Márcio Marciano
O grupo teatral boliviano Nuevos Horizontes foi fundado no dia 1o. de maio de 1946, data emblemática da orientação anarquista de um grupo liderado por Germinal Liber Forti, filho de imigrantes italianos, em Tupiza, vilarejo nas montanhas bolivianas. Ao longo de mais de cinquenta anos de intensa atividade política e cultural, o Nuevos Horizontes se tornou um símbolo da renovação cênica e da formação de artistas do teatro boliviano moderno. Interessado na emancipação dos trabalhadores bolivianos, o grupo conjuga produção artística e intervenção pedagógica através de espetáculos, oficinas e publicações voltados para a reflexão tanto da arte como da condição de vida precária nas minas, no campo e na cidade.
A definição de Liber Forti sobre o projeto do grupo: Nunca saberemos se foi o contraste da paisagem ou se foi uma vertente de fraternidade adormecida que despertou com nossa primeira representação teatral Hermano lobo, de González Pacheco; se foi por nossa irrenunciável sensibilidade à dor humana, dinamizada pela proximidade ao sofrimento dos mineiros e camponeses ou algo do povo em nós, que nos levou a constituir o grupo teatral Nuevos Horizontes, em Tupiza. Longe estávamos de perceber que tínhamos realizado uma fundação no espírito, pessoal e coletiva, que desde então nos mantém em contatos fraternos com todos aqueles com quem trabalhamos.
Entre 1946 e 1961, o grupo realizou treze turnês por todo o território boliviano, nas quais, além de espetáculos, ofereceu cursos de capacitação para estimular a criação de novos coletivos de trabalhadores. Fez também turnês no Chile e na Argentina. Perseguido pela repressão, o grupo encerrou sua primeira fase em 1961. Liber Forti e alguns remanescentes voltaram a se reunir primeiro em Cochabamba, depois em La Paz, onde deram continuidade ao projeto com a criação de uma cooperativa de rádio e televisão.
O Nuevos Horizontes participou de atos populares organizados pelos sindicatos de mineiros bolivianos. Com a ascensão ao poder do ditador Hugo Banzer, suas atividades foram reprimidas e alguns de seus integrantes, obrigados a deixar o país. Ainda assim, o NH conseguiu desenvolver vários projetos em colaboração com entidades internacionais. Nessa fase surgiram obras como Corrupción en la corte (P. Muller) e Y siempre el teatro (baseado em poemas de Pedro Asquini, colaborador argentino do grupo).
Um novo governo ditatorial, dessa vez de Luis García Meza, intensificou a repressão sobre as atividades do grupo, que se desarticulou temporariamente. Em 1986, retomou sua ação cultural, com a reedição do Curso Nuevos Horizontes para capacitar instructores teatrales, e desde então permanece em atividade, participando de festivais e de ações culturais dentro e fora do país. Atualmente, o NH funciona como uma fundação cultural reconhecida pelo governo da Bolívia.