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Peixoto, Mário

Bruselas (Bélgica), 1908 – Río de Janeiro (Brasil), 1992

Por Luiz Felipe Alves de Miranda

Mário José Breves Rodrigues Peixoto fez um único filme, Limite (1931), obra-prima do cinema mudo. De origem aristocrática, sua família possuía muitas terras no Estado do Rio de Janeiro. Alumno de colégios tradicionais, em 1927 estudou como interno na Hospedene School, na Inglaterra. Na Europa, se interessou pelo cinema alemão. De volta ao Brasil, fez contatos nos meios teatrais e cinematográficos, acompanhou as filmagens de Barro Humano (Adhemar Gonzaga, 1929), e levou Gonzaga a fundar a Cinédia, primeira produtora brasileira que tentou fazer filmes segundo os moldes hollywoodianos. Foi na época em que se fundou o Chaplin Club (1928), com o seu jornal O Fan, onde escreviam Octavio de Faria, Plínio Süssekind Rocha, Cláudio Mello e Almir Castro.

Saulo Pereira de Mello, estudioso de Limite, escreveu que o filme de Peixoto foi realizado em um momento de grande entusiasmo e esperança em relação ao cinema brasileiro. Mário escreveu o roteiro do filme e o ofereceu a Adhemar e a Humberto Mauro, mas nenhum aceitou dirigi-lo. Ele mesmo, então, resolveu filmá-lo. Edgard Brasil foi indicado por Gonzaga para a fotografia e Taciana Reis foi uma das atrizes. A estreia ocorreu em maio de 1931, no Cine Capitólio (Rio de Janeiro), em uma sessão promovida pelo Chaplin Club. A trama era simples: um homem e duas mulheres se tornam náufragos em um pequeno bote e, por meio de flashbacks, são relatadas suas histórias, sempre infelizes. Arthur Autran escreve que Limite

“relaciona-se com todos os tipos de constrições que oprimem o homem, especialmente as de ordem metafísica. O pequeno barco à deriva é um símbolo do homem diante do universo e suas forças, frente às quais o homem não é nada e caminha inexoravelmente para a morte. A consciência disso gera uma insatisfação permanente com a vida.”

O diretor Mário Peixoto (sentado na esquerda) e os integrantes de Limite.

O pesquisador observa que muitos outros temas importantes poderiam ser explorados, como as questões da memória e da fuga. Limite, que foi visto por poucos, tornou-se um mito. A única cópia existente estava se deteriorando e, no início da década de 1970, Plínio S. Rocha, juntamente com Saulo Pereira de Mello, após anos de trabalho, conseguiu restaurá-la. Na década de 1980, o filme foi lançado em vídeo. Peixoto não dirigiu outro filme, embora tenha feito outras tentativas. Ele escreveu o roteiro de Onde a terra acaba, a pedido da atriz e produtora Carmen Santos. Iniciou a direção, mas desavenças entre eles o fizeram abandonar a produção, que permaneceu inacabada. Fez outras tentativas, mas nenhuma teve sucesso. Escreveu vários roteiros e se dedicou à carreira literária, mas poucas de suas obras foram publicadas em vida. Obras notáveis incluem o livro de poesias Mundéu (1931), o roteiro de A alma segundo Salustre (1983), o romance O inútil de cada um (1984), além de alguns contos e peças teatrais, na maioria editados sob a supervisão de Saulo Pereira de Mello, responsável pelo Arquivo Mário Peixoto. Arthur Autran recorda que, até 1988, Limite foi considerado o melhor filme brasileiro de todos os tempos em uma pesquisa com críticos promovida pela Cinemateca Brasileira.