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Testa, Clorindo

Nápoles (Itália), 1923 – Buenos Aires (Argentina), 2013

Por Roberto Segre

A Biblioteca Nacional da República Argentina, projeto de Clorindo Testa, na Recoleta, em Buenos Aires (Governo da Cidade de Buenos Aires)

Apesar de manter a cidadania italiana, Clorindo Testa é o arquiteto argentino mais reconhecido – nacional e internacionalmente – da segunda metade do século XX. Atraído pelo desenho, estudou arquitetura em Buenos Aires e se formou em 1947. Paralelamente, desenvolveu sua vocação pelas artes plásticas e sua obra pictórica alcançou um renome similar ao de seus edifícios, com suas pinturas espalhadas pelo mundo em diversos museus e galerias. Uma longa viagem pela Europa (1949-1952) o colocou em contato com as tradições históricas do continente, cuja influência perdurou em seu inconsciente, estabelecendo um diálogo constante com a herança cultural argentina ao longo de sua obra.

 

Associado com os arquitetos Dabinovic, Rossi e Gaido, aproveitou o entusiasmo construtivo surgido no país com o retorno à democracia após a queda de Juan Domingo Perón, em 1955, e projetou um conjunto de centros de saúde em Misiones. Em 1956, ganhou o concurso para a construção do Centro Cívico de Santa Rosa, na província de La Pampa, cujo desenvolvimento em várias etapas se prolongou até 1981. Influenciado pela obra de Le Corbusier em Chandigarh, Testa iniciou sua experimentação plástica, focando no tratamento textural do concreto armado exposto, na liberdade compositiva dos volumes e no tratamento cromático dos edifícios. A sede do Banco de Londres e América do Sul (1959-1966), realizada em equipe com o escritório SEPRA, criou uma imagem inédita no centro de Buenos Aires, com sua “megaestrutura” externa de concreto armado e a continuidade dos espaços interiores definidos por bandejas suspensas de cabos de aço. Essas evocavam a dilatação das basílicas romanas, o dinamismo das “Carceri” de Piranesi e as fugas perspectivas de Flash Gordon. A obra foi criticada por seu conteúdo ideológico e, finalmente, abandonada pela instituição devido às consequências negativas da Guerra das Malvinas.

Ao mesmo tempo, seu projeto para a Biblioteca Nacional (1962-1995), realizado com Francisco Bullrich e Alicia Gazzaniga, foi premiado. Promovido pelo governo de Arturo Frondizi, foi paralisado durante as sucessivas ditaduras militares e concluído na administração de Carlos Saúl Menem. Este projeto também apresentou uma tipologia inusitada: abaixo, a biblioteca, e suspenso no ar, o salão de leitura, mantendo a área verde do parque que o contém livre. Durante a sombria etapa política argentina, Testa afastou-se dos encargos oficiais e mergulhou mais profundamente na pintura. Nas obras iniciadas na década de 1980 – como o Centro Cultural da cidade de Buenos Aires (1979-1980) e o Design Center no bairro da Recoleta (1990-1993) – abandonou o linguagem “brutalista” e o expressionismo estrutural. Iniciou uma fase de liberdade criadora, caracterizada pela fusão entre arquitetura, escultura, pintura e design, através de um linguagem metafórica, irônica e satírica. Resultaram em exercícios plásticos livres, cujas soluções espaciais e formais foram inesperadas e imprevisíveis. Isso ocorreu no centro religioso budista La Paz SGIAR em Buenos Aires (1993) e no Auditório da Universidade do Salvador em Pilar, na província de Buenos Aires (1998-2002). Este edifício foi concebido como uma “colina” verde, mimetizando-se com a paisagem, e sua localização em frente ao rio Luján foi aproveitada para colocar uma plataforma de observação em seu telhado. Testa recebeu diversos reconhecimentos, entre eles o Prêmio Konex de Platina (1982), o Prêmio Trienal “Arquiteto da América” da FAPA (1987) e o Prêmio Vitruvius na Bienal de Arquitetura de Buenos Aires (1994).

O arquiteto Clorindo Testa mostra uma maquete à presidente Cristina Kirchner na Biblioteca Nacional, em Buenos Aires, em janeiro de 2010 (Presidência da Nação Argentina)

Conteúdo atualizado em 21/05/2017 às 14:13.