Glossário

Este glossário busca apresentar interpretações sucintas de termos chave relacionados ao Paradigma das Mobilidades. Essas interpretações foram desenvolvidas conjuntamente e baseadas nas leituras sugeridas e em discussões teórico-reflexivas realizadas durante reuniões do Grupo de Pesquisa Mobilidades e Turismo (MobTur). Ressalta-se que tais interpretações não são ideias definitivas, mas uma busca por estimular reflexões e fomentar discussões para o fortalecimento do campo de estudos das mobilidades e do turismo. Portanto, caso você possua uma perspectiva diferente ou complementar aos termos apresentados nesta página, o/a convidamos a entrar em contato via e-mail com sua contribuição e, se de interesse, participar de nossas reuniões mensais.

Acessibilidade é um direito universal, devendo esta ser percebida como uma oportunidade de incluir todos os indivíduos na sociedade e garantir o acesso a bens e serviços de forma independente e autônoma. É importante salientar que a acessibilidade deve ser orquestrada de forma a incluir, principalmente, as pessoas com deficiência (PCD) e os indivíduos com mobilidade reduzida, seja esta permanente ou temporária. Neste sentido, os PCDs são aquelas com impedimentos de longo prazo, sejam eles de caráter físico, intelectual ou sensorial. Esses impedimentos, quando em interação com determinadas barreiras, podem vir a prejudicar a participação dos PCDs em atividades ou fenômenos da sociedade, causando e fomentando a desigualdade social.

Duarte, D. C., Borda, G. Z., Moura, D. G., & Spezia, D. S. (2015). Turismo acessível no Brasil: um estudo exploratório sobre as políticas públicas e o processo de inclusão das pessoas com deficiência. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 9(3), 537-553. https://doi.org/10.7784/rbtur.v9i3.863

Rodrigues, I. M., & Valduga, V. (2021). Turismo acessível para pessoas com deficiências: a produção científica dos periódicos de turismo do Brasil . Revista Turismo Em Análise, 32(1), 59-78. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v32i1p59-78

Campo de pesquisa que direciona seu foco para as relações entre aviação e sociedade, sob um ponto de vista multidisciplinar. Diferente do enfoque mercadológico ou econômico no setor, as aeromobilidades apresentam uma perspectiva de integração sobre a realidade social em que se insere. Este campo analisa a função da aviação na sociedade “tanto pelo aumento da quantidade de pessoas que utilizam este tipo de transporte, como também pelas mudanças que essa atividade pode trazer para os hábitos de consumo – sem falar da questão ambiental”. Para além dos consumidores deste setor, este campo de pesquisa investiga também os trabalhadores do meio, no que concerne a questões diversas como gênero, raça etc.

Adey, P. (2010). Mobility. London: Routledge.

Urry, J. (2009). Aeromobilities and the global. In: S. Cwerner, S. Kesselring, & J. Urry (Eds.), Aeromobilities (pp. 25-38). Routledge

Relaciona-se à autonomia e mobilidade conferidas a uma pessoa por um veículo automotor. À grosso modo, a automobilidade pode ser dividida nos seguinte segmentos de veículos: leves e pesados. Os primeiros se referem à veículos motorizados como carros ou motocicletas, por exemplo, que são utilizados para o transporte de um quantitativo de pessoas inferior a seis ou objetos de pequeno a médio porte. Já o segmento dos pesados são relacionados a veículos como ônibus, trailers e caminhões, que são capazes de transportar um número maior de pessoas, bem como itens de médio a grande porte, incluindo infraestrutura residencial e/ou de restauração no caso dos food trucks. Sobretudo, ao longo dos anos, essas tecnologias móveis vêm transformando as paisagens ao redor do globo pela necessidade de estradas e postos de abastecimento, principalmente em áreas urbanas onde as mobilidades são mais afloradas em comparação ao espaço rural.

Egan, R., & Caulfield, B. (2024). Driving as essential, cycling as conditional: how automobility is politically sustained in discourses of everyday mobility. Mobilities, 19(4), 789–805. https://doi.org/10.1080/17450101.2024.2325370

Hannam, K., Butler, G., & Paris, C. M. (2014). Developments and key issues in tourism mobilities. Annals of Tourism Research, 44(1), pp. 171-185.

