TEMA DO ENCONTRO
O cinema é invenção científica, parte integrante da experiência sensória, econômica e cultural que engendrou o mundo moderno. Traquitanas pré-cinematográficas produziam formas de diversão para a força de trabalho industrial nas metrópoles emergentes. Ao longo do século XX, tecnologias sucessivamente atualizadas e contemporâneas a outras, como o trem, o bonde, o automóvel, o telefone, o rádio, o avião, a televisão, transformaram a vida cotidiana ao introduzir a aceleração no tempo e no espaço.
O cinema é transgressão; equipamentos ópticos e sonoros valorizam espaços da vida pública nas cidades, irreverência para além dos limites fisiológicos do corpo humano. Câmeras leves, amadoras, desde o início da história das imagens em movimento, estimularam a produção doméstica e institucional de registros imagéticos do cotidiano e de rituais de passagem: aniversários, casamentos, enterros, ocasiões de comemoração e luto
O cinema é também pensamento e poesia; lança indagações que interpelam o mundo. Na vida contemporânea, a tecnologia digital incrementou a disseminação da captação e circulação de imagens e sons. Em seu formato auditório, tela e plateia, o cinema funcionou como espécie de vitrine animada, que popularizou a moda, o turismo, o consumo de estilos de vida.
Inicialmente aberta a espectadores homens, ao admitir também mulheres, o cinema difundiu repertórios anteriormente restritos a ambientes masculinos e adultos promovendo a circulação de repertórios.
Na forma de luxuosos palacetes, salas de cinema se aproximavam de templos onde se cultivaram narrativas que exploravam a materialidade do mundo do consumo, idealmente ao alcance de todos.
A televisão domesticou a vida pública e capilarizou vitrines, agora eletrônicas. Narrativas didáticas sobre formas de vida que associam o consumo à legitimação de diversidade racial e de gênero e de padrões alternativos de sexualidade e organização familiar. O conflito tornou-se a base da notícia e do romance. Dispositivos móveis turbinaram as possibilidades de captação e circulação de imagens e sons. A disseminação do fetiche, da publicidade, da celebridade, da desinformação e a hiper-dramatização da vida se acentuaram à medida que novas formas e formatos de difusão de conteúdos audiovisuais ganharam terreno nos mais diversos aplicativos.
O cinema e a televisão continuamente pensaram o seu momento e projetaram futuros possíveis. O que pode o audiovisual diante de um cenário de incertezas e de apropriações nefastas da imaginação moderna, como o que vivemos hoje? No século XXI será possível superar a catástrofe espetacular? O que podem formas audiovisuais experimentais, ensaísticas, processos criativos, performances, autobiografias, na projeção de futuros? O que pode a poesia na reciclagem de materiais dos imensos arquivos digitais que nos armazenam?
Quais são as intermediações que algoritmos introduzem na captação e na circulação de imagens e sons? Em vez de vigiar e limitar com referências a duplos (ou ao mesmo), como produzir algoritmos capazes de ampliar horizontes? Que inspirações as tensões nas fronteiras das artes e ciências podem gerar? O que pode o audiovisual para inventar futuros sustentáveis, criativos, plurais, diversos, marcados pela liberdade e pela justiça social?
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