia e ainda menos matemática[3]. É só com o decreto Bérard, de 1924, que o baccalauréat comum para os dois sexos é instituído.

 

Tornar-se professora de Letras no início do século XX

Matriculada na Sorbonne, Odette obtém em julho de 1918 uma licença de filosofia e, em 1919-1920, o Certificado de aptidão para o ensino superior de letras. No ano seguinte, laureada da agregação de Letras, torna-se professora secundária de Letras.

Começa então sua carreira de professora. Depois de um primeiro cargo de professora substituta no liceu de meninas de Guéret (academia de Clermont), Odette é enviada para a academia de Besançon, onde permanece por 9 anos, de 1922 a 1931. A partir do início do ano escolar de 1923, torna-se professora efetiva do liceu de meninas de Besançon. A cada ano, pede remoção para a região parisiense, mas, apesar dos pareceres favoráveis da administração, não a obtém. Finalmente, em julho de 1931, casa-se em Paris com Georges Brunschwig, comerciário na cidade de Bergues (Nord) e é nomeada, aos 32 anos, professora de Letras do liceu Fénelon de meninas em Lille (Nord).

Segundo os relatórios de inspeção, em alguns poucos anos Odette ganha segurança. Mostra-se extremamente conscienciosa e manifesta uma grande vitalidade e uma forte vontade de ajudar seus alunos a terem êxito. Sua dedicação ao trabalho repercute em sua saúde a ponto de causar períodos de grande fadiga que a obrigam a pedir licenças de saúde. O diretor da instituição escreve que ela trabalha muito “e se desgasta até atingir o esgotamento” [4].

 

Diretora de estabelecimentos femininos de segundo grau, casada e sem filhos

Em setembro de 1932, Odette Brunschwig se torna diretora do colégio de meninas de Dunquerque. Essa remoção atende a seu pedido de acompanhamento do cônjuge. Efetivada nesse cargo, Odete passa a dirigir um colégio de 549 alunas. É considerada uma “excelente diretora” já que “a instituição é muito bem mantida e ela goza da melhor reputação” [5]. Dois anos depois, sem que tenha pedido, vê-se transferida, sempre como diretora, para o liceu de meninas de Valenciennes. Sua reputação é confirmada, os relatórios a consideram uma diretora de alto valor “a quem se pode confiar sem temor um grande estabelecimento de ensino” (1936); ou ainda: “excelente diretora, inteligente, firme e benévola” (1937). Odette passou, portanto, da direção de um grande colégio à direção do liceu de meninas de Valenciennes, com 497 alunas, das quais 120 na escola primária e 165 em regime de internato. Liceu que ela dirige por 3 anos. Em compensação, no início do ano escolar de 1936, pede para ser removida para “Lille ou para uma cidade que tenha universidade, de preferência no Sudeste: Lyon, Grenoble, Marselha (família residente em Avignon)”. Seu pedido é atendido e, em 1937, Jean Zay a nomeia para o liceu de meninas Edgard Quinet, em Lyon. Ela dirige agora uma instituição com 1443 alunas, 134 das quais internas. Através dos diversos relatórios de inspeção (entre 1937 e 1939), sua personalidade é qualificada de inteligente, benévola, justa, refinada, culta, fina, ativa, com uma capacidade de trabalho cheia de vigor e de rigor.

Com a Segunda Guerra Mundial, o regime de Vichy decreta, em 29 de janeiro de 1941, sua aposentadoria compulsória proporcional a 19 anos, 2 meses e 18 dias de trabalho[6]. Sendo de confissão judaica, as leis antissemitas lhe são aplicadas. Contudo, assim que ocorre a Liberação, o reitor Allex assina, já em 3 de setembro de 1944, sua reintegração ao cargo de diretora do liceu de Lyon (reintegração confirmada no dia 5 de outubro em Paris por René Capitant. Entretanto, surge um problema, já que sua substituta, a senhorita Rouzeaud, continua exercendo o cargo. Assim, essa reintegração sem exercício real da função acaba sendo a oportunidade de ser nomeada “encarregada de missão” na Academia de Paris e se tornar inspetora, posição que sempre tinha cobiçado.

De inspetora a inspetora geral (IG)

Depois de cinco anos como inspetora da Academia de Paris, Odette se torna, em 1951-1952, encarregada de Inspeção Geral. É em 8 de agosto de 1952, aos 53 anos, que Odette é definitivamente nomeada Inspetora Geral da Instrução Pública no 3º escalão. As ordens do dia das reuniões de inspeção geral indicam que ela é encarregada da observação do ensino das meninas[7]. Em 1956, é condecorada com a palma de Oficial da Legião de Honra e, em 1959, com a Ordem das Palmas Acadêmicas. Viúva e sem filhos, exerce sua função até a aposentadoria em 30 de setembro de 1967, aposentadoria que não aproveita já que falece 17 dias depois.

Historiografia

Odette Brunschwig, cuja carreira atravessa o século XX, é uma figura feminina mal conhecida da história da Educação Nacional Francesa. Faz parte das poucas mulheres dentro do ministério que conseguiram galgar as diferentes etapas e ascender até as funções mais prestigiosas do sistema educacional. Até hoje, nenhum estudo foi dedicado a sua carreira, e sua vida pessoal permanece um enigma.