Em caráter sociológico, o termo reforça a dependência dos movimentos em relação aos fixos, ancoradouros são estruturas pelas quais pessoas e objetos, bem como informações, imagens e ideias imbuídas de significados (mobilidades) podem atravessar. Os ancoradouros podem ser compreendidos como infraestrutura socioespaciais que dão lugar a interações diversas por serem atravessados por sistemas complexos de mobilidades. Esses sistemas se convergem como circuitos de movimentos e, enquanto se transformam, são projetados de forma a atingir novos destinos e difundir determinadas mensagens, políticas, ideias ou práticas sociais.

Freire-Medeiros, B.; Lages, M. P. (2020). A virada das mobilidades: fluxos, fixos e fricções. Revista Crítica de Ciências Sociais, 3, 121-142. https://doi.org/10.4000/rccs.11193

Hannam, K., Sheller, M., & Urry, J. (2006). Editorial: Mobilities, Immobilities and Moorings. Mobilities, 1(1), 1- 22. 

https://doi.org/10.1080/17450100500489189

Mano, A. (2023). A vida social da estátua de Michael Jackson na favela Santa Marta, Rio de Janeiro: uma perspectiva móvel sobre regimes de valor. Etnográfica, 27(1), 137-159, https://doi.org/10.4000/etnografica.13156

São infra ou supraestruturas que permitem o desenvolvimento complexo de mobilidades, servindo como ponto de apoio para o atual modelo de vida móvel da sociedade e os fluxos envolvidos nesse sistema. Entre as principais características dos fixos estão a tangibilidade e a imobilidade, ou seja, são passíveis de uma localização permanente e imutável. Por exemplo, aeroportos, que suscitam o deslocamento de pessoas e objetos no espaço aéreo para propósitos diversos, e secretarias de turismo, órgãos físicos que formulam e executam políticas públicas (ideias, informações e imagens) orientadas aos interesses turísticos de um município, o que envolve a população local, o setor privado e outras instâncias governamentais.

Freire-Medeiros, B.; Lages, M. P. (2020). A virada das mobilidades: fluxos, fixos e fricções. Revista Crítica de Ciências Sociais, 3, 121-142. https://doi.org/10.4000/rccs.11193

Hannam, K., Sheller, M., & Urry, J. (2006). Editorial: Mobilities, Immobilities and Moorings. Mobilities, 1(1), 1–22. https://doi.org/10.1080/17450100500489189

Referem-se aos deslocamentos que ocorrem na cadeia de movimentos ao redor do mundo, podendo esses movimentos serem de pessoas, objetos, imagens, informações, políticas ou ideias. Os fluxos representam a contraparte dos fixos, utilizando-os como uma forma de propulsão para seus determinados processos e, assim, atingir seus destinos ou objetivos. Por exemplo, turistas (fluxos) que se deslocam até aeroportos (fixos) costumam ter o interesse de se mover para outro lugar via espaço aéreo. É importante perceber que o fluxo desse turista se iniciou desde antes a sua chegada ao aeroporto, quando precisou de alimentos (objetos) à sua mesa antes de sair de casa e de algum meio de transporte para chegar até o aeroporto. Portanto, empreendimentos diversos (fixos) utilizam energia e recursos naturais para propiciar os fluxos que suscitam as complexas mobilidades contemporâneas.

Freire-Medeiros, B.; Lages, M. P. (2020). A virada das mobilidades: fluxos, fixos e fricções. Revista Crítica de Ciências Sociais, 3, 121-142. https://doi.org/10.4000/rccs.11193

Hannam, K., Sheller, M., & Urry, J. (2006). Editorial: Mobilities, Immobilities and Moorings. Mobilities, 1(1), 1–22. https://doi.org/10.1080/17450100500489189

Tudo aquilo que pode vir a frear ou impedir o pleno funcionamento das mobilidades, podendo também serem chamadas de “atrito”. Ao se pensar no fenômeno turístico, a pandemia de COVID-19 foi a mais recente e longa fricção para as mobilidades turísticas, tendo em vista o protocolo de isolamento social e as políticas de paralisação da sociedade, a fim de impedir a movimentação do vírus causador do sinistro. Por outro lado, as fricções não devem ser encaradas exclusivamente de forma negativa em relação às mobilidades, já que, em tempos comuns, funcionam também a favor de um turismo mais seguro. Por exemplo, as políticas de identificação internacionais como passaportes e vistos, que tem o objetivo de regulamentar a entrada e saída de pessoas nos diferentes países no globo. Apesar de em um primeiro momento o conceito de fricção parecer estar ligado a ideia de diminuir a velocidade/o ritmo de algo (retirando energia), cabe também a ressalva que também deve-se olhar pelo lado de que fricção pode ser responsável pelo aquecimento, isto é por dar ainda mais energia a algo ou fazer o movimento acontecer, uma vez que sem fricção (sem atrito), não há impulso.

