Zuleika de Barros Martins Ferreira

(São Paulo, 07/04/1892 – São Paulo, 23/12/1956) (Cliquez ici pour voir la version française)

 

Zuleika de Barros Martins Ferreira, professora do curso normal na Escola Caetano de Campos, destacou-se por sua prática pedagógica inovadora na disciplina Metodologia e Prática do Ensino Primário e também em sua ação pioneira como professora no primeiro curso de Especialização para o Ensino de Cegos.

Filha do engenheiro Tito Martins Ferreira e de Cândida de Barros Ferreira formou-se pela Escola Complementar de Campinas em 1907. Neste mesmo ano, atuou na Escola Normal da Praça da República. Em 1911, foi nomeada professora substituta efetiva do Grupo Escolar da Consolação e, em 1914, adjunta do Grupo Escolar da Lapa. Em 1917, foi removida para o Grupo Escolar do Triunfo. Em 1925 foi nomeada adjunta da Escola-Modelo Caetano de Campos, onde ministrava as aulas de aritmética. Foi professora de Metodologia e Prática do Ensino Primário de 1931 a 1955 na Escola Normal Caetano de Campos, quando se aposentou (GOLOMBEK, 2016, p.601-602).

No dia 8 de abril de 1957, em homenagem à sua memória, foi celebrada uma missa na igreja Santa Cecília-SP. Foi inaugurada uma placa com seu nome e uma sala ambiente na escola. Seu nome foi dado a Escola localizada na rua Padre Chico na Vila Pompéia em São Paulo (IBIDEM).

De acordo com o periódico – Nossos Esforços (1957) – que homenageia a memória da professora Zuleika –  e inaugura o retrato e o mostruário de objetos pessoais, títulos de nomeações, documentos, livros e fotografias – esta professora realizou inúmeras atividades inovadoras no período em que lecionou na Escola Caetano de Campos. A sua atuação nesta escola marcou uma época por formar aproximadamente dois mil professores. Zuleika foi uma das entusiastas da Escola Nova. Criou o projeto “Governo Escolar” que representava o que havia de mais avançado, até a presente data, em termos de método de ensino. Inspirada na Escola Ativa, seu método de ensino era centrado no “aprender fazendo” e no estímulo à formação de um governo escolar assumido pelos alunos, secundarizando o papel do professor.

Alguns de seus trabalhos foram: “São Paulo através de anúncios” que consistia em aprimorar nas normalistas a ideia de desenvolvimento industrial, comercial e cultural; o “Jornal de classe” que tinha a finalidade de trazer para a escola os problemas da atualidade, estimulando a leitura e o fichamento de artigos. A educadora também escreveu um manual pedagógico intitulado É preciso calcular, em 1929, em parceria com a professora Bertha Villaça, no período em que atuaram como professoras da escola primária Modelo anexa a Caetano de Campos. O manual era composto de planos de ensino de aritmética baseados, segundo as autoras, nas aulas do professor Lourenço Filho.

Entre as ações inovadoras realizadas, destacava-se a atuação como professora da primeira turma de Especialização para o Ensino de Cegos da Escola Caetano de Campos em 1945. De acordo com depoimento de sua aluna Dorina Nowil, a primeira aluna normalista cega a estudar nesta escola, formou-se um grupo composto por Dorina e outras sete normalistas, destinado a preparar os primeiros materiais pedagógicos para o ensino de crianças cegas por incentivo da professora Zuleika. Dorina Nowil ficou conhecida internacionalmente pela Fundação para o Livro do Cego no Brasil que foi batizada posteriormente com seu nome – Fundação Dorina Nowil.

Inspiradas nas aulas práticas de Metodologia e apoiadas pela professora Zuleika, no terceiro ano do curso normal, um grupo de alunas iniciou uma experiência pedagógica diferente. Desenvolveram um novo projeto no Instituto para cegos “Padre Chico” em São Paulo, com a finalidade de aprofundar os estudos sobre a educação de cegos e integra-los na vida escolar da comunidade. O trabalho foi então realizado a título experimental, como atividade de estágio da disciplina de Metodologia. Assim puderam aprender o sistema Braille, criou-se cartilhas e livros de leitura intermediária. Na alfabetização foi aplicado o método analítico-sintético, adotado pela professora Zuleika em sua disciplina. Muitos duvidaram da possibilidade do uso desse método para a alfabetização de crianças cegas, mas posteriormente, quando esteve em um curso nos Estados Unidos, Dorina confirmou a aplicação desse método em várias escolas semelhantemente a forma como era aplicado no Brasil (MASINI, 2014).

Este curso de Especialização foi o primeiro da América Latina com tal finalidade dentro de uma escola pública e por ser pioneiro a incluir uma aluna cega em um curso de formação de professores. Foi o início das especializações na Escola Caetano de Campos que foram criadas com base neste primeiro trabalho (IBIDEM, p.23).

Desse modo, a professora Zuleika de Barros Martins Ferreira, por um período de atuação de quase três décadas na Escola Caetano de Campos, foi uma das responsáveis pela formação de professores que atuariam nas escolas primárias paulistas, destacando-se pelas propostas pedagógicas renovadoras, à frente de seu tempo.

 

A produção existente em história da educação sobre a educadora

A professora Zuleika de Barros Martins Ferreira é citada em três produções que fazem referência a disciplina do curso normal do Instituto de Educação Caetano de Campos na década de 1940. Parré (2013), na dissertação de mestrado intitulada Escola Nova, Escola Normal Caetano de Campos e o Ensino de Matemática na Década de 1940, ao investigar as apropriações escolanovistas no discurso para o ensino de aritmética na disciplina Metodologia e Prática do Ensino Primário, faz um breve resumo da trajetória da professora Zuleika, por ser ela quem ministrava as aulas nas décadas de 1940. Golombek (2016), no livro Caetano de Campos: A escola que mudou o Brasil apresenta a trajetória da professora Zuleika como catedrática da Escola Caetano de Campos. Masini (2014) em seu livro intitulado O perceber de quem está na escola sem dispor da visão, no capítulo destinado a vida escolar de Dorina Nowill na Escola Caetano de Campos, cita a professora Zuleika como sendo a professora de Dorina.

Palavras-chave: ensino de aritmética, ensino de cegos, Caetano de Campos, escola normal, Metodologia e Prática do ensino primário

 

Bibliografia:

GOLOMBEK, P. A Escola que mudou o Brasil. 1. ed. Editora da Universidade de São Paulo, 2016. 824p.

MASINI, E. A. F. S. O perceber de quem está na escola sem dispor da visão. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2014. v. 1. 110p.

PARRÉ, A. D. Escola Nova, Escola Normal Caetano de Campos e o Ensino de Matemática na Década de 1940. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de São Paulo, Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2013. 90p.

 

Arquivos:

Centro de Memória e Acervo Histórico/CRE Mario Covas/ESAP – SEE – SP

Centro Memória Dorina Nowill

 

Autoria: Josiane Acácia de Oliveira Marques