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Carvalho, Flávio de

Amparo da Barra Mansa, 1899 – Valinhos (Brasil), 1973

Por Francisco Alambert

Arquiteto, engenheiro, pintor, escultor, dramaturgo, cenógrafo, escritor, decorador e performer (antes de ser cunhado esse conceito), Flávio Resende de Carvalho mudou-se com a família para São Paulo, em 1900. Em 1908, estudou na Escola Americana de São Paulo, depois em Paris (1911) e, em seguida, na Inglaterra (1914). Em Newcastle, 1918, iniciou o curso de engenharia civil na Universidade de Durham e, após sua formatura, em 1922, ingressou no curso noturno da King Edward the Seventh School of Fine Arts. Nesse mesmo ano, retornou ao Brasil – pouco depois da Semana de Arte Moderna de São Paulo –, onde abriu seu escritório de arquitetura. Em 1927, apresentou um polêmico e inovador projeto para o Palácio do Governo de São Paulo, que não foi aprovado. Flávio de Carvalho nunca venceu concursos e apenas dois de seus projetos arquitetônicos foram levados a cabo.

Em 1929, estreitou relações com Le Corbusier e no ano seguinte participou do Congresso Pan-Americano de Arquitetos com a conferência “A cidade do homem nu”, na qual ressaltava a necessidade de um “novo homem”, despido dos preconceitos da cultura burguesa, reverberando teses que animaram o movimento antropofágico brasileiro. Em 1931, baseado em estudos sobre antropologia e psicanálise, realizou uma polêmica performance chamada Experiência N , em São Paulo, em que caminhou, com boné na cabeça, em sentido contrário ao de uma procissão católica, a fim de estudar a reação popular. Posteriormente, publicou o livro homônimo. Participou do XXXVII Salão Nacional de Belas Artes, o chamado Salão Modernista.

Com Emiliano Di Cavalcanti e outros, Flávio de Carvalho fundou, em 1932, o Clube dos Artistas Modernos (CAM) – várias vezes fechado pela polícia. Ali se reuniam, para debates e atuações, artistas de vanguarda, pensadores marxistas e a população em geral. Em 1933, outro lançamento: o Teatro da Experiência, que encenou o seu O bailado do Deus morto, espetáculo experimental de teatro dança, inspirado no Dadaísmo e no Surrealismo. Em 1934, sua primeira exposição individual foi invadida e fechada pela polícia (posteriormente reaberta por ordem judicial) por atentado ao pudor. Seus retratos de artistas (como Pablo Neruda e Mário de Andrade) e os autorretratos, dramáticos e expressionistas, repercutiram amplamente. Carvalho participou da Bienal de Veneza em 1938 e 1950 e do Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos, em São Paulo, de 1939 a 1941.

Nos desenhos da Série Trágica (1947) registrou a agonia e morte da própria mãe. A partir de 1955, colaborou para o jornal Diário de São Paulo, escrevendo a coluna sobre moda e comportamento “Casa, homem e paisagem”. Em 1956, realizou em São Paulo o evento Experiência N° , que consistia em uma caminhada do artista pelo centro da cidade trajando uma saia e uma blusa de mangas curtas e folgadas, chapéu transparente, meias arrastão e sandálias de couro, conjunto denominado Traje Tropical.

Em 1968, concluiu o Monumento a García Lorca, destruído por um grupo armado em 1969, em plena ditadura militar brasileira (posteriormente, o monumento foi reerguido). Apresentou-se em todas as Bienais de Arte de São Paulo dos anos 1950, depois em 1963, 1965 (quando foi premiado), 1967, 1971 (quando recebeu uma sala especial) e 1973. E, postumamente, em 1979, 1983 (ano em que foi apresentada uma retrospectiva de sua obra), 1985, 1987, 1989, 1994 e 1998. Em 1999, uma grande exposição intitulada “Flávio de Carvalho – Um revolucionário romântico” foi inaugurada no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, em comemoração ao seu centenário.

Mulheres, de 1968, doação do artista para o Museu de Arte Moderna de São Paulo (Reprodução/MAM-SP)