Porto Príncipe (Haiti), 1907 – 1971/ Porto Príncipe (Haiti), 1951 – 2014
Por João Alexandre Peschanski
François Duvalier e Jean-Claude Duvalier, pai e filho, respectivamente, controlaram o Haiti com mão de ferro entre 1957 e 1986, mediante um regime de terror. Durante seus governos, opositores foram perseguidos e assassinados. A situação social e econômica do país entrou em colapso. O duvalierismo foi apoiado por governos dos Estados Unidos, pois, entre outras políticas, se manifestou contra o comunismo, vitorioso em Cuba.
Duvalier pai – conhecido como Papa Doc – veio de uma família pobre. Seus pais eram pequenos camponeses. Com mesadas recebidas de parentes, estudou medicina. Escreveu ensaios sobre o nacionalismo do Haiti e participou de campanhas para a erradicação de doenças tropicais, que lhe deram a oportunidade de conhecer o interior do país.
Alinhado a Dumarsais Estimé, político populista haitiano que se tornou presidente em 1946, Papa Doc assumiu cargos importantes, como o de ministro da Saúde. Considerado o braço-direito de Estimé, tornou-se conhecido em todo o país. O presidente foi deposto em 1950 e Duvalier abandonou o cargo. Continuou, porém, atuante na política, clamando ser o continuador do trabalho de Estimé, falecido em 1953.
Em 1957, Duvalier foi eleito presidente, em um pleito denunciado como fraudulento por seus opositores. Em seu primeiro discurso, afirmou que pretendia realizar uma transformação profunda no Haiti. Fundou o Partido da Unidade Nacional, único partido político permitido em todo o país. Pouco a pouco seu regime endureceu, chegando a suprimir os grupos de oposição. Estes eram perseguidos por uma polícia pessoal de Duvalier, os Tontons Macoutes.
Reeleito em 1961, em um escrutínio fraudado por seus apoiadores, Papa Doc se declarou, alguns anos mais tarde, presidente vitalício. Estudioso das práticas do vodu – religião dominante no Haiti –, manipulava a fé popular para garantir sua permanência no poder. Em 1971, muito doente, articulou sua sucessão por seu filho, de apenas dezenove anos. Papa Doc morreu no mesmo ano. O saldo de seu regime: 30 mil pessoas assassinadas, meio milhão de haitianos no exílio e o colapso social do Haiti.
Duvalier filho – apelidado de Baby Doc – manteve o regime de terror de seu pai. Liberalizou a economia, inibindo a produção nacional. Oficializou a atuação dos Tontons Macoutes, cujo nome mudou para Voluntários da Segurança Nacional. Em 1986, após manifestações populares contra seu governo, Baby Doc fugiu para a França, onde conseguiu asilo. Em janeiro de 2011, voltou ao Haiti e chegou a ser mantido sob custódia pela polícia na luxuosa casa em que foi morar, no subúrbio da capital. Mas nunca enfrentou a prisão nem os tribunais, apesar do processo que sofreu por corrupção. Morreu em casa vítima de um ataque cardíaco aos 63 anos.