O projeto FAPESP representa uma oportunidade de investigar cidades, regiões e as transformações necessárias diante das mudanças climáticas, entre 2023 e 2028. Agrega 22 bolsas da FAPESP para Trabalho Técnico, Iniciação Científica, Jornalismo Científico, Mestrado e Doutorado, além de bolsas do CNPq e tem abordado temas como eventos extremos, resiliência e adaptabilidade de infraestrutura, transição dos padrões urbanos de desenvolvimento, políticas públicas, planejamento urbano e regional.
O principal problema no presente projeto de pesquisa é a caracterização do tecido urbano sob a perspectiva do sistema de cidades. A formulação desse problema decorre da hipótese de que as tendências e os padrões do ordenamento territorial recente estão orientados pela metropolização e dispersão urbana que transformam o tecido urbano na escala territorial e se correlacionam com a intensificação de alguns eventos climáticos extremos. Percepção que situa o tecido urbano no centro da discussão dos aspectos socioeconômicos e ambientais das cidades brasileiras.
Diante dessa hipótese, a importância da pesquisa reside no entendimento dos aspectos urbanísticos como razões e efeitos das vulnerabilidades sociais, mas também como oportunidades de transformação dos padrões vigentes pela construção de subsídios para as políticas públicas urbano-regionais. Nesse sentido, o objetivo principal é compreender as transformações recentes do tecido urbano por meio dos aspectos urbanísticos que caracterizam os sistemas de cidades brasileiras. E os objetivos complementares são:
- Identificar e caracterizar as transformações recentes – padrões e tendências – do tecido urbano das cidades brasileiras considerando os estudos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre as tipologias intraurbanas (IBGE, 2017), bem como por estudos de casos e levantamentos de campo;
- Relacionar as transformações recentes do tecido urbano aos processos de metropolização e dispersão urbana;
- Problematizar a relação do tecido urbano (influência e comportamento) com os eventos extremos (de secas, inundações e deslizamentos) partindo da gestão das águas e do mapeamento de desastres climáticos, ambos mapeados pelo governo federal (no CEMADEN [Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais], INMET [Instituto Nacional de Meteorologia] e ANA [Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico]);
- A partir de casos nacionais selecionados resultantes do Projeto Regular FAPESP 2018/13637-0 e de insumo teórico e empírico de casos estrangeiros por parcerias com instituições estrangeiras, mapear a transição dos modelos conceituais de “lugar central” para “cidade-região” e os limites e desafios para a aplicação do regional design nas cidades brasileiras como estratégia de planejamento;
- Compreender essas transformações na rede urbana brasileira com perspectivas à aplicação inovadora dos instrumentos de ordenamento territorial existentes e que abordem sistemas de cidades (como Zoneamento Ecológico Econômico, Planos de Desenvolvimento Urbano Integrado, Diretrizes para Unidades de Conservação, Assistência às Gerências de Bacias Hidrográficas, Planos Diretores Regionais e/ou Zoneamento Costeiro).
A originalidade da pesquisa está na investigação dos elementos urbanísticos do tecido urbano pela escala regional da rede urbana brasileira e na construção de orientações para políticas públicas por sistemas de cidades.
O principal desafio é verificar como esse ordenamento se comporta frente aos eventos extremos, quais suas contribuições à intensificação dos desastres climáticos e como está submetido às vulnerabilidades ambientais e sociais. Sobretudo na elucidação de duas perguntas: como os padrões vigentes de urbanização colaboram para a intensificação desses eventos; e como o tecido urbano é afetado pelas ocorrências de secas, cheias e deslizamentos nas áreas urbanas.
A literatura nacional tem explorado com sucesso as escalas de vizinhança, metropolitana e macrometropolitana por esse viés, portanto o que se propõe é a complementaridade desse repertório na escala regional de sistemas de cidades afim de avançar às fronteiras da produção científica na área do urbanismo. Metodologicamente, a pesquisa ocorre por aprofundamento exploratório da análise territorial verificando quais as tendências e os padrões que as ações e investimentos públicos e privados urbanísticos têm consolidado. A partir do referencial teórico relacionado à morfologia urbana, define como principal objeto da pesquisa os casos emblemáticos de cidades com transformações do tecido urbano no período 1990-2019 para confrontá-los entre si e entre casos estrangeiros. A discussão dos paradigmas nacionais e internacionais de planejamento ocorre pelo conceito de regional design; e as interpretações recentes sobre urbanização ocorrem pelos conceitos de lugares centrais e cidade-região.
O principal resultado esperado na pesquisa é a elaboração de um quadro dos padrões e tendências do recente processo brasileiro de urbanização (pós-1988) no âmbito do tecido urbano de sistemas de cidades. Do que deriva um produto que pode ser sintetizado por subsídios para políticas públicas urbano-regionais inovadoras e que colaborem para a construção de alterativas às vulnerabilidades sociais e ambientais que estão sendo potencializadas pelos eventos extremos.