Rubio (Venezuela), 1922 – Miami (Estados Unidos), 2010
Por Gilberto Maringoni
Carlos Andrés Pérez foi presidente da Venezuela por duas vezes (1974-1979 e 1989-1993). Em 1938, ingressou no Partido Democrático Nacional, embrião da Ação Democrática (AD), fundada em 1941. Ainda muito jovem foi secretário da junta de governo e secretário do Conselho de Ministros. Eleito deputado estadual em 1946, exerceu mandato até 1949, quando foi expulso do país, durante a ditadura de Pérez Jiménez (1948-1959). Com o fim do regime, foi eleito deputado federal e indicado ministro do Interior, no governo de Rómulo Betancourt (1959-1964). A partir de 1968, tornou-se membro da executiva da AD, até ser eleito presidente, em 1974. Foi também vice-presidente da Internacional Socialista.
Quando dirigiu o país pela primeira vez, Pérez encontrou um cenário de bonança e prosperidade por conta da alta internacional dos preços do petróleo. Com isso, houve significativa melhora nos serviços públicos, baixos índices de desemprego e crescimento acelerado. Ademais, o período foi marcado pela fundação da PDVSA, a poderosa estatal do petróleo venezuelana.
Ao se candidatar pela segunda vez à presidência da República, em 1988, a situação era bem diferente. Como fruto da queda acentuada dos preços do petróleo, ocorrida nos anos anteriores, as reservas do Banco Central, que em 1985 eram de US$ 13,75 bilhões, caíram para US$ 6,67 bilhões no ano da eleição. A inflação alcançava 40,3% ao ano, o desemprego chegava a dois dígitos e o salário real havia despencado. Uma aguda fuga de capitais completava o quadro. Ainda assim, sua campanha eleitoral fora pautada por promessas de volta aos dias de prosperidade.
Duas semanas após a posse, Pérez anunciou um severo plano de ajuste estrutural, orientado pelo FMI. O pacote incluía a desvalorização da moeda nacional (o bolívar), redução do gasto público e do crédito, liberação de preços, congelamento de salários e aumento dos preços de gêneros de primeira necessidade. A gasolina sofreria um reajuste imediato de 100%. Isso resultaria, segundo anunciado, numa majoração de 30% nas tarifas de transporte coletivo. Na prática, esses reajustes chegaram também a 100%.
A consequência foi uma rebelião popular que tomou conta de Caracas e das principais cidades do país a partir de 27 de fevereiro de 1989. Os protestos foram reprimidos duramente pelo Exército e resultaram em mais de 300 mortos – segundo dados oficiais – e milhares de feridos. O evento, conhecido como Caracaço, marcou a quebra de um padrão de convivência e tolerância entre a população venezuelana e a perda de legitimidade do governo e do sistema político. Pérez sofreria ainda duas tentativas de derrubada por parte de militares, como manifestação do descontentamento reinante, em 1992. A primeira se deu por parte de setores do Exército, liderados por Hugo Chávez, em 4 de fevereiro. A segunda teria como protagonistas facções da Marinha e da Aeronáutica, em 27 de novembro. Apesar de derrotados, os líderes dos movimentos tornaram-se populares, evidenciando o desgaste governamental.
O governo Pérez se arrastaria até sofrer um processo de impeachment, após a comprovação de várias denúncias de corrupção, que culminaria com sua destituição em 20 de maio de 1993. Em 1996, foi condenado pela Corte Suprema de Justiça a dois anos e quatro meses de prisão domiciliar. Durante a gestão de Hugo Chávez, sem mandato e afastado da luta política direta, Pérez tornou-se, no entanto, um ativo conselheiro da oposição ao governo, incentivando até mesmo tentativas de golpe de Estado.