Estudantes da USP criam materiais paradidáticos que discutem racismo ambiental

Professores(as) da Rede Municipal de Ensino de São Paulo experimentam o jogo “Salve-se quem conseguir”, criado por universitários para discutir racismo ambiental. (Imagem/Danilo Restaino)

Professores(as) da Rede Municipal de Ensino de São Paulo experimentam jogos desenvolvidos por universitários(as) na disciplina “Educomunicação Socioambiental”

 

Por Sofia Lanza

Em uma aula sobre justiça climática, do curso “Educomunicação socioambiental: precisamos conversar sobre emergência climática nas escolas”, parte do projeto “Educom & Clima, iniciativa do Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – NCE/ECA/USP, professores(as) de 65 escolas da Rede Municipal de Ensino de São Paulo (RME-SP) testaram materiais paradidáticos produzidos por estudantes da USP

“Esse é um jogo bem tranquilo, são trinta cartas que apresentam uma situação com quatro possibilidades de resposta e são baseados nos ODSs. É interessante que cada cartinha daria um trabalho independente pra fazer na escola também”, compartilha Heulieda Cristovão de Macedo, professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Ruy Barbosa, que testou o “Perguntados Socioambiental”.

Esse e outros jogos são resultado da disciplina optativa “Educomunicação Socioambiental”, também da ECA-USP, que faz parte da grade curricular da Licenciatura em Educomunicação, que incentivou os(as) alunos(as) a criarem materiais em formato digital, multimídia (sonoro, visual e/ou audiovisual) que discutissem o enfrentamento ao racismo ambiental.

A partir disso, a turma se dispôs a utilizar os aprendizados e experiências em aula, além de sua própria bagagem para criação de jogos, cartilhas, fanzines e podcasts. E muito dessa diversidade é reflexo da própria sala de aula. Em 2024, a turma era composta por estudantes de 13 cursos diferentes, ainda que uma maioria da engenharia ambiental da Poli-USP. Além dessa graduação (Engenharia Ambiental), havia estudantes de Relações Públicas, Educomunicação, Gestão Ambiental, Engenharia de Materiais, Saúde Pública, Jornalismo, Artes Cênicas, Pedagogia, Audiovisual, Geociências, Ciências Sociais e Turismo.

“A gente ficou bem entretido, entendemos a lógica de jogo e conseguimos jogar. O jogo tem um ganhador, mas é colaborativo ao mesmo tempo. A lógica é que cada um aqui é de uma comunidade com problemas para serem resolvidos. E a gente tem que achar os problemas e as soluções, mas a solução do meu problema tá com a outra pessoa, então temos que colaborar”, conta Marcelo Augusto Pereira dos Santos, professor da EMEF Dilermando Dias dos Santos, sobre o jogo “Salve-se quem conseguir”. 

Entretanto, por se tratar de uma experiência inicial dos(as) alunos(as) com a criação de materiais para o ensino básico, algumas adaptações foram sugeridas pelos(as) professores(as): “Tem algumas palavras que precisariam de um glossário, mas dá pra trabalhar com as crianças. Apesar de ter algumas coisas que eles ainda não tem acesso, acho que vale a pena levantar as discussões, pode ser até conteúdo pra mais de um dia de aula”.

Os docentes também apontaram ambiguidades na jogabilidade de alguns deles, mas que poderiam ser contornadas e até mesmo utilizadas como outra ferramenta de ensino: “Tem frases que geram dúvida, o que é verdadeiro ou falso, e aí levanta o debate. Nós optamos por mostrar as cartas, porque aí se discute: porque você acha que isso é bom ou ruim? Entra como uma discussão coletiva”. 

Os materiais produzidos podem ser acessados aqui. A disciplina Educomunicação Socioambiental é ofertada como matéria optativa para alunos de graduação de todos os cursos da USP e ocorre anualmente no segundo semestre.

 

Sobre a disciplina de Educomunicação Socioambiental

“As chamadas crises ambientais globais, que têm na emergência climática sua expressão mais eloquente, são marcadas pela interdependência e pela variabilidade dos fenômenos que as originam e as agravam. 

A todo momento esses “objetos cabeludos” nos lembram que passamos do mundo das certezas objetivas para o das probabilidades, cuja validade se assenta não mais na Verdade, mas na qualidade da informação e nas estratégias mais democráticas de resolução de problemas. 

É preciso lembrar que há uma relação intrínseca entre o aumento das desigualdades, a desregulamentação e o negacionismo climático. E que o enfrentamento a essa tríade perversa se dá no contexto da sociedade da informação, na qual a informação constitui matéria-prima estratégica e as novas tecnologias de informação e comunicação moldam as atividades humanas (mas não as determinam). 

Por isso, é cada vez mais urgente levarmos a sério o alerta de que precisamos superar tanto as concepções economicistas de desenvolvimento quanto a visão instrumental da comunicação. Uma estratégia metodológica fundamental para esta disciplina é a realização de viagens didáticas, aulas de campo e visitas técnicas, a fim de conhecer in loco políticas públicas concretas e suas interfaces existentes ou potenciais com a educomunicação” – texto retirado do Programa resumido da disciplina no JupiterWeb

“Em 2024 foi a segunda vez em que lecionei Educomunicação Socioambiental. Na primeira, em 2023, a turma construiu materiais paradidáticos sobre Agenda Municipal 2030 de São Paulo, que foram para um curso EaD do Instituto Akatu em parceria com a Umapaz. Deu tão certo que em 2024 resolvi atualizar a experiência, a produção desses materiais paradidáticos de enfrentamento ao racismo ambiental, que não só estiveram na turma experimental do curso “Educomunicação Socioambiental: precisamos conversar sobre emergência climática nas escolas”, quanto integrarão a versão EaD do mesmo, que será disponibilizada gratuitamente a qualquer escola interessada no Ambiente Virtual de Aprendizagem do MEC (AVAMEC)”, conta Thaís Brianezi, docente responsável pela disciplina.

 

conteúdo relacionado