História do Programa FAMB

O programa de Pós-Graduação em Física Aplicada à Medicina e Biologia completou em 2021 35 anos de existência, alcançando a 500ª defesa em Outubro de 2020. O programa FAMB foi criado em 06 de Março de 1986 para o curso de Mestrado e em 01 de Outubro de 1994 para o curso de Doutorado.

O programa FAMB é um programa singular no cenário da pós-graduação nacional, dada sua dedicação exclusiva ao emprego de métodos de Física para investigação de problemas da saúde e sistemas biológicos. A origem dessa dedicação se remete à sua gênese, ainda em meados da década de 1970, e que, por sua vez, nasceu das características pioneiras do hoje Departamento de Física (DF) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP).

Vista aérea da FFCLRP em 1974. Fonte: Audiovisual FFCLRP/USP.

A atitude de vanguarda do corpo docente da FFCLRP levou, já no final da década de 1970, a uma reformulação no setor de Física, que culminou com a contratação de vários docentes com experiência de atuação na interface Física/Medicina/Biologia. A existência de cursos e grupos de pesquisa com destacada produção na área das Ciências Biomédicas fazia do campus da USP em Ribeirão Preto local ideal para estabelecimento de iniciativas inovadoras, como a então incipiente participação de físicos em projetos da área médica. Portanto, nessa mesma época, foram unidos esforços no sentido de se iniciar ações ligadas à área de Física Médica que visassem acumular subsídios para elaboração de um plano de trabalho, que permitisse elaborar projetos de pesquisa com financiamento dos órgãos governamentais.

Um dos primeiros frutos desse trabalho foi conseguido com o auxílio da FAPESP, em agosto de 1979, que possibilitou a vinda do Professor John Cameron, Chefe do Departamento de Física Médica da University of Wisconsin (EUA), como professor colaborador, o que foi fundamental para a estruturação a ser implantada e evidenciava, desde aquela época, o caráter internacional adotado pelo Departamento. O Prof. Cameron foi figura de referência mundial no que tange à pesquisa científica em Física Médica e sua atitude pioneira e inspiradora encontrou ressonância no grupo de docentes da Física em nossa Faculdade. A partir de então, com o desenvolvimento de projetos específicos e direcionados para a Física Médica, a estrutura do setor alcançou um estágio que permitiu que se propusesse a implantação de um convênio entre a FFCLRP, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCRP).

Os desdobramentos dessas ações tiveram profundo reflexo no progresso que se seguiu, com atividades iniciadas à época, como a criação do então Curso de Aprimoramento em Física Aplicada à Radiologia nas especialidades de física aplicada ao radiodiagnóstico, medicina nuclear e radioterapia, curso este substituído pela atual Residência Multiprofissional em Física Médica, em que atuam até hoje docentes do nosso Programa. Esta ação evidencia outra característica marcante de nosso programa de pós-graduação, que assim como a influência internacional também remonta aos primórdios do programa, que é o alto grau de inserção social e solidariedade.

No início da década de 1980, contando mais uma vez mais com a colaboração do Professor Cameron e com a colaboração do Professor Shigueo Watanabe, foi enviado documento ao Chefe do Departamento de Clínica Médica da FMRP no qual se descrevia uma estrutura importante a ser implantada para possibilitar a evolução da Física Médica e da Radiologia no Campus da USP em Ribeirão Preto. Nesse documento foram apresentadas sugestões preliminares para a criação de um Departamento de Ciências Radiológicas, que havia sido solicitada pelo Professor Nassin Yazigi. Essa foi mais uma ação marcante e que teria impacto sobre a evolução da área de Física Médica em nosso campus.

Em 1984, a contratação do Professor Robert Lee Zimmermann, americano de origem e radicado no Brasil, e outro pesquisador central em interfaces multidisciplinares da Física, o setor decidiu dar continuidade ao projeto para propor a criação de um curso de Pós-graduação em Física Aplicada à Medicina e Biologia. Aos docentes do nosso Departamento somaram-se docentes da FMRP e as figuras seminais dos Professores Sérgio Mascarenhas e Horácio Panepucci do então Instituto de Física e Química de São Carlos da USP. O primeiro deles reconhecida liderança, responsável pela criação de vários centros de pesquisas na comunidade acadêmica brasileira, todos marcados pela alta qualidade e pela interdisciplinaridade, como a EMBRAPA Instrumentação São Carlos, e, o segundo, pesquisador argentino e pioneiro em desenvolvimento da Física em Medicina, como a construção/criação do primeiro tomógrafo de ressonância magnética em nosso país. Vê-se, portanto, que a atuação pioneira em temas na fronteira Física/Medicina/Biologia estava no cerne do curso de Pós-graduação FAMB e daí então evoluiu ao longo dos anos.

 

Prof. Dr. Jose Roberto Drugowich de Felicio em concurso para Professor Titular do Departamento de Física e Matemática, 1993. Fonte: Audiovisual FFCLRP/USP.
 

