Centro de Pesquisa Teatral/Teatro Macunaíma
Valmir Santos
O Centro de Pesquisa Teatral (CPT), sob orientação do encenador brasileiro Antunes Filho, existe desde 1982 na cidade de São Paulo, mantido com recursos do Serviço Social do Comércio (SESC). O projeto artístico e pedagógico é um desdobramento do grupo Teatro Macunaíma (razão jurídica mantida até hoje), nome que o grupo utiliza em apresentações fora do Brasil. Foi em 1978, no palco do Teatro SESC Anchieta, que Antunes Filho e seu coletivo de atores causaram impacto com Macunaíma, a adaptação do romance de Mário de Andrade, encenação que obteve enorme repercussão internacional.
A carreira de Antunes Filho se iniciou no final dos anos 1940, quando foi assistente de diretores italianos radicados no país, como Ruggero Jacobbi e Flamínio Bollini Cerri, além do polonês Zbigniew Ziembinski, todos ligados ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). O encenador transitou pelo chamado teatro comercial e pela televisão, mas foi no teatro de pesquisa que conseguiu instaurar novas perspectivas para seu ofício. Ao longo dos anos, Antunes colaborou para uma pedagogia da cena, investigando instrumentos teóricos da linguagem em áreas como a mecânica quântica e em correntes filosóficas orientais.
Os atores do CPT, que trouxeram ao encenador as técnicas da criação coletiva, contribuíram também para remover o estereótipo que maculava a obra de Nelson Rodrigues, até então vista sob chave única e sexista. Os espetáculos Nelson Rodrigues – o eterno retorno (1980) e Nelson 2 Rodrigues (1984) modificaram tal paradigma e ajudaram a “redescobrir” aquele que é considerado o maior dramaturgo brasileiro de todos os tempos. Antunes também levou à cena o Brasil rural, em montagens como Vereda da salvação (1993), de Jorge Andrade, em que aludia a chacinas urbanas.
O diretor perseverou ainda na montagem de tragédias gregas, uma linha evolutiva que veio desde Fragmentos troianos (1999), passou por Medeia (2001) e alcançou Antígona (2005). Outra face importante do CPT é o investimento na formação de núcleos específicos da etapa de criação: interpretação, dramaturgia, cenografia, desenho de luz, enfim, um processo que se reflete também nas noções do encenador e do próprio espectador, instigado a transformar o olhar e a maneira de pensar a cena. Essa vocação para o experimento fica evidente na série Prêt-à-porter, na qual o ator tem domínio sobre os diversos procedimentos, desde o texto até a direção; Antunes se coloca como coordenador da série. De 1998 até 2005, foram criados sete espetáculos com esse formato.