O reconhecimento profissional de Odette Brunschwig provém não da administração educacional, mas das historiadoras e historiadores que se interessaram por um de seus artigos intitulado “A educação mista” e publicado em 1961 na revista institucional Éducation nationale.[8] Odette é, de fato, a primeira personalidade da instituição escolar a questionar os prós e os contras das turmas mistas nos estabelecimentos de ensino secundário, num momento em que nenhuma lei tinha tornado a educação mista obrigatória, embora ela já fosse praticada em vários estabelecimentos de ensino desde meados da década de 1950.

Bibliografia

Artigos em revistas especializadas

BRUNSCHWIG, Odette, “Surveillance et Liberté” [Vigilância e Liberdade] in Documents et débats universitaires, 29 de outubro de 1953. Reeditado na Revue des CPE de 1975, p. 5-9.

BRUNSCHWIG, Odette, “Bibliothèques et lectures dans les classes du second cycle” [Bibliotecas e leituras nas turmas do segundo ciclo] in Cahiers pédagogiques, Classe de seconde, n° 7, 1953, p. 555-557.

BRUNSCHWIG Odette G., “L’éducation mixte” [A educação mista] in Éducation Nationale, n° 30, 2 de novembro de 1961, p. 5-10.

Outros textos:

O prefácio redigido em 1959 para o romance traduzido do japonês O filho de Hiroshima,[9] publicado por Les Éditions du Temps. Odette aponta o interesse desse livro destinado a jovens a partir de 10 anos e composto pela correspondência entre um filho e sua mãe durante a guerra. Ela se mostra tocada pelas qualidades de educadora da mãe do jovem Ichiro.

Em seu dossiê profissional está guardado um discurso dirigido a chefes de estabelecimentos de ensino. O discurso se debruça sobre o que uma reforma na Educação nacional representa de modo geral, mas, dado o contexto, parece uma defesa da reforma Capelle-Fouchet de 1963 que criou novos colégios de ensino secundário (os CES). Odette propõe uma “pedagogia da solicitude”.

Programas radiofônicos:

Odette Brunschwig participou de vários programas de rádio cujos registros se encontram conservados no INA (Instituto Nacional do Audiovisual).

  • “Le lycée Fénelon” [O liceu Fénelon] in Potaches et labadens ou la classe intemporelle [Amigões e colegas ou a turma intemporal], 18 de outubro de 1951.

  • “Les caprices de Marianne” [Os caprichos de Marianne] in Théâtre et université [Teatro e universidade], 27 de janeiro de 1954.

  • “Horace” [Horácio] in Théâtre et université, 31 de outubro de 1956.

Nenhuma biografia de Odette Freudenberg-Brunschwig foi publicada até hoje.

 

[1] AN, F17 27345 não comunicável até 2019. Consulta feita sob autorização especial.

* O baccalauréat é uma espécie de ENEM, ou seja, um exame de conclusão do “ensino médio” que dá acesso aos estudos universitários. (N.T.)

[2] INA, programa de rádio intitulado “Le lycée Fénelon” [O liceu Fénelon], na coleção Potaches et labadens ou la classe intemporelle [Amigões e colegas ou a turma intemporal], veiculado no dia 18 de outubro de 1951. Trata-se de um programa em forma de ficção teatral que conta toda a história do liceu de meninas Fénelon. A entrevista de Odette Brunschwig com Paul Guth dura 5’45 (9’15 a 15’30) num total de 1h03min de programa. Ver também os arquivos sonoros do programa “Filles et garçons à l’école depuis Jules Ferry” [Meninas e meninos na escola desde Jules Ferry] na série Concordance des temps [Concordância dos tempos] da rádio France Culture, veiculado no dia 12 de abril de 2014 com Rebecca Rogers.

[3] O diploma de fim de estudos era o exame final que cabia às meninas até o fim dos anos 1930. A preparação durava 6 anos. O sexto ano equivalia à première [segundo ano do ensino médio] de hoje. A partir do decreto de 1924 (Décret Léon Bérard), as meninas passam a ter também a possibilidade de se preparar para o baccalauréat nos estabelecimentos de ensino feminino, que se organizam então para fornecer os conteúdos necessários.

[4] AN, F17 27345. Relatório de inspeção de 1923. Entre 1923 e 1931, todo ano os relatórios concernentes a Odette Freudenberg apontam um período de licença médica, e atestados médicos confirmam seu estado de exaustão. A partir de 1931 não há mais nenhuma menção de licenças de saúde por esgotamento.

[5] AN, F17 27345. Relatório da Inspeção Geral (maio de 1934).

[6] Assinado em Vichy por J. Chevalier.

[7] AN, F/1717786 e F/1717788.

[8] O.-G. Brunschwig, « L’éducation mixte », Éducation Nationale, n° 30, 2 de novembro de 1961, p. 5-10.

[9] Isoko e Ichiro Hatano. L’enfant d’Hiroshima. Tradução de Seiichi Motono. Prefácio de Odette Brunschwig. Les Éditions du Temps, 1959.

Autoria: Geneviève Pezeu