SILVA, Kelly (2018). Análise micromorfológica do processo de formação do sí­tio arqueológico sol de Campinas do Acre – AC

Resumo 
Neste trabalho apresenta-se o estudo geoarqueológico do sítio Sol de Campinas do Acre (SCA), sítio de estruturas monticulares localizado no sudoeste da Amazônia brasileira. Considerado pelo Registro Nacional de Sítios Arqueológicos como um geoglifo circular, atualmente é composto de 15 montículos com uma altura média de 3 metros. Os montes são dispostos de forma elíptica em torno de uma praça central, cobrindo aproximadamente 15.000 m². As datações de radiocarbono mostraram que o SCA foi construído após a maioria dos geoglifos na região. Especificamente, o montículo M11, estudado neste trabalho, revelou uma sucessão de eventos de ocupação entre os séculos XI e XVII As estruturas em terra são amplamente conhecidas na Amazônia desde os tempos antigos por causa de sua conspicuidade na paisagem (frequentemente interpretada como evidência de monumentalidade). Apesar da quantidade, extensão e diversidade de formas que essas estruturas podem adotar, pouco se sabe sobre o uso que tiveram nas comunidades responsáveis pela sua construção. Pesquisas recentes no sudoeste da Amazônia concebem a engenharia de terra como uma prática cultural dinâmica e duradoura que transformou a paisagem e estabeleceu redes regionais de comunicação. Apesar das estruturas em terra da Amazônia serem amplamente conhecidas, ainda existem poucos estudos geoarqueológicos que busquem compreender os processos de formação a partir do estudo de seu principal componente: os sedimentos. Os resultados do estudo micromorfológico do montículo M11 indicaram uma clara intencionalidade na escolha do material de construção. A matéria prima utilizada foi sempre o solo da região. Foi possível observar duas técnicas construtivas em diferentes momentos da história do montículo M11: a primeira foi utilizada na construção da base do montículo, com o uso de material argiloso e nódulos de ferro, possivelmente para oferecer maior resistência à estrutura; e a segunda utilizada nas camadas superiores, construídas com material de granulometria mais grossa (frações silte e areia), que indicam uma continuidade desta prática ao longo de diferentes gerações. A construção do montículo M11 segue uma engenharia que o permitiu permanecer na paisagem por pelo menos cinco séculos, com uma realidade climática de intensas chuvas, secas e recentemente atividades pecuárias. Os povos originários responsáveis pelas construções das estruturas em terra da Amazônia Ocidental não tinham variedade de materiais construtivos. A história geológica da região resultou em um cenário onde os recursos minerais eram restritos aos solos da região e sedimentos dos rios e igarapés. Os povos construtores foram capazes de conhecer e dominar os recursos criando variedades com seleção de misturas e técnicas para uso.