Manuel Correia de Andrade é considerado um dos mais relevantes acadêmicos brasileiros do século XX. Seu trabalho, reconhecido tanto no Brasil como no exterior, produziu contribuições expressivas no campo das Ciências Sociais.
Neste artigo, vamos descobrir parte da vida e obra do intelectual, que foi pioneiro na chamada geografia moderna brasileira. Leia mais abaixo!
Primeiros anos de vida
Manuel Correia de Andrade nasceu em 1922 no Engenho Jundiá, que na época integrava o distrito de Nazaré da Mata, atualmente, o município pernambucano de Vicência.
Foi no Engenho Jundiá, comprado anos antes por seu avô, que Manuel passou a infância com seus pais — Joaquim Correia Xavier de Andrade e Zulmira Azevedo Correia de Andrade — e oito irmãos.
A infância no Engenho, cercada pela paisagem da Zona da Mata nordestina, foi crucial para que Manuel estabelecesse uma relação com a geografia e as dinâmicas humanas, que acompanharam seu trabalho intelectual durante toda a vida.
Aos 11 anos, após terminar o Ensino Primário em Vicência, Manuel se mudou para Recife para concluir o Secundário no Liceu Pernambucano. Permaneceu estudando na Instituição até 1939, quando passou a cursar o segundo ano do Pré-Jurídico no Instituto Carneiro Leão.
Início da vida acadêmica e política
Apesar do interesse voltado para Ciências Sociais, Andrade precisou optar pelo Direito para corresponder às expectativas do pai, que também era advogado.
Concluiu o bacharelado, em 1945 na Faculdade de Direito do Recife, local onde deu início aos seus estudos e primeiros passos na vida política, através da luta estudantil, além de se dedicar às causas nacionais.
Na época, o Brasil passava pelo chamado Estado Novo, ditadura brasileira instaurada por Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937. Censura aos jornais e aos movimentos sociais eram parte da repressão imposta pelo estado.
Foi também durante seu posicionamento nos movimentos reivindicatórios democráticos que Andrade passou a desenvolver os primeiros escritos voltados para reformas nos setores econômico e social. Fugindo da lógica liberal imposta por determinados líderes da Revolução de 1930 e alinhando-se à esquerda.
Esteve junto com Gilberto Freyre — um dos mais importantes sociólogos do século XX — na luta política contra o Estado Novo, em favor da redemocratização do Brasil, fato que o levou à prisão e ao indiciamento pelo Tribunal de Segurança Nacional.
Participou também de manifestações a favor dos Aliados, durante a Segunda Guerra Mundial, militou por algum tempo no Partido Comunista do Brasil e depois na Esquerda Democrática, ala da União Democrática Nacional (UDN), liderada por Gilberto Freyre. Ainda como advogado atuou no Sindicato dos Ferroviários, no Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Exploração de Pedras de Jaboatão, e no Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Papel e Papelão,
A opção por história e geografia
Entusiasmado com a obra de Caio Prado Junior, Andrade passou a escrever para jornais e revistas universitárias acerca de temas que marcaram sua trajetória acadêmica: a questão regional; o problema da estrutura fundiária do país e a necessidade de uma política agrária; as desigualdades sociais; a questão ambiental e as revoluções libertárias.
Em 1943, surge a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Manuel da Nóbrega — atual Universidade Católica de Pernambuco — fundada pelos jesuítas no Colégio Nóbrega. Manuel Correia de Andrade, que ainda cursava Direito, decide iniciar a Licenciatura em Geografia e História sem abandonar o primeiro curso.
Por fim, em 1945, o acadêmico terminou concomitantemente o bacharelado em Direito e a Licenciatura em Geografia e História. Esse passo foi crucial para marcar de vez as reflexões do acadêmico.
Títulos acadêmicos de Manuel Correia de Andrade
Manuel Correia de Andrade foi detentor de prêmios e títulos acadêmicos que exemplificam a sua importância como intelectual na área das Ciências Sociais.
Dentre os títulos e feitos do autor, destacam-se:
- Professor honoris causa das Universidades Federais de Alagoas, Sergipe e Rio Grande do Norte e da Universidade Católica de Pernambuco;
- Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco;
- Membro da Agência de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condepe);
- Diretor do Grupo Executivo de Produção de Alimentos (GEPA) – órgão criado por Miguel Arraes no governo de Pernambuco entre 1963 e 1964;
- Presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros entre 1961 e 1963 e Vice-Presidente da mesma AGB entre 1968 e 1969;
- Bolsista, em 1964, na École Pratique des Hautes Études de Paris e no Ministério da Economia francês;
- Principal organizador e coordenador do Mestrado em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco, criado em 1977;
- Coordenador do Mestrado em Economia da Universidade Federal de Pernambuco;
- Um dos criadores, na década de 1980, da Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia;
- Diretor do Centro de Estudos de História Brasileira (CEHIBRA) da Fundação Joaquim Nabuco entre 1984 e 2002;
- Bolsista e membro de comissões do CNPq por mais de duas décadas;
- Pesquisador visitante da Universidade de Sukuba, no Japão, em 1980;
- Professor visitante no programa de Mestrado e Doutorado em Geografia da Universidade de São Paulo, entre 1986 e 1987;
- Parecerista e membro de diversas organizações nacionais e internacionais, como o International Council for Research in Cooperative Development (Suíça).