Freire-Medeiros, B.; Lages, M. P. (2020). A virada das mobilidades: fluxos, fixos e fricções. Revista Crítica de Ciências Sociais, 3, 121-142. https://doi.org/10.4000/rccs.11193

Lumertz, J.S; Conceição, R. A. M. (2023). Mobilidades, Atritos e Hotspots: um panorama do turismo na América do Sul. In: T. Allis; B. Catalano; C. M. S. Moraes (Eds.). Mobilidades turísticas: debates e estudos contemporâneos. Edições EACH, 39-59. DOI: 10.11606/9786588503324

Refere-se a algo que vai além ao sexo biológico das pessoas (mulher ou homem), abordando também as expectativas e os comportamentos desses indivíduos perante a sociedade. Nos estudos de gênero são analisadas as relações sociais e culturais construídas e marcadas pelas diferenças de sexo, relacionando-as ainda com outras questões demográficas como idade, etnia, nível educacional, sexualidade, possíveis deficiências, entre outras. Assim, os estudos das mobilidades podem analisar as questões de gênero no que concerne ao entrelaçamento das identidades pessoais com os diferentes estágios e ciclos de vida, bem como a diversidade cultural e étnica dos indivíduos, além das performances. Na atualidade, esses estudos têm girado em torno de violência de gênero, uso do tempo, preconceito em ambientes profissionais, distribuição de oportunidades, interseccionalidade, entre outros.

Butler, J. (2002). Gender trouble. routledge.

Jirón, P. (2018). Gênero. Singh, D. Z., Giucci, G., & Jirón, P. Términos clave para los estudios de movilidad en América Latina, Editorial Biblos.

Simakawa, V. V. (2015). Por inflexões decoloniais de corpos e identidades de gênero inconformes: uma análise autoetnográfica da cisgeneridade como normatividade. 244 p. Dissertação (Mestrado Multidisciplinar em Cultura e Sociedade) – Universidade Federal da Bahia, Salvador. Disponível em: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/19685

Referem-se ao conjunto de métodos e técnicas que permitem ao pesquisador “mover-se” junto aos sujeitos, objetos ou outros dados em estudo, justamente para que seja realizada uma observação e/ou análise daquilo que se deseja compreender, o movimento. O que compreende tanto as mobilidades e imobilidades quanto as suas várias manifestações em determinados territórios ou na sociedade de forma geral. Entre os métodos considerados móveis encontra-se, por exemplo, a etnografia, que possibilita a quebra de expectativas por meio da partilha da realidade de vida e todos os aspectos interativos do objeto em estudo, promovendo ao pesquisador a visão holística daquele grupo social, seus costumes e seu território. As técnicas que podem ser utilizadas nesse método são a observação participante, o sombreamento, as entrevistas, entre outras.

Büscher, M. et al. (orgs.). (2011). Mobile methods. Londres, Routledge.

Büscher, M., & Veloso, L. (2018). Métodos Móveis. Tempo Social, 30(2), 133-151. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2018.142258

Carneiro, J., & Allis, T. (2024). Mobilidades, etnografia e turismo: um panorama sobre metodologias etnográficas na literatura. Etnográfica. Revista do Centro em Rede de Investigação em Antropologia.

https://doi.org/10.4000/etnografica.15011

Wood, A. (2016). Tracing policy movements: Methods for studying learning and policy circulation. Environment and Planning A, 48(2), 391–406. https://doi.org/10.1177/0308518X15605329

Referem-se ao conjunto de métodos e técnicas que permitem ao pesquisador “mover-se” junto aos sujeitos, objetos ou outros dados em estudo, justamente para que seja realizada uma observação e/ou análise daquilo que se deseja compreender, o movimento. O que compreende tanto as mobilidades e imobilidades quanto as suas várias manifestações em determinados territórios ou na sociedade de forma geral. Entre os métodos considerados móveis encontra-se, por exemplo, a etnografia, que possibilita a quebra de expectativas por meio da partilha da realidade de vida e todos os aspectos interativos do objeto em estudo, promovendo ao pesquisador a visão holística daquele grupo social, seus costumes e seu território. As técnicas que podem ser utilizadas nesse método são a observação participante, o sombreamento, as entrevistas, entre outras.