Contando, ainda, com a estrutura existente no Hospital das Clínicas e do então recém-criado Centro de Instrumentação Dosimetria e Radioproteção (CIDRA), a proposta de criação do curso de Pós-graduação em Física Aplicada à Medicina e Biologia, após dois anos de tramitação, foi aprovada 1986, em nível de Mestrado. Em 1995, o curso foi estendido para o nível de doutorado. Vale ressaltar que a Pós-graduação FAMB foi pioneira nessa especialidade na América Latina, criando nicho único de atuação profissional e que se mantém na vanguarda do conhecimento até os dias atuais, aqui aparecendo mais uma característica de nosso programa que se mantém até os dias de hoje, a inovação.

Com a experiência acumulada com a Pós-graduação em Física Aplicada à Medicina e Biologia nas atividades de pesquisa e na prestação de serviços na área de Física Médica, foi proposta a criação do curso de Bacharelado em Física Médica. Após obter aprovação dos órgãos competentes da USP, esse curso iniciou suas atividades no ano de 2000. Mais uma ação inovadora e pioneira já que esse foi o primeiro bacharelado em Física Médica do Brasil e que, ao longo dos anos, deu origem e/ou serviu de inspiração para outros cursos similares em nosso país, evidenciando o claro papel nucleador e de solidariedade das iniciativas de nosso corpo docente. Outro fato merecedor de destaque e que está vinculado à criação do Bacharelado em Física Médica está na certeza de que a integração Graduação/Pós-graduação, presente desde a gênese do curso de graduação, que veio como consequência direta da existência do programa FAMB, é fundamental para a formação dos estudantes em ambos os níveis e que a sinergia de ações daí derivada se reflete em avanços significativos nas atividades de pesquisa, ensino e extensão realizadas pelo departamento.

 
Revelação da placa de inauguração do curso de Bacharelado em Física Médica, 2000. Fonte: Audiovisual FFCLRP/USP.

Os cursos de pós-graduação em Física Aplicada à Medicina e Biologia e de graduação em Física Médica permitiram, ainda, o delineamento de um horizonte de pesquisa bem definido e com características singulares no universo do Ensino Superior nacional, em particular em nível de Pós-graduação, como se depreende ao se constatar que o programa FAMB é o único programa de Pós-graduação na área Medicina II da CAPES que integra amplo espectro de profissionais de áreas aparentemente distintas como Física, Engenharia e Medicina, mas que encontram seu ponto de intersecção quando os objetivos a serem alcançados passam por abordar problemas tão complexos quanto aqueles que envolvem questões ligadas à Saúde. A realização de tais objetivos requereu, e ainda requer, o desenvolvimento de infraestrutura também única nessa área, com alto grau de inovação e empreendedorismo, o que confere ao programa FAMB, outro aspecto diferenciado dentro de seu nicho de competências. Além disso, as pesquisas e os serviços de extensão realizados estão todos concentrados em torno das grandes áreas do saber de Física.

Atualmente, o Programa FAMB conta com linhas de pesquisas que vieram de reestruturação realizada em 2013 e que culminaram em três grandes linhas: Biofísica Molecular, Física Médica e Física de Sistemas Complexos. Pode-se inferir, por conseguinte, que as linhas de pesquisa, apesar de apresentadas separadamente, encontram sobreposições de interesses de forma que os orientadores possam atuar, mesmo que estando em uma dada linha, de forma integrada e flexível em todos os temas de pesquisa.

Docentes e Funcionários do Departamento de Física, 2014. Fonte: Audiovisual FFCLRP/USP
 

Vê-se, portanto, que, após a criação do curso em nível de doutorado, o programa FAMB está, além de consolidado, em constante evolução e aprimoramento com vistas à manutenção dos níveis de excelência alcançados e com forte inserção regional, nacional e internacional, alto grau de inovação nos trabalhos produzidos e grande participação em atividades voltadas à sociedade.

Em 2021 o programa completou 35 anos de atuação formando recursos humanos e produzindo pesquisa na área de Física Aplicada em Medicina e Biologia. Este momento foi marcado com um evento no dia 5 de março de 2021 onde participaram diferentes gerações formadas na FAMB, com a presença do Primeiro Egresso, de professores que participaram da criação; da 500ª defesa realizada no programa e de egressos recentes do programa já instalados em empresas, Universidades no Brasil e no exterior.

A FAMB é formada por uma equipe que aqui é assim chamada de permanente (discentes, egressos e Docentes permanentes e colaboradores) e uma equipe chamada de colaboradora incluindo docentes co-orientadores, pós-doutorandos, co-autores e alunos de iniciação científica. Os números desta equipe servem para mensurar a dimensão das atividades realizadas no programa FAMB neste último quadriênio. Destaque que se faz aqui é para a presença de pós-doutorandos que são aliados aos projetos em desenvolvimento na pós-graduação e também aos alunos de graduação com projetos de iniciação científica que certamente na sua grande maioria estão conectados aos projetos da pós-graduação.