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São Cristóvão e Névis

Marcel Gomes

Nome oficial Federation of Saint Kitts and Nevis
Localização Caribe. Ilha do mar do Caribe, entre
Porto Rico e Trinidad e Tobago
Estado e Governo¹ Parlamentarismo
Idiomas¹ Inglês (oficial) 
Moeda¹ Dólar do Caribe oriental
Capital¹ Basseterre
(14 mil hab. em 2014)
Superfície¹ 261 km²
População² 52.352 hab. (2010)
Densidade
demográfica²
200 hab./km² (2010)
Distribuição
da população³
Urbana (31,81%) e
rural (68,19%) (2010)
Composição etnica¹ Negros (maioria); minorias britânica,
portuguesa e libanesa
Religiões⁴ Anglicana (36,2%), metodista (32,3%)
e católica romana (10,7%)
PIB (a preços constantes de 2010)⁵ US$ 724,9 milhões (2013)
PIB per capita (a preços constantes de 2010)⁵ US$ 13.375,9 (2013)
Dívida externa⁵ US$ 298,1 milhões (2013)
IDH⁶ 0,750 (2013)
IDH no mundo
e na AL⁶
73° e 13°
Eleições¹ Governador-geral nomeado pela
Rainha da Inglaterra. Parlamento unicameral
com 14 membros, sendo 11 parlamentares
eleitos diretamente por maioria  e 3 indicados pelo Governador-Geral. Eles exercem o mandato por cinco anos. Após as eleições legislativas, o líder do partido ou da coalizão majoritária é usualmente nomeado pelo Governador-Geral como Primeiro-Ministro. 
Fontes:
¹ CIA. World Factbook
² ONU. World Population Prospects: The 2012 Revision Database
³ ONU. World Urbanization Prospects, the 2014 Revision
⁴  Enciclopédia do Mundo Contemporâneo 
⁵  CEPALSTAT
⁶  ONU/PNUD. Human Development, 2014

“Que São Cristóvão e Névis sigam juntas rumo a um destino comum.” O verso, parte do hino da Federação de São Cristóvão e Névis, representa mais um desejo do que uma profecia do poeta. Desde que obtiveram a independência da Grã-Bretanha, em 19 de setembro de 1983, as duas ilhas caribenhas protagonizam um dos últimos atos do enredo da desagregação do império britânico no século XX. O foco da tensão entre elas, contudo, é mais a disputa pelos recursos da federação e menos as diferenças culturais entre os dois povos irmãos. Isso porque, desde antes da independência, cresce na população de Névis a revolta decorrente da percepção de que o orçamento nacional privilegia a capital, Basseterre, localizada em São Cristóvão, sentimento que não é tão intenso, mas lembra o da época em que a metrópole ainda estava na Europa.

Com a criação do partido Movimento dos Cidadãos Engajados (MCE), em 1987, o projeto separatista ganhou organização e conquistou o governo de Névis em 1992. Em agosto de 1998, um referendo foi realizado entre a população da ilha e 62% votaram pela separação – um número expressivo, mas inferior aos dois terços exigidos pela Constituição. Apesar da derrota, o debate sobre a secessão de Névis permaneceu em pauta. Mas com uma ressalva: os próprios líderes nevisianos admitiam que a separação das duas ilhas não significaria o rompimento dos laços históricos e culturais entre elas – características comuns que ajudam a forçar uma solução de consenso, não violenta e institucional, até para uma eventual separação.

Negros na terra dos caribes

Colonizada por ingleses e franceses, a Federação de São Cristóvão e Névis tem hoje uma população formada majoritariamente por negros. Eles descendem dos escravos africanos trazidos para trabalhar na produção açucareira, a partir do século XVII. No total, pouco mais de 52 mil pessoas habitam os 261 quilômetros quadrados das duas ilhas, mas não restou uma única dos caribes, o povo que habitava a ilha então chamada Liamuiga (terra fértil), cujo nome foi mudado para homenagear o descobridor, quando o navegador Cristóvão Colombo chegou, em 1493, em sua segunda viagem às Américas.