Büscher, M. et al. (orgs.). (2011). Mobile methods. Londres, Routledge.

Büscher, M., & Veloso, L. (2018). Métodos Móveis. Tempo Social, 30(2), 133-151. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2018.142258

Carneiro, J., & Allis, T. (2024). Mobilidades, etnografia e turismo: um panorama sobre metodologias etnográficas na literatura. Etnográfica. Revista do Centro em Rede de Investigação em Antropologia.

https://doi.org/10.4000/etnografica.15011

Wood, A. (2016). Tracing policy movements: Methods for studying learning and policy circulation. Environment and Planning A, 48(2), 391–406. https://doi.org/10.1177/0308518X15605329

As mobilidades acadêmicas, também conhecidas como intercâmbios, podem ser consideradas a principal interface visível da internacionalização da educação, abrangendo o deslocamento de docentes, discentes e técnico-administrativos para atividades de ensino, pesquisa e cooperação internacional. Fundamentadas na perspectiva das novas mobilidades de Urry (2007), elas transcendem os aspectos físicos e econômicos, integrando dimensões culturais, afetivas e individuais que transformam essas experiências em dinâmicas globais de aprendizado e inovação. Associadas ao turismo de estudos (BENI, 2001; MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010), essas mobilidades não apenas promovem a circulação de pessoas e ideias, mas também ampliam redes de conhecimento, e promovem trocas sociais, demandando dos participantes habilidades de adaptação e desenvolvimento intercultural (WELLER & REIS, 2022) e permitindo exercícios de tolerância. Dessa forma, contribuem para consolidar a geopolítica do conhecimento e fortalecer a colaboração científica e acadêmica (LIMA & CONTEL, 2011).

Brasil. Ministério do Turismo. (2010). Turismo de estudos e intercâmbio: orientações básicas. Brasília: Ministério do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação Geral de Segmentação.

Beni, M. C. (2001). Análise Estrutural do Turismo, 4ª ed. São Paulo: Editora SENAC São Paulo.

Lima, M. C.; Contel, F. B. (2011). Internacionalização da Educação Superior: Nações ativas, nações passivas e a geopolítica do conhecimento.

Urry, J. (2007). Mobilities. London: Polity.

Weller, W.; Reis, J. (2022). Mobilidade estudantil de universitários oriundos do ensino médio público: experiências com o programa Ciência sem Fronteiras. Pro-Posições [online], 33.

Mobilidades de cultura, refere-se ao intercâmbio e à interação entre diferentes culturas ao longo do tempo e do espaço. É um fenômeno que pode ocorrer durante o processo de migração (interna e externa), envolvendo questões comerciais, turismo, tecnologia, comunicação, mudanças climáticas, entre outros. A apropriação cultural enquanto peça chave, torna-se um fator decisivo para se compreender a importância multicultural que se resulta do movimento de pessoas para outros lugares. Mas não se pode esquecer que as mobilidades de cultura também envolve disputas simbólicas, identitárias e até mesmo comparações que afetam a interação das pessoas e a constituição do território.

Hall, S. (2003). Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG.

Trói, M. (2022). Apropriação cultural, colonialidade e mobilidades no Antropoceno. RELACult – Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura e Sociedade, 8(1), 1-19. https://doi.org/10.23899/relacult.v8i1.2236

O conceito de mobilidades de políticas examina como ideias, modelos e conhecimentos políticos circulam por redes globais e urbanas, moldados por movimentos físicos e simbólicos de atores como governantes, consultores e ativistas. Para McCann (2008), essa circulação ocorre por meio da interação de ideias e expertise que transitam pelas redes sociais globais, transformando-se conforme se adaptam a novos contextos. Peck (2011) descreve esse campo como um debate contínuo, e não um paradigma fixo, voltado para entender os processos de mobilização, transformação e territorialização das políticas. As políticas urbanas não se movem sozinhas; elas dependem de infraestruturas, práticas e relações de poder que orientam sua legitimação ou deslegitimação. Essa abordagem territorial busca entender a circulação de “boas práticas” e os impactos na produção do ambiente urbano (Temenos et al., 2019). Os estudos sobre mobilidades de políticas oferecem uma lente para compreender como ideias e práticas urbanas são concebidas e influenciam diferentes contextos espaciais e temporais.