A produção teórica de Manuel Correia de Andrade
Manuel Correia de Andrade escreveu mais de 100 livros durante sua trajetória acadêmica e intelectual, além de outras publicações.
Com início precoce, ele escreveu textos para jornais e revistas universitárias na década de 1940, destacando temas variados, ainda que ficassem claros os interesses do autor pelas áreas mais latentes de sua pesquisa: Geografia e História.
Destaca-se também o seu trabalho na redação de livros didáticos, entre as décadas de 1950 e 1980, ao lado de sua atuação como professor em escolas públicas e particulares.
O recorte didático da sua obra procurou ultrapassar os cunhos enciclopédicos do ensino de Geografia no Ensino Fundamental e Técnico.
Andrade também atuou ativamente em publicações coletivas, prefácios, apresentações, introduções e colaborações com jornais, além de conferências.
Entre suas obras destacam-se as que passaram por diferentes edições e atravessam as décadas de 1950 a 1990, como o já clássico A Terra e o Homem no Nordeste (1963).
Outros títulos:
- Geografia do Brasil, 3a. série ginasial. São Paulo, 1952;
- Geografia geral para a 1a. série ginasial. São Paulo, 1954;
- Geografia geral para a 2a. série ginasial. São Paulo, 1954;
- Geografia geral para a 4a. série ginasial. São Paulo, 1957;
- Geografia e história de Pernambuco. São Paulo, 1959;
- A pecuária no agreste pernambucano. Recife, 1961;
- O Distrito Industrial e suas condições climáticas. Recife, 1962;
- Geografia do Brasil: região Nordeste. São Paulo, 1962;
- Geografia do Brasil, curso colegial. São Paulo, 1965;
- Geografia geral: física e humana. São Paulo, 1965;
- A guerra dos cabanos. [Rio de Janeiro], [1965].
- Espaço, polarização e desenvolvimento: a teoria dos pólos de desenvolvimento e a realidade nordestina. Recife, 1967;
- Geografia dos continentes. São Paulo, 1968;
- Geografia econômica do Nordeste: o espaço e a economia nordestina. São Paulo, 1970;
- Nordeste, espaço e tempo. Petrópolis, 1970;
- Movimentos nativistas em Pernambuco: Setembrizada e Novembrada. Recife, 1971
- Aceleração e freios do desenvolvimento brasileiro. Petrópolis, 1973;
- Geografia econômica. São Paulo, 1973;
- O processo de ocupação do espaço regional do Nordeste. Recife, 1975;
- Os trinta anos do Brasil. Recife, 1976;
- História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo, 1976;
- O planejamento regional e o problema agrário no Brasil. São Paulo, 1976;
- O processo de ocupação do espaço pernambucano. Recife, 1976;
- Agricultura & capitalismo. São Paulo, 1979;
- Latifúndio e reforma agrária no Brasil. Rio de Janeiro, 1980;
- 1930: a atualidade da Revolução. São Paulo, 1980;
- Capital, Estado e industrialização do Nordeste. Rio de Janeiro, 1981;
- Nordeste: a reforma agrária ainda é necessária? Recife, 1981;
- As alternativas do Nordeste. Recife, 1983;
- Projeto, avaliação e diagnóstico da Geografia no Brasil. Brasília, 1983;
- Poder político e produção do espaço. Recife, 1984;
- Classes sociais e agricultura no Nordeste. Recife, 1985;
- Abolição e reforma agrária. São Paulo, 1987;
- Geografia, ciência da sociedade: uma introdução à análise do pensamento geográfico. São Paulo, 1987;
- O Nordeste e a Nova República. Recife, 1987;
- O homem e a cana-de-açúcar no vale do Siriji. Recife, 1987;
- mperialismo e fragmentação do espaço. São Paulo, 1988;
- A Revolução de 30: da República Velha ao Estado Novo. Porto Alegre, 1988;
- O Brasil e a África. São Paulo, 1989;
- Caminhos e descaminhos da Geografia. Campinas, 1989;
- A Itália no Nordeste: contribuição italiana ao Nordeste do Brasil. Recife, 1992
- Uma geografia para o século XXI. Recife, 1993;
- O desafio ecológico: utopia e realidade. São Paulo, 1994;
- A questão do território no Brasil. Recife, 1995.
Manuel Correia de Andrade faleceu no dia 22 de junho de 2007 em Recife.
Fonte: Fundação Joaquim Nabuco
Descubra o PMCA
O Projeto Manuel Correia de Andrade é formado por um conjunto de ações de preservação e extroversão do acervo homônimo, doado ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo pela família do acadêmico pernambucano Manuel Correia de Andrade.
Considerado um dos maiores acadêmicos brasileiros do século XX, Manuel Correia de Andrade (1922 – 2007) teve uma trajetória intelectual e profissional referência nas esferas universitária e institucional, bem como em uma vasta produção bibliográfica.
Suas pesquisas se refletem também na sua biblioteca pessoal — iniciada por seu pai e avô—, reunindo uma vasta variedade de volumes e periódicos.