Quem somos

História do Carreira Lab

PESQUISAS E PRÁTICAS NO DOMÍNIO DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: UM REGISTRO HISTÓRICO

A história da ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL no Departamento de Psicologia da FFCLRP/USP, sob nossa coordenação, tem início em 1993, com a ministração de disciplinas na graduação e a oferta de atendimento à comunidade por meio do Serviço de Orientação Profissional (SOP) em 1994. Concomitantemente às atividades didáticas e de extensão, em minha pesquisa de doutorado (tese defendida em 2000), visei contribuir com a produção nesse domínio do conhecimento, avaliando uma intervenção por meio de alguns construtos relevantes, como interesses e maturidade, além de realizar avaliação da intervenção com medidas pré e pós-teste. Assim, a AVALIAÇÃO DA INTERVENÇÃO foi colocada na agenda do grupo de pesquisa e, indubitavelmente na Orientação Profissional brasileira de uma forma mais sistemática. A partir dos anos 2000 –em projetos de iniciação científica, mestrado e doutorado– desenvolvemos pesquisas em três vertentes: (a) avaliação da pessoa e de seus problemas, (b) avaliação da intervenção, e (c) das problemáticas que se apresentam aos investigadores e aos profissionais (Melo-Silva, 2001, 2011). No âmbito do Programa de Pós-graduação em Psicologia da FFCLRP/USP orientamos e coordenamos investigações na linha de pesquisa intitulada “Orientação Profissional, Desenvolvimento e Educação para a carreira: diagnóstico e intervenção”. Elas focalizam estudos com e sobre instrumentos, sobre dimensões psicológicas relevantes no domínio da carreira, sobre avaliação da intervenção e políticas públicas e científicas para a oferta de serviços.

A Intervenção de Carreira, ou em Orientação Profissional como a área é denominada no Brasil, pode ser definida como qualquer estratégia concebida para ajudar a pessoa ou grupos de pessoas a tomar e implementar decisões eficazes de carreira. Essa definição implica em uma grande diversidade de possibilidades para o desenvolvimento de pesquisas e de práticas de intervenção nos contextos da Psicologia brasileira, notadamente na Orientação Profissional e no Aconselhamento de Carreira. As Intervenções de Carreira se dão em determinados níveis dependendo da situação na qual se encontra a pessoa, ou o grupo de pessoas, com necessidades de tomada de decisão sobre estudos e/ou trabalho. Para planejar programas mais apropriados, a literatura aponta que é preciso avaliar a pessoa e seu problema e assim definir a melhor estratégia e o nível de aprofundamento da intervenção. Diferentes estratégias, programas ou modelos de serviços existem para auxiliar pessoas na tomada de decisão, na construção de um projeto de carreira ao longo da vida. No final do século passado, o Brasil carecia de estudos que focalizavam a avaliação dos serviços. Assim, perguntas foram e são formuladas sobre a eficácia das intervenções na literatura estrangeira e, em especial, na brasileira após os anos 2000.

A avaliação da pessoa ou de seus atributos pessoais, traços e características (como interesses, maturidade, aptidões, personalidade, valores, autoeficácia, inteligência, competência, entre outros) tem sido tema de debates no contexto brasileiro. Ainda que as pessoas que procuram orientação profissional manifestem o desejo de fazer um “teste vocacional”, muitas estratégias de intervenção no Brasil, nas últimas décadas, deixaram de realizar avaliação dos atributos pessoais. Muitos procedimentos de intervenção excluem as avaliações sistematizadas de qualquer natureza, outros optam por um modelo de avaliação dinâmico baseado na análise de entrevistas ou de técnicas, mais ou menos padronizadas.

Desde o final do século passado os estudos brasileiros avançaram muito graças aos esforços dos pesquisadores da área de Avaliação Psicológica, e, também, da Orientação Profissional e de Carreira com a criação de instrumentos, válidos e confiáveis, para uso nas intervenções. Em nosso grupo de pesquisa, as três vertentes mencionadas anteriormente (avaliação da pessoa, da intervenção e das problemáticas) são consideradas relevantes para investigações. Predominam em nosso grupo de pesquisa estudos sobre duas dimensões psicológicas: interesse profissional e maturidade ou adaptabilidade de carreira, além de outras dimensões. Assim participamos do Centro de Pesquisas em Psicodiagnóstico (CCP), sob a liderança da Profª Titular Sonia Regina Pasian – https://sites.usp.br/cpp/

