Professores(as) da Rede Municipal de Ensino de São Paulo experimentam jogos desenvolvidos por universitários(as) na disciplina “Educomunicação Socioambiental”
Por Sofia Lanza
Em uma aula sobre justiça climática, do curso “Educomunicação socioambiental: precisamos conversar sobre emergência climática nas escolas”, parte do projeto “Educom & Clima, iniciativa do Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – NCE/ECA/USP, professores(as) de 65 escolas da Rede Municipal de Ensino de São Paulo (RME-SP) testaram materiais paradidáticos produzidos por estudantes da USP.
“Esse é um jogo bem tranquilo, são trinta cartas que apresentam uma situação com quatro possibilidades de resposta e são baseados nos ODSs. É interessante que cada cartinha daria um trabalho independente pra fazer na escola também”, compartilha Heulieda Cristovão de Macedo, professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Ruy Barbosa, que testou o “Perguntados Socioambiental”.
Esse e outros jogos são resultado da disciplina optativa “Educomunicação Socioambiental”, também da ECA-USP, que faz parte da grade curricular da Licenciatura em Educomunicação, que incentivou os(as) alunos(as) a criarem materiais em formato digital, multimídia (sonoro, visual e/ou audiovisual) que discutissem o enfrentamento ao racismo ambiental.
A partir disso, a turma se dispôs a utilizar os aprendizados e experiências em aula, além de sua própria bagagem para criação de jogos, cartilhas, fanzines e podcasts. E muito dessa diversidade é reflexo da própria sala de aula. Em 2024, a turma era composta por estudantes de 13 cursos diferentes, ainda que uma maioria da engenharia ambiental da Poli-USP. Além dessa graduação (Engenharia Ambiental), havia estudantes de Relações Públicas, Educomunicação, Gestão Ambiental, Engenharia de Materiais, Saúde Pública, Jornalismo, Artes Cênicas, Pedagogia, Audiovisual, Geociências, Ciências Sociais e Turismo.
“A gente ficou bem entretido, entendemos a lógica de jogo e conseguimos jogar. O jogo tem um ganhador, mas é colaborativo ao mesmo tempo. A lógica é que cada um aqui é de uma comunidade com problemas para serem resolvidos. E a gente tem que achar os problemas e as soluções, mas a solução do meu problema tá com a outra pessoa, então temos que colaborar”, conta Marcelo Augusto Pereira dos Santos, professor da EMEF Dilermando Dias dos Santos, sobre o jogo “Salve-se quem conseguir”.
Entretanto, por se tratar de uma experiência inicial dos(as) alunos(as) com a criação de materiais para o ensino básico, algumas adaptações foram sugeridas pelos(as) professores(as): “Tem algumas palavras que precisariam de um glossário, mas dá pra trabalhar com as crianças. Apesar de ter algumas coisas que eles ainda não tem acesso, acho que vale a pena levantar as discussões, pode ser até conteúdo pra mais de um dia de aula”.
Os docentes também apontaram ambiguidades na jogabilidade de alguns deles, mas que poderiam ser contornadas e até mesmo utilizadas como outra ferramenta de ensino: “Tem frases que geram dúvida, o que é verdadeiro ou falso, e aí levanta o debate. Nós optamos por mostrar as cartas, porque aí se discute: porque você acha que isso é bom ou ruim? Entra como uma discussão coletiva”.
Os materiais produzidos podem ser acessados aqui. A disciplina Educomunicação Socioambiental é ofertada como matéria optativa para alunos de graduação de todos os cursos da USP e ocorre anualmente no segundo semestre.
Sobre a disciplina de Educomunicação Socioambiental
“As chamadas crises ambientais globais, que têm na emergência climática sua expressão mais eloquente, são marcadas pela interdependência e pela variabilidade dos fenômenos que as originam e as agravam.
A todo momento esses “objetos cabeludos” nos lembram que passamos do mundo das certezas objetivas para o das probabilidades, cuja validade se assenta não mais na Verdade, mas na qualidade da informação e nas estratégias mais democráticas de resolução de problemas.
É preciso lembrar que há uma relação intrínseca entre o aumento das desigualdades, a desregulamentação e o negacionismo climático. E que o enfrentamento a essa tríade perversa se dá no contexto da sociedade da informação, na qual a informação constitui matéria-prima estratégica e as novas tecnologias de informação e comunicação moldam as atividades humanas (mas não as determinam).
Por isso, é cada vez mais urgente levarmos a sério o alerta de que precisamos superar tanto as concepções economicistas de desenvolvimento quanto a visão instrumental da comunicação. Uma estratégia metodológica fundamental para esta disciplina é a realização de viagens didáticas, aulas de campo e visitas técnicas, a fim de conhecer in loco políticas públicas concretas e suas interfaces existentes ou potenciais com a educomunicação” – texto retirado do Programa resumido da disciplina no JupiterWeb
“Em 2024 foi a segunda vez em que lecionei Educomunicação Socioambiental. Na primeira, em 2023, a turma construiu materiais paradidáticos sobre Agenda Municipal 2030 de São Paulo, que foram para um curso EaD do Instituto Akatu em parceria com a Umapaz. Deu tão certo que em 2024 resolvi atualizar a experiência, a produção desses materiais paradidáticos de enfrentamento ao racismo ambiental, que não só estiveram na turma experimental do curso “Educomunicação Socioambiental: precisamos conversar sobre emergência climática nas escolas”, quanto integrarão a versão EaD do mesmo, que será disponibilizada gratuitamente a qualquer escola interessada no Ambiente Virtual de Aprendizagem do MEC (AVAMEC)”, conta Thaís Brianezi, docente responsável pela disciplina.