Recomeço
Na verdade, nenhum começo é passível de ser revivido porque é da característica mais específica e inalienável dos começos a irrepetível sensação de se habitar um instante suspenso no tempo: aquele imediatamente anterior a se realizar algo pela primeira vez. Infalivelmente presente e incapturavelmente fugaz em todas as suas facetas, é uma sensação que carrega em si tamanha ligeireza que, por vezes, é só depois de passadas horas, dias ou até meses é que nos damos conta do quão raro foi aquele momento. E, nisso, ela já repousa inalcançável, longe do esforço de qualquer suposto acaso ou até da mais potente memória. Pois que ela, a memória, nos traz a lembrança de um sentimento, mas jamais retraz a coisa em si.
Ainda assim, por escolha ou condição, nos pegamos voltando vez após vez para lugares mesmos, pessoas mesmas, hábitos mesmos. Talvez na distância de horas, talvez de dias, talvez de meses, anos ou talvez de algo que seja até mais que isso. Mas retornamos.
E parece que, nessas horas, nossa verdadeira missão é sentir que realmente viver é ser outro ou quem sabe apenas tentar descobrir o que, afinal, quer dizer a palavra mudança. E aí, no meio disso tudo, seguimos em frente, esperando apenas o mais novo dos retornos para realizar quando for chegada a hora.
Texto por Mariana R. Stefani
Cada segundo o mundo tem mais saudade.
– Pedro Viáfora
Uma a uma apagaremos
as estrelas de mentira
Removeremos dos caminhos o lixo
e os entraves
Abraçaremos as lavras, sacudiremos
dos livros a poeira.
Nenhum vestígio dos altares erguidos
a deuses absurdos.
Recomeçamos – artesãos da nossa redenção.
– Conceição Lima