A decadência espanhola nos séculos seguintes ensejou as pretensões de soberania de outras Coroas europeias, como Inglaterra e França, sobre seus domínios. O inglês Thomas Warner e sua família, juntamente com catorze homens, chegaram em 1623, fincando os tentáculos britânicos. As ilhas eram formadas por florestas e possuíam água potável e um solo fértil de origem vulcânica, exatamente aquilo que ingleses, franceses, espanhóis e holandeses buscavam no Caribe. A introdução da cana para a produção de açúcar, então a mais importante cultura agroindustrial do mundo, transformou esse trecho do planeta numa grande lavoura. O modelo de produção agrícola aplicado era o de plantation, direcionado à exportação e com mão de obra escrava.

Vista de Basseterre, capital de São Cristóvão e Nevis (J. Stephen Conn/Wikimedia Commons)

 

Em 1678, a população branca de origem europeia era de 1.897 habitantes, e chegou a 2.377 em 1745. Nesse mesmo período, o número de escravos africanos saltou de 1.436 para 19.174. A maioria negra determinaria definitivamente as características étnicas da região.

Disputa franco-britânica

O potencial de São Cristóvão e Névis para a produção açucareira atraía a atenção de outras nações da Europa. Além da resistência dos nativos, dizimados num massacre conhecido como Bloody Point, em 1626, os britânicos tiveram de conviver com a concorrência da França, que já mantinha outras colônias na região, como Martinica Guadalupe. Com Pierre Belain d’Esnambuc, os franceses haviam tentado colonizar um trecho de São Cristóvão apenas dois anos após a chegada do inglês Thomas Warner. Em 1706, um grande assalto às posses britânicas em Névis ajudou a prejudicar a produção açucareira da ilha, já enfraquecida pelo avanço da febre maligna entre 1689 e 1690, que afugentou a população. Com 3.521 moradores brancos em 1678, Névis viu esse número despencar para 857 em 1745.

As exportações de açúcar para a Grã-Bretanha também decresceram de 3.094 toneladas, no ano de 1700, para 2.011, em 1748. Enquanto isso, São Cristóvão vivia o seu auge. As remessas de açúcar para o exterior, que eram de 4.437 toneladas em 1725, chegaram a 8.789 em 1748, tornando-a proporcionalmente a mais rica colônia do império britânico. O tratado de Utrecht, de 1713, firmado com a França, foi a primeira garantia obtida, pela Inglaterra, de soberania sobre São Cristóvão, mas apenas formalmente, porque a rivalidade entre as Coroas perduraria por mais setenta anos, até a decisiva derrota dos franceses na Colina Brimstone entre 1782 e 1783, onde havia um famoso forte. Foi firmado então o Tratado de Versalhes, pelo qual a França reconheceu definitivamente a soberania britânica sobre a colônia.

Os canhões do Parque Nacional da Fortaleza de Brimstone Hill, Patrimônio Mundial da UNESCO, em São Cristóvão (Creative Commons)

 

Decadência do açúcar

São Cristóvão e Névis experimentaram, durante o período colonial, uma série de reestruturações administrativas que ora as aproximavam, ora as afastavam de outras colônias na região. Em 1671, foram unidas como parte do Leeward Caribbee Islands Government, sob jugo britânico. Essa formação permaneceu até 1806, quando a Leeward Caribbee se fragmentou em duas partes, uma capitaneada por São Cristóvão, Névis e Anguila , e a outra pelas Ilhas Virgens Britânicas. Com a formação da Leeward Islands Federation, em 1882, São Cristóvão, Névis e Anguila passaram a comandar o bloco – um status que permaneceu até 1956.

