Galeria | Lux Vidal

Desenhos Xikrin

A coleção de desenhos figurativos Mebengokré-Xikrin faz parte do grande acervo reunido por Lux Vidal durante seu trabalho de campo. Esta coleção está abrigada no Laboratório de Imagem e Som em Antropologia, o LISA, ligado ao Departamento de Antropologia da FFLCH-USP.

A produção dos desenhos coletados por Lux Vidal foi espontânea e não planejada. Eles foram feitos por diferentes pessoas, de diferentes idades, em sua maioria homens. Os desenhos retratam pessoas, animais, seres mitológicos, acontecimentos do cotidiano, rituais, acontecimentos passados e visões do xamã, o wayanga, na língua mebengokré. Eles foram produzidos em papel, dos mais diferentes tamanhos, cores e gramaturas, alguns possuem anotações feitas por Lux a respeito do que foi desenhado, outros não. Os desenhos mais expressivos foram produzidos pelo wayanga Nhiakrekampin, logo no início da pesquisa de campo de Lux. Assim, essas produções falam não só do universo Xikrin, mas também da construção da relação entre Lux e seus interlocutores.

Logo quando iniciou sua pesquisa, Lux não falava a língua mebengokré. Em 1969, em sua primeira viagem, hospedou-se na casa do chefe Bemoti e sua esposa Nhiok-pú. Próximo ao barracão da missão, alguns jovens fizeram para Lux uma pequena mesa, lugar que ficou conhecido como “seu escritório”. Enquanto Lux escrevia seus cadernos de campo, Nhiakrekampin, o xamã, sentava-se ali, em uma esteira, e desenhava. Ele, com mais de 70 anos e sem nunca ter desenhado antes, gostou tanto da atividade que, em certo ponto, faltavam folhas e canetas: ou Lux escrevia ou Nhiakrekampin desenhava. Através desses desenhos, Lux aprendeu sobre a língua e sobre a cosmologia Xikrin.

Nhiakrekampin era um grande conhecedor da história e da memória Xikrin, com grande habilidade para transferir esse conhecimento para o papel, “imagens de um velho que tem memória”.

Os Xikrin, diferentemente de outros povos, não praticavam desenho livre. As mulheres, exímias pintoras, pintam o corpo segundo regras sociais bem estabelecidas. Quando Lux levou ao campo papel, caneta e lápis de cor, uma série de novas possibilidades se apresentou. A espontaneidade e a marca individual tiveram lugar na produção, ainda que as possibilidades do que era desenhado fossem orientadas culturalmente.