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Borges, Jorge Luis

Buenos Aires (Argentina), 1889 – Genebra (Suíça), 1986

Por Flávio Aguiar

Um dos alicerces fundadores da literatura latino-americana do século XX, assegurou a renovação e, ao mesmo tempo, a retomada das raízes da cultura ocidental ao continente. Criou o grupo Martín Fierro, porta-voz da vanguarda literária dos anos 1920 e 1930 na Argentina, e dedicou-se ao conto, à poesia, ao ensaio, à crítica literária, ao romance e à tradução.

Reconhecido pela erudição de seus conhecimentos extraordinários, o escritor argentino manteve uma linearidade política conservadora diante da realidade política de seu país, o que foi motivo de polêmicas e críticas entre os intelectuais engajados, mas que recebeu de María Kodama justificativas: “Borges apoiou a ditadura porque relacionava os militares da década de 1970 com os de 1810, tempo das guerras de independência”. Em contrapartida, instaurou uma metamorfose estética à qual a narrativa será para sempre grata.

O complexo universo que construiu em torno das letras desde a adolescência, diante da intimidade e da proximidade dos livros, bibliotecas e saberes, refletiu-se em todo o seu percurso literário. O lirismo melancólico e a subjetividade perpassam os primeiros títulos dedicados a poemas em Luna de enfrente (1925), Fervor de Buenos Aires (1923) e Cuaderno San Martín (1929). Os títulos publicados nos anos 1930 e 1940 estão voltados para as narrativas, Historia universal de la infamia (1935) e Ficciones (1944).

À originalidade dessas obras ficcionais credita-se sua busca por novidades estéticas, o que resultou em textos marcados pelo tom do inusitado, do fantástico, gênero do qual é o fundador. Essas ficções evoluíram em um universo particular, do subjetivo e do metafísico, em que o simbolismo é forte. Essa temática propiciou a divulgação de suas convicções, a negação da existência de um real, único e estável. São razões que justificam sua compreensão da arte realista como impostura.

Levar à essência a realidade, esse passa a ser o motivo maior da sua escritura, que entrecruza conhecimento e sentimento, formando um imenso painel de temas no qual se cruzam cabala, filosofia, bestiário, silogismos, éticas, narrativas, matemáticas imaginárias, thrillers, teologia, geometrias, mitos, semiótica, alquimia, folclore, tango, historiografia, paisagens. Foi em torno da metafísica, daquilo que Julio Cortázar afirmaria posteriormente como o não passível de explicação, que assentou as produções das décadas de 1940 e 1950, como El Aleph (1949) e Cuentos fantásticos (1955), época que compartiu o tempo com aulas de inglês na Universidade de Buenos Aires (UBA) e conferências sobre literatura.

Conviveu com escritores e críticos como Adolfo Bioy Casares e Pedro Henríquez Ureña, com quem publicou em 1937 Antología clásica de la literatura argentina . Fundou a revista Prisma e colaborou com Proa Sur. Recebeu os prêmios Nacional de Literatura (1956), Internacional Formentor de Literatura (1961), Cervantes (1979) e o título de doutor honoris causa da Universidade de Oxford (1971). Outras obras: El informe de Brodie (1970), El libro de arena (1975).