No final do século XIX, o mercado açucareiro perdeu pujança, devido ao aumento da concorrência, e chegou ao fim a escravidão. No século XX, o interesse da metrópole por suas colônias reduziu-se, principalmente durante e depois da grande depressão dos anos 1930, que derrubou o preço do açúcar. Com uma nacionalidade em formação, São Cristóvão, Névis e Anguila decidiram em 1967 seguir o caminho da maioria das colônias e se afastaram da administração britânica. Mantiveram-se, porém, como Estados associados à antiga metrópole, que prosseguiu respondendo pelas relações externas e defesa das ilhas.

Ainda em 1967 Anguila rebelou-se. Em 1971 o Parlamento inglês aprovou seu afastamento do bloco. São Cristóvão e Névis só declararam sua independência em 1983. Mas isso não significou o rompimento total das relações com a Inglaterra. O sistema político do país é a monarquia parlamentarista e, como pertence à comunidade britânica de nações, a chefe de Estado é a Rainha Elizabeth II, que nomeia um governador-geral. Já o chefe de governo é definido por eleições legislativas e geralmente o líder do partido de maior bancada ou da coalizão majoritária. De 1995 a 2015, Denzil Douglas, do Partido Trabalhista de São Cristóvão e Névis (PTSCN), ocupou a cadeira de primeiro-ministro. Em fevereiro de 2015, ele deu lugar a Timothy Harris, do Partido Trabalhista do Povo (PLP, a sigla em inglês).

 

Classe média e emancipacionistas

Partido mais forte do país, o PTSCN originou-se na década de 1930, após o colapso dos preços do açúcar, inspirado no trabalhismo inglês. Robert Bradshaw organizou a Liga dos Trabalhadores em 1932, responsável por uma série de protestos nos anos seguintes. Bradshaw foi eleito para o Conselho Legislativo em 1946. Os trabalhistas dominaram a política nas duas ilhas pelos trinta anos seguintes. Em consequência da crise do petróleo, iniciada na década de 1970, o governo trabalhista decidiu estabelecer o planejamento da produção e estatizou o cultivo da cana e a produção de açúcar. Os oposicionistas, por meio da Força de Defesa, passaram a acusar a situação de impor um quadro de repressão. Antes mesmo da independência, crescia entre os nevisianos a percepção de que sua ilha tinha importância secundária para o governo central na repartição dos recursos. O declínio dos trabalhistas começou em 1978, quando Bradshaw, então premiê, faleceu. Foi imediatamente substituído por Paul Southwell, que também morreu no ano seguinte.

A opção ao PTSCN era representada, então, pelo Movimento de Ação Popular (MAP), um partido organizado em 1965 por membros da classe média após os protestos contra o aumento dos preços da energia elétrica. Em Névis, a oposição era comandada pelo Partido Reformador de Névis (PRN), que nascera em 1970 defendendo a abertura do debate sobre a autonomia da ilha. MAP e PRN firmaram uma coalizão no Conselho Legislativo (que, após a autonomia, seria sucedido pela Casa da Assembleia) e, com seis cadeiras contra quatro dos trabalhistas, indicaram o premiê. Kennedy Simmonds, médico e um dos fundadores do MAP, assumiu o cargo. Simeon Daniel, líder do PRN, tornou-se ministro das Finanças e responsável pelos interesses de Névis na administração. Em dezembro de 1982, o governo de São Cristóvão e Névis promoveu em Londres a conferência constitucional que terminou com a declaração de independência e de maior autonomia para os nevisianos.

 

Trabalhistas versus nevisianos

Kennedy Simmonds governou de 1983 a 1995, quando os trabalhistas reassumiram o poder. Em 1993 seu governo entrou em crise quando o MAP elegeu apenas quatro dos onze deputados, mesmo número dos trabalhistas, contra um do PRN e dois dos separatistas do MCE. A pulverização só poderia resultar em coalizões frágeis. Por isso explodiu uma onda de distúrbios, e Simmonds decretou dez dias de estado de emergência. Em 1994, seu governo foi envolvido em escândalos e vários políticos acusados de envolvimento com o tráfico de drogas, gerando novos distúrbios. Ele solicitou a intervenção da Força de Segurança do Caribe e a tranquilidade só retornou em 1995, com a ampla vitória eleitoral dos trabalhistas e a indicação do primeiro-ministro Denzil Douglas.