Jajamovich, G., & Silvestre, G. (2023). Movilidad de políticas urbanas. In Nuevos términos clave para los estudios de movilidad en América Latina. Disponível em: https://www.teseopress.com/terminosclaveparalosestudiosdemovilidadenamericalatina/chapter/movilidad-de-politicas-urbanas/

McCann, E. (2008). Expertise, truth, and urban policy mobilities: Global circuits of knowledge in the development of Vancouver, Canada’s ‘four pillar’ drug strategy. Environment and Planning A, 40(4), 885–904. Disponível em: https://doi.org/10.1068/a38456

Peck, J. (2011). Geographies of policy: From transfer-diffusion to mobility-mutation. Progress in Human Geography, 35(6), 773–797. Disponível em: https://doi.org/10.1177/0309132510394010

Peck, J., & Theodore, N. (2010). Mobilizing policy: Models, methods, and mutations. Geoforum, 41(2), 169–174. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.geoforum.2010.01.002

Temenos, C., Baker, T., & Cook, I. R. (2019). Inside mobile urbanism: Cities and policy mobilities. In Handbook of Urban Geography (pp. 103–118). Edward Elgar Publishing. Disponível em: https://doi.org/10.4337/9781785364600.00016

O movimento pode ser compreendido como uma ação que, quando imbuído de algum significado, torna-se uma mobilidade. Neste sentido, o significado dos movimentos pode variar de acordo com o contexto em que está inserido. Por exemplo, o movimento de andar pela praia pode significar um momento de lazer e descanso para um visitante ou turista, enquanto significa trabalho para um vendedor ambulante ou salva-vidas no exercício de seus trabalhos. Destarte, a mesma ação, andar, no contexto de uma floresta, pode significar lazer, mas também um esporte ou busca por contato com a natureza. Sobretudo, para que sejam de fato considerados mobilidades, os movimentos também podem ser imbuídos de políticas e práticas, disseminando mensagens para além de seus próprios significados.

Do ponto de vista do movimento, deve-se considerar tanto a ação que provoca a mobilidade quanto aquela(s) que interrompe(m) ou diminui(em) o(s) movimento(s). A falta e/ou a parada do movimento também merecem análise, uma vez que são aspectos fundamentais para compreender o fenômeno como um todo.

Adey, P. (2010). Mobility. London/New York: Routledge.

Adey, P., Bissell, D., Hannam, K., Merriman, P., & Sheller, M. (2014). The Routledge Handbook of Mobilities. (First ed.) Routledge.

A motilidade é o potencial de mover ou ser movido. Trata-se de forma de capital altamente estratégica, nos níveis micro, intermediário e macro. Esse construto surge da necessidade de estabelecer pontes entre a mobilidade espacial, que pressupõe deslocamento geográfico, e a mobilidade social, que tem a ver com mudança social. Ideia amplamente utilizada na Biologia e na Medicina, motilidade é a capacidade em que os bens, informações ou pessoas são móveis no mundo social e no espaço geográfico. Os elementos fundantes da motilidade são: acesso (ligado a tempo, espaço e outras circunstâncias), competências (habilidade física das entidades em geral, organizações e normas) e apropriação (o modo como agentes interpretam e agem perante acesso e competências). A ideia de motilidade pode ser aproximada das noções de ‘virtualidade’, do ‘tornar-se’ ou do ‘vir-a-ser’. Entretanto, a motilidade é distribuída de modo marcadamente desigual, participando de relações de poder, e encontra-se na interseção mobilidade-imobilidade.

Kaufmann, V., Bergman, M. M., & Joye, D. (2004) Motility: Mobility as Capital. International Journal of Urban and Regional Research, 28(4), 745-756.

Leivestad, H. H. (2016). Motility. In Salazar, N. B. & Jayaram, K. (eds) Keywords of Mobility: Critical Engagements (pp. 133-151) New York: Berghahn Books.

