Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
Por Víctor Manuel Moncayo Cruz
A guerrilha mais antiga da Colômbia e da América deve suas origens ao movimento guerrilheiro liberal dos anos 1940 e 1950. Logo se converteu numa organização revolucionária, com clara influência do Partido Comunista Colombiano (PCC), existente desde 1930. A transformação aconteceu nos primeiros anos da Frente Nacional (logo depois de 1958) e cristalizou-se por ocasião do ataque militar ao povoado de Marquetalia (em 27 de maio de 1964), sob a liderança do antigo guerrilheiro liberal Pedro Antonio Marín, ou Manuel Marulanda Vélez, o Tirofijo (Tiro certeiro), que morreu aos 80 anos em 26 de março de 2008. A denominação do movimento e sua organização formal só ocorreram na Segunda Conferência do Bloco Guerrilheiro do Sul da Colômbia, em abril e maio de 1966.
Seu crescimento foi vertiginoso. Os apenas 350 combatentes de 1966, no Departamento de Tolima, vinte anos depois, multiplicaram-se por dez, até chegar, em 1995, a 7 mil. Em 2005, somavam mais de 20 mil integrantes em todo o território nacional, organizados em 7 blocos, 70 frentes e mais de 15 colunas móveis e independentes.
Suas receitas econômicas, no início centradas no sequestro de pessoas e nas exigências financeiras aos agentes produtivos, fortaleceram-se com a entrada da organização nos cultivos e no tráfico de drogas ilícitas, como consequência do desaparecimento dos dois mais importantes cartéis do narcotráfico. As entradas anuais eram estimadas em mais de 1 bilhão de dólares por volta dos anos 2000. Essa renda e a capacidade de movimentação durante a época da desocupação da zona de Caguán, durante o diálogo com o governo de Andrés Pastrana Arango (1998-2002), explicavam seu poderio militar, constituído por armamento suficiente, equipes de comunicação, inclusive aéreas, aliado ao emprego de meios não convencionais em suas ações armadas.
Durante os dois mandatos do presidente Álvaro Uribe Vélez, entre 2002 e 2010, houve um recrudescimento do embate entre o governo colombiano e as FARC. Uribe, com o apoio dos Estados Unidos, desprezou qualquer solução negociada. Partiu para o confronto impondo sérias derrotas à guerrilha, sem dúvida, mas mergulhando o país numa atmosfera de violência e autoritarismo crescentes. O sequestro pelas FARC da senadora e candidata à presidência Ingrid Betancourt e as negociações para sua libertação, se converteram numa situação emblemática do clima reinante no período. Franco-colombiana, Betancourt foi levada pelos guerrilheiros em 2002 e ficou em poder deles até julho de 2008. Os seis anos em que permaneceu em cativeiro chamaram a atenção para a situação de centenas de outros sequestrados pelas FARC como ela. Sua história mobilizou a opinião pública e estabeleceu um senso de urgência na resolução do conflito armado.
Uribe não teve outra alternativa a não ser aceitar uma solução negociada, mediada junto às FARC por inimigos políticos: o presidente venezuelano Hugo Chávez, com quem vivia às turras, e a senadora Piedad Córdoba. Betancourt foi libertada em julho de 2008, em meio a troca de acusações entre Uribe e Cháves, que levaram a uma ruptura diplomática entre Colômbia e Venezuela. Eleito presidente colombiano em 2010, Juan Manuel Santos restabeleceu relações com a Venezuela e começou a negociar a paz com os grupos guerrilheiros.
O primeiro encontro formal entre o governo colombiano e lideranças das FARC foi realizado em Oslo, na Noruega, em 2012, e teve como mediadores representantes dos governos de Cuba, Venezuela e do país anfitrião. As partes definiram cinco pontos principais para serem discutidos: a questão fundiária; a garantia dos direitos civis e políticos para membros desmobilizados da guerrilha; a deposição das armas e o fim do conflito armado; o fim do tráfico de drogas; e a indenização das vítimas do conflito.
Em 2014 o presidente Manuel Santos foi reeleito e deu prosseguimento ao processo de paz com a guerrilha. Em dezembro daquele ano, as FARC declararam cessar-fogo unilateral e por tempo indeterminado, visando o fortalecimento das negociações. No entanto, no início de 2015, um ataque a um acampamento militar resultou na morte de onze soldados e quase colocou por terra mais de dois anos de negociação. Foi criada uma ouvidoria para determinar a autoria do ataque.