Sob o novo governo, a economia do país foi diversificada e o turismo assumiu papel de destaque, deslocando a primazia do açúcar. Na década de 1980, apesar de todos os problemas anteriores, a produção açucareira ainda era o principal componente do Produto Interno Bruto (PIB), causando, em 1983, uma queda de 2,4%, que abalou a hegemonia do MAP-PRN. A agricultura e as indústrias representavam em meados de 2005 apenas 30% do produto nacional, enquanto os serviços respondiam por 70%.

O primeiro-ministro Douglas e o governador de Névis, Vance Amory são os principais protagonistas da política do país, pois a questão da separação das ilhas continua o assunto dominante do debate nacional.

Dados Estatísticos

Indicadores demográficos e econômicos de São Cristóvão e Névis

1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020*
População 
(em mil habitantes)
46 51 45 43 41 46 52 58 
Densidade demográfica 
(hab./km²)
176 196 172 166 156 174 201 223 
População urbana (%)¹ 26,52 27,64 34,14 35,88 34,61 32,78 31,81 32,78 
População rural (%)¹ 73,48 72,36 65,86 64,12 65,39 67,22 68,19 67,22 
Participação na população 
latino-americana (%)**
0,03 0,02 0,02 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 
Participação na 
população mundial (%)
0,002 0,002 0,001 0,001 0,001 0,001 0,001 0,001
PIB (em milhões de US$ a 
preços constantes de 2010)
313,8 561,5 692,5
Participação no PIB 
latino-americano (%)
0,012 0,016 0,014 … 
PIB per capita (em US$ a 
preços constantes de 2010)
7.685,5 12.327,7 13.277,0 … 
Exportações anuais 
(em milhões de US$)
24,1 28,3 51,5 58,1 … 
Importações anuais
(em milhões de US$)
40,8 97,4 172,7 259,8 … 
Exportações-importações 
(em milhões de US$)
-16,7 -69,1 -121,2 -201,7 … 
Matrículas no 
ciclo primário²
8.320 7.665 6.922 6.255 … 
Matrículas no 
ciclo secundário²
4.768 4.309 … 
Índice de Desenvolvimento 
Humano (IDH)³
0,747 … 
Fontes: ONU. World Population Prospects: The 2012 Revision Database | 
CEPALSTAT
¹ Dados sobre a população urbana e rural retirados de ONU. World Urbanization Prospects, the 2014 Revision
² UNESCO Institute for Statistics. Não há dados para o ciclo terciário.
³ UNDP. Countries Profiles
* Projeções. | ** Estimativas por quinquênios. | ***Inclui o Caribe. 
Obs.: Informações sobre fontes primárias e metodologia de apuração (incluindo eventuais mudanças) são encontradas na base de dados ou no documento indicados.

Bibliografia

ALEXANDER, Robert J. Presidents, prime ministers, and governors of the English-speaking Caribbean and Puerto Rico: conversations and correspondence. Westport: Greenwood Publishing Group, 1997.

CHERNOW, Ron. Alexander Hamilton. New York: Penguin Press, 2004.

ELTIS, David. The rise of African slavery in the Americas. Cambridge: Editora da Universidade de Cambridge, 2000.

HIGMAN, B. W. Slave populations of the British Caribbean 1807-1843. Kingston, Jamaica: Editora da Universidade das Índias Ocidentais, 1995.

LEWIS, Patsy. Surviving small size: regional integration in Caribbean ministates. Kingston, Jamaica: Editora da Universidade das Índias Ocidentais, 2002.

O’SHAUGHNESSY, Andrew Jackson. An empire divided: the American revolution and the British Caribbean. Filadélfia: Editora da Universidade da Pensilvânia, 2000.

SHERIDAN, Richard B. Sugar and slavery: an economic history of the British West Indies 1623-1775. Kingston, Jamaica: Editora da Universidade das Índias Ocidentais, 1994.

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