Os estudos sobre interesse profissional, no conjunto das investigações realizadas pelo grupo, priorizam a abordagem psicodinâmica que fundamenta o Teste de Fotos de Profissões (BBt-Br) de Achtnich, adaptado por Jacquemin et al. (2000, 2006). Por sua vez, a dimensão psicológica maturidade para a escolha da carreira é tratada nos estudos com base no referencial teórico desenvolvimentista de Super, que também subsidia a Escala de Maturidade para a Escolha Profissional (EMEP), de Neiva (1999, 2014), que utilizamos em investigações com adolescentes. Sendo mais recentemente desenvolvidos estudos que focalizam a adaptabilidade de carreira, fazendo uso da Escala de Adaptabilidade de Carreira, de Savickas e Porfeli (2002), em investigações com universitários e adultos em geral. Construtos como autoeficácia para o trabalho, e transição de carreira perpassam algumas das investigações, embasados na Teoria Social Cognitiva de Carreira e na Teoria Transicional, respectivamente.

As pesquisas sobre avaliação da intervenção focalizam processos e foram desenvolvidas com base no referencial teórico-metodológico de grupo operativo de Enrique Pichon-Rivière (1994, 1995). São utilizados instrumentos de medida pré e pós intervenção e análise de dados qualitativos obtidos por meio de registros de observações no campo. As bases teóricas – desenvolvimentista e psicodinâmica –, têm sido apropriadas no desenvolvimento das práticas de extensão universitária desenvolvidas no SOP, na formação na graduação e na pós-graduação em Psicologia na FFCLRP. Nesses contextos formativos nos preocupamos com a carreira dos alunos, visando assim o treino em competências transferíveis para outros contextos de pesquisa e/ou atendimento psicológico. Assim, atividades de pesquisa, ensino e extensão se combinam.

Concomitantemente ao trabalho na docência e na pesquisa atuamos de forma comprometida na Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP) e na Revista Brasileira de Orientação Profissional (RBOP). No período de 2003-2013, a revista esteve sediada na Psicologia de Ribeirão Preto contando com o envolvimento da comunidade uspiana (docentes, alunos e funcionários). Nos dois contextos, nos quais ainda atuamos, buscamos qualificar a área, ampliar as temáticas focalizada na agenda brasileira, discutir competências para a qualificação do orientador profissional e políticas públicas para oferta de serviços, sobretudo em escolas, como forma de democratizar o acesso.

Particularmente, com o foco em investigações sobre problemáticas, que se apresentam aos profissionais e pesquisadores, nossas ações também se centram em políticas públicas para a oferta de serviços na Educação Básica. Assim, investigações foram realizadas sobre EDUCAÇÃO PARA A CARREIRA, com dados sobre a representações sociais de professores e sobre a formação de o jovem aprendiz, além de extensa revisão da legislação brasileira. Novamente nosso grupo de pesquisa introduz uma temática relevante, cujo marco é a tese de Munhoz (2010). Nesse domínio há possibilidades de intervenção no contexto educativo e há legislação para a inserção da/o psicóloga/o em escolas.

Com vistas ao maior alcance dos estudos, um dos focos das investigações atuais, sem excluir os demais interesses, está no desenvolvimento socioemocional e sua relação com as competências de carreira. Duas dissertações de mestrado e uma tese de doutorado foram concluídas, e outros cinco mestrados estão em andamento. Alinhando as COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS E DE CARREIRA, o nosso grupo de pesquisa contribui para a inserção de mais uma temática relevante com a tese de Leal (2019), representando um marco histórico.

Um novo laboratório – o Carreira Lab – foi criado em 29/11/18 para reunir investigadores da Orientação Profissional e da Psicologia Educacional e Escolar, com a participação da Profª Fabiana Maris Versutti – https://sites.usp.br/conectalab/. Temos parceria com o eduLab21, do Instituto Ayrton Senna, um laboratório dedicado à produção e à disseminação de conhecimento científico para apoiar a formulação de políticas públicas para uma educação de qualidade. Também firmamos um convênio com o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) para a realização de eventos e pesquisas. A diversidade de estudos pode ser vista no menu sobre as pesquisas concluídas e em andamento.

Velozes mudanças estão ocorrendo no modo de ser, conviver, estudar e trabalhar, e indubitavelmente têm reflexos na vida e na carreira e, sobre as temáticas do universo da carreira nos contextos da educação e do trabalho o grupo de pesquisa se debruça. Assim, trabalhamos com vistas a produzir conhecimento que possa contribuir para dar algumas respostas às demandas sociedade, e qualificar os alunos da graduação e da pós-graduação na realização de pesquisas e para a atuação profissional.

Lucy Leal Melo-Silva

(Professora Sênior do Departamento de Psicologia, USP-Ribeirão Preto)