Nome dado aos indivíduos adeptos ao nomadismo, um estilo de vida em que a mobilidade e migração contínua são centrais. São pessoas ou grupos caracterizados pelos constantes deslocamentos em busca de espaços temporários para alimentação, alojamento e outras necessidades básicas. Em tempos ancestrais esses indivíduos não se instalavam em lugar algum por muito tempo e dependiam da caça e criação de animais para se alimentar. Contudo, na atualidade, o estilo de vida se adaptou e devido ao surgimento das Tecnologias da Informação e Comunicação surgiram os chamados nômades digitais. Esses indivíduos buscam espaços em que possam trabalhar remotamente, enquanto nos momentos de lazer possam conhecer novos lugares, culturas e compartilhar experiências. Portanto, buscam destinos turísticos que oferecem conectividade e boa infraestrutura turística.

Castro, N., & Gosling, M. (2022). A personalidade de nômades digitais: proposta de um framework teórico. Revista Acadêmica Observatório de Inovação do Turismo, 16(2), 68–83. https://doi.org/10.17648/raoit.v16n2.6853

Heiskanen, J., MacKay, J., Neumann, I. B., Wigen, E., Eskild, I., Hall, M., … Kappes, F. (2024). Nomads and international relations: post-sedentarist dialogues. Cambridge Review of International Affairs, 1–35. https://doi.org/10.1080/09557571.2024.2426782

Termo desenvolvido pelo autor John Urry (1946-2016), refere-se ao modo, geralmente padronizado, que os turistas observam os destinos turísticos que conhecem ou desejam conhecer. Tal forma de olhar é construída e contextualizada socioculturalmente, ou seja, varia “de acordo com a sociedade, grupo social e o período histórico” (p. 29). Esse olhar é geralmente contrastado com aquilo que não é turístico, especialmente dentro de casa e no trabalho. Apesar da centralidade no consumo visual do termo ‘olhar’, é importante salientar que a experiência turística é vivenciada por todos os sentidos. O olhar organiza todo o cenário, mas é por meio também de aromas, sons, sabores e toques físicos que a experiência ocorrerá de forma completa para os turistas que anseiam por tudo aquilo que é desconhecido durante suas viagens.

Pereira, A. (2018). O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. Ideação, [S. l.],4(1), p. 133-138. DOI: 10.48075/ri.v4i1.20322

Urry, J. & Larsen (2021). O Olhar do Turista 3.0. São Paulo: Sesc.

Nas últimas duas décadas, tem se consolidado um campo de estudo voltado para as mobilidades, promovendo uma mudança paradigmática na maneira de compreender o mundo. Essa transformação, conhecida como “virada das mobilidades”, introduz novas questões, reformulações teóricas e avanços metodológicos, ampliando a análise de fenômenos a partir de movimentos, não movimentos e das interseções entre esses aspectos aparentemente opostos. Ao desafiar os olhares tradicionais, o estudo das mobilidades oferece perspectivas inovadoras sobre as dinâmicas sociais e espaciais, possibilitando uma compreensão mais abrangente e integrada de fenômenos contemporâneos e abrindo caminhos para novas problematizações (Sheller & Urry, 2006).

Allis, T. (2016). Em busca das mobilidades turísticas. Plural, 23(2), 94-117. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2176-8099.pcso.2016.125112

Allis, T., Moraes, C. M. dos S., & Sheller, M. (2020). Revisitando as mobilidades turísticas: . Revista Turismo Em Análise, 31(2), 271-295. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v31i2p271-295

Sheller, M., & Urry, J. (2006). The new mobilities paradigm. Environment and Planning A, 38(2).

O termo pode ser compreendido de forma ambígua no turismo, sendo amplamente analisada sob uma perspectiva gerencial do fenômeno. Contudo, a performance representa também uma chave analítica para as relações entre turismo e cultura, sob um olhar geralmente direcionado aos anfitriões, também aplicado aos turistas. A ideia de performatividade dá ênfase à inconclusão, incerteza e imprevisibilidade dos cursos de ação. Essas relações são analisadas com base nos comportamentos, representações e, principalmente, nas encenações dos indivíduos que recebem, ou são recebidos, em um determinado destino turístico. Essas características são reforçadas pelo engajamento ativo dos turistas durante as atividades da viagem, exigindo uma mobilidade humana, ou seja, que seus corpos interajam com o ambiente e transmitam, reproduzam e transformem um determinado espaço. Há uma série de performances, desde as mais conformistas, até as mais conformadoras. A performance delimita a agência dos turistas e confere conteúdo aos lugares turísticos.

Edensor, T. (2001). Performing tourism, staging tourism: (Re)producing tourist space and practice. Tourist Studies, 1(1), 59-81.

Kunz, J. G. (2023). Revisitando performances como oportunidades para o estudo das mobilidades turísticas. Rosa dos Ventos, 15(4), 1085-1104.

Termo originado de ryhtmos em grego e vinculado ao verbo fluir (rhein), que pode ser analisado por diferentes áreas de conhecimento ou ciências. No caso da Biologia, refere-se aos movimentos medidos e repetidos do corpo humano, por exemplo, a respiração, o processo digestivo e a circulação sanguínea. Nas artes, relaciona-se com a música, a poesia, a dança, e tudo aquilo que apresenta um ciclo de movimentos e pausas, frequências e repetições com durações particulares. Quando observado pela lente teórica das mobilidades, o ritmo é relacionado às interações entre um lugar, um tempo e a energia investida nesse contexto. No caso do turismo, é possível analisar os diferentes ritmos de vida nos destinos visitados e compará-los de acordo com as interações supracitadas. No caso de ambientes urbanos, por exemplo, a quantidade de energia e interações solicitadas para a continuidade ritmada das mobilidades dos residentes e turistas é superior aos ambientes rurais.

Cresswell, T. (2023). The rhythm of place and the place of rhythm: arguments for idiorhythmy. Mobilities, 18(4), 666–676. https://doi.org/10.1080/17450101.2023.2213407

Zunino, D. (2018). Ritmo. Singh, D. Z., Giucci, G., & Jirón, P. Términos clave para los estudios de movilidad en América Latina, Editorial Biblos.

Compete ao modo com que as relações sociais são organizadas temporal e espacialmente. Nos estudos de mobilidade, as redes podem ser entendidas de duas formas: tecnológica e organizacional. As primeiras são relacionadas às infraestruturas, isto é, ao conjunto de dispositivos articulados de um lugar, por exemplo, as redes de transporte, de energia, de água, de comunicação, entre outras essenciais para a manutenção da atual sociedade móvel. Com relação às redes organizacionais, destacam-se as redes políticas, que exercem papel fundamental na organização dos territórios em que atuam, desenvolvendo legislações e operando políticas públicas, a fim de manter a ordem e segurança da população local. No contexto turístico, existem órgãos específicos como o Ministério do Turismo, que tem a função de desenvolver o turismo como uma atividade econômica sustentável enquanto promove a inclusão social.

Allis, T., Moraes, C. M. dos S., & Sheller, M. (2020). Revisitando as mobilidades turísticas. Revista Turismo Em Análise, 31(2), 271-295. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v31i2p271-295

Blanco, J. (2018). Redes. Singh, D. Z., Giucci, G., & Jirón, P. Términos clave para los estudios de movilidad en América Latina, Editorial Biblos.

Campo de estudos que emprega sistemas e modelos a fim de alcançar uma visão geral da temática, bem como as especificidades de suas partes. Os transportes são estruturas móveis que permitem os fluxos de objetos e pessoas, e costumam ser categorizados da seguinte forma: aéreo (aviões, helicópteros, etc.), férreo (trens e metrôs), aquaviário (embarcações de variados portes como lanchas, cruzeiros, etc.) e rodoviário (carros, motocicletas, ônibus, trailers, etc.). Tem-se que o desenvolvimento e a evolução dos meios de transportes foram o principal propulsor do fenômeno turístico, considerando que esses objetos permitiram a quebra de barreiras, principalmente a distância, entre os turistas e os destinos que desejavam visitar. Além disso, os transportes possibilitaram a distribuição de recursos de forma mais efetiva e eficaz nas escalas regional, nacional e internacional.

Fraga, C., Lohmann, G., Santos G., & Allis, T. (2013). Destinos turísticos e transportes: aspectos teóricos e estado da arte. Lohmann, G., Fraga, C., & Castro, R. Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão, Editora Elsevier.

Lohmann, G.; Fraga, C.; Castro, R. (Orgs). (2013). Transportes e destinos turísticos: planejamento e gestão. Rio de Janeiro: Elsevier.