O bom painel de congresso [parte 1]

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O painel é um documento que tem de possuir ao mesmo tempo as propriedades de uma figura, ou seja, deve ser auto-explicaivo, e as de um texto científico, que deve ser capaz de explicar direta e sucintamente o que você está apresentando. O bom painel tem de ser legível a um metro de distância, e tem de ser, como todo o documento científico, claro e objetivo. Os painéis podem ser feitos de diversas maneiras, seja diretamente impresso em folha A0, em várias folhas A4 (9 é um bom número, texturizadas ou lisas) emolduradas com uma bonita cartolina, ou coladas em uma cartolina grande. Não existem padrões rígidos para isto. Duas coisas vão determinar a qualidade de seu painel: o bom gosto e a sobriedade das cores e arranjos de letra. Sobriedade significa discrição. A harmonia das cores tem de garantir um tom moderno, arrojado ao seu trabalho mas não pode passar disto, senão, há de conferir um tom extravagante com certeza e mesmo até “brega”. Lembre-se, os leitores vão ver seu painel de longe, antes de lê-lo com atenção já estão julgando você, e não seu trabalho, pela forma com que se apresenta. Um painel bem feito é um ótimo cartão de visitas, e há de garantir o interesse dos membros do congresso pelo seu trabalho. A menos que tenha um dom natural para as artes e para a propaganda e marketing, você vai precisar de orientação para escolher as cores de seu painel. Um bom truque para se assegurar que você está utilizando cores sóbrias é observar um jornal de notícias colorido, sério, e de grande tiragem. Jornais deste tipo trazem geralmente mini-quadros, ou tabelas coloridas, seja para a previsão do tempo ou a cotação das bolsas de valores com ótimas idéias, pois sobriedade também é uma preocupação dos jornais. Se nada disto lhe agradar recomendo que se atenha ao bom e velho preto e branco, não há nada mais formal e sóbrio, talvez o seja até um pouco demais, mas neste sentido é melhor pecar pelo excesso.

Bom gosto é um critério muito subjetivo, pois cada pessoa o interpreta à sua maneira, mas alguns “erros do design” são bastante consensuais e comuns. Citemos alguns:

  • Cores gritantes demais. Rosa choque, amarelo fosforescente, verde limão, enfim, existe uma série de cores que não são em nada adequadas para a elaboração de painéis. Não use nenhuma cor que não usaria para ir a um casamento. Estas cores são um soco no olho do observador.

  • Contraste de cores errados. Amarelo sobre fundo branco, cinza sobre preto, azul sobre vermelho, azul claro sobre amarelo, etc…Várias combinações de cor não são legíveis, confusas ou chocantes demais. Não queremos forçar a vista de ninguém, isto desestimula a leitura do seu painel.

  • Letras do tipo “Oba Oba”, lembre-se não é um anúncio de refrigerante nem um convite para o Circo que você está apresentando. Observe os três títulos abaixo:

    Um novo tratamento para o câncer da mama, à base produtos naturais.

    Um novo tratamento para o câncer da mama, à base produtos naturais.

    – Um novo tratamento para o câncer da mama, à base produtos naturais.

    Veja o efeito devastador que pode ter um tipo de letra mal escolhido sobre seu trabalho. Note a importância do tema, e note que a escolha de uma letra “séria” dá outro tom ao mesmo título:

    Um novo tratamento para o câncer da mama, à base produtos naturais.

    Uma boa dica é evitar letras muito rebuscadas, opte pelo mais simples.

  • Evite desenhos do tipo “galeria de imagens” de um processador de textos qualquer. Além de ser totalmente desnecessário na maioria dos casos, reflete uma total falta de originalidade. Também dá ao seu trabalho um tom jocoso e quase infantil. Caso tenha de utilizar um destes, para ilustrar um mecanismo ou outra coisa, utilize um totalmente desconhecido. Deste modo evitará que o leitor pense “Ah! Este desenho ele tirou do programa tal, qualquer um sabe isto…“ pois mesmo que seja involuntário ele vai pensar isto.

  • O plano de fundo de seu painel tem de ser discreto evite usar tons muito fortes, fundo preto, fundo marmorizado, pois além de gastar uma quantidade enorme de tinta, você corre o risco de que esta tinta escorra ou borre as figuras durante a secagem. É mais fácil errar com os fundos escuros do que com os claros.

  • Evite também os moldes prontos de seu editor de apresentações, pois via de regra, violam todos os ítens anteriores. São feios e não foram criados para os cientistas. Eles são ótimos para apresentações do balanço anual do seu condomínio ou aqueles “cursos” muito em moda nas empresas, mas não para um trabalho científico. Além disto também denotam falta de originalidade. Novamente, na dúvida, opte pelo mais simples, sempre tentando ser original.

O painel, via de regra, apresenta além de seu título nome e endereços dos autores, uma breve introdução onde se apresenta o tema e a justificativa do presente trabalho. As figuras, são sempre bem vindas, desde que sejam muito claras e eloqüentes. O leitor tem de olhar rapidamente para a figura e entender o que ela representa em termos de resultados. Utilize legendas bem completas, que descrevam todos os detalhes das figuras, de forma que qualquer dúvida do leitor possa ser esclarecida. O texto que une as figuras, deve seguir a sequência lógica do trabalho, sempre se reportando às figuras como ponto de apoio. Aqui, ao contrário dos artigos, o essencial são as figuras, e o texto é secundário. Só será lido se as imagens despertarem o interesse do observador. Ele deve ser direto, com poucos detalhes experimentais, a menos que seus experimentos não sejam usuais, e tem de guiar o leitor pela lógica que o conduziu às suas conclusões. Estas seguem explicando em algumas poucas linhas quais as grandes conclusões do trabalho.

Algumas referências ao final do trabalho são essenciais, principalmente se você já publicou sobre o assunto. Este é o primeiro passo para ser citado em outros trabalhos. Não é raro e eu pessoalmente acho muito importante, que os autores deixem à disposição cartões de visita, ou ainda cópias do painel em folhas A4. O leitor, que é preguiçoso sempre, não precisa contar com sua memória, ou ainda ter de anotar nomes e números, ele simplesmente se serve. Tudo que é gratuito atrai, mesmo que não tenha a menor utilidade. É como propaganda política, mesmo que não vote na pessoa, um chaveiro ou um boné de graça é sempre bem aceito pelo eleitor (infelizmente). É importante também levar consigo, no dia da sessão de painéis, um bloquinho de papel autocolante do tipo “Post-it”. Caso tenha de se ausentar momentaneamente, deixe um recadinho colado no painel. Se for possível deixe-o à disposição dos visitantes para que possam deixar recados para você também. Podemos perder boas oportunidades e boas discussões por questão de minutos.

Os agradecimentos não podem faltar. Como no artigo científico, os encontros científicos, são o palco de propaganda das agências de fomento. Geralmente as despesas em congressos e os belos hotéis, são financiados pelas universidades, empresas, ou seja por quem for, que têm de constar na parte final do trabalho. O que também pode ser feito é colocar no painel um ícone ou logotipo da agência em questão. Estes podem ser encontrados na internet.

Veja também http://sites.usp.br/comcirp/